Cine Café – Filme A Busca mostra viagem à autodescoberta e perdão familiar
março 30, 2013
Na estrada, um pai de desesperado
procura pelo filho. Ele sai do carro sujo, ferido e completamente desorientado.
O filho havia sumido. Em seguida, o espectador é levado para alguns dias atrás
que culminaram neste desfecho trágico, no filme A Busca. É
quando o público é apresentado, de forma mais ampla, ao médico Theo Gadelha (Wagner
Moura), um pai super protetor que sufoca a esposa dele, a médica psiquiatra
Branca (Mariana Lima) e o filho deles de 15 anos, Pedro (Brás Antunes).
Em meio a esta desestruturação familiar,
um casal que está no início do divórcio, o menino deles desaparece. Disse que
ia viajar com um amigo, mas era tudo mentira. O filho de Theo e Branca some,
justamente, no dia do próprio aniversário. Os pais ficam desesperados, mas em
nenhum momento, acionam a polícia ou procuram entender o universo do qual Pedro
se sentia sufocado. A partir daí, o pai-herói trava uma caçada em busca do
filho, no melhor estilo road trip movie (em português, filme de viagem pela estrada). Assista o
trailer:
Tanto no trailer, quanto nas
primeiras cenas do longo A Busca (2013),
a direção do filme tenta pregar uma peça no público de que haveria acontecido
algo muito grave, tipo um sequestro, um rapto, talvez até tráfico humano.
Talvez pelo fato do espectador esteja acostumado com a figura de Wagner Moura
em um filme de ação, haja esse tipo de expectativa. Na verdade, a busca que dá
título ao filme é mais filosófica. Trata-se de uma viagem à autodescoberta, um acerto
de contas emocional entre avó, pai e neto.
Mas, para que este perdão possa
acontecer, uma viagem é imposta ao destino de Theo. De modo muito denso, ele
vai ter descobrir pistas e juntá-las até encontrar o filho no Espírito Santo
que, às escondidas, vinha trocando correspondências com o avó paterno para o
desespero total de Theo que estava há anos sem falar com o seu pai, vivido por
Lima Duarte.
Veja também:
O filme dirigido por Luciano Moura
vai pelo caminho do drama familiar e força a barra em algumas situações com o
intuito de propor um certo ar de mistério quando, na verdade, mostra que a
história não foi bem amarrada no início do filme. Particularmente, não gostei
da falta de transparência com que o filme é apresentado no trailer ou nas cenas
finais. Tudo acontece muito rápido.
Há uma clara tentativa de vender um
drama por um filme de ação, sem que haja necessidade para tal. Faltou
sensibilidade no roteiro de Elena Soarez para elevar a carga dramática desse
acerto de contas entre as três gerações de homens da mesma família. As cenas de
drama foram mais compactas do que as cenas de ação.
O filme A Busca fala de uma busca interior de um pai que não entende o
filho e isso se repete na próxima geração, em contextos diferentes. Chega a ser
poético o modo como o pai sai em busca do filho pela estrada, sem rumo, só em
pistas de quem viu ou esteve perto do garoto. Outro ponto bonito do filme é o
modo como pai e filho traçam suas aventuras particulares. Pedro vai até a
zoonose da cidade e adota um cavalo preto para levar de presente ao avô.
Theo, assim como o filho, corta dois
estados brasileiros até chegar ao Espírito Santo. Eles conhecem o interior do
país, veem pessoas muito humildes. Gente que pela miséria e alienação tem
dificuldade de se expressar quando são questionadas a sair do padrão comum de
respostas. Theo e Pedro são de classe média alta e se deparam com uma pobreza
dura, mas que ensina a ambos dignidade, desapego e solidariedade.
Em um momento em que o cinema
brasileiro é quase monotemático – ou violência extrema ou comédia juvenil, A Busca resgata o cinema dramático com
personagens densos que crescem emocionalmente no decorrer das cenas, sem a
pretensão de querer passar uma mensagem ou uma lição de moral em meio a
reconciliação. A Busca mostra o
cotidiano de muitas famílias que repetem os mesmos erros da geração anterior, a
falta de diálogo e a intolerância. Sem ser piegas, o filme mostra que viver em
família também é saber perdoar. E quem perdoa consegue um passe livre para
seguir a diante.
Fotos: O2 Films / Reprodução.
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Jornalista
2 comentários
Tenho um pé atrás com esse Wagner Moura, ainda acho que ele não pegou um bom papel na TV e nos cinemas. Ele ainda é muito marcado como Capitão Nascimento. Mas fiquei curioso em ver o filme por conta do acerto de contas familiar. Abraço
ResponderExcluirEu assisti esse filme. Não que ele seja ruim, mas é igual vc falou. A gente se sente traído por conta da expectativa de ação que é colocada. Achei o final muito bonito! Parabéns pela resenha. Beijos
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