Cine Café – Filme Django Livre e a valorização da cultura negra
fevereiro 23, 2013
Das muitas tragédias sociais que a
humanidade já viveu, a escravidão dos negros africanos que vieram de forma abrupta
para os países recém-criados do continente americano tenha sido um dos
episódios mais doloridos da nossa história recente. Tratados como mercadorias,
os negros eram humilhados e forçados a fazer os mais variados tipos de serviço,
desde o trabalho braçal nas lavouras, na mineração, na construção civil e naval
e, principalmente, no serviço doméstico.
Mesmo após a escravidão, os negros
recém-libertos foram condenados a ficar à margem da sociedade, na miséria e na
ignorância. As chagas deixadas por esta época estão até hoje na nossa
sociedade, seja pelo racismo ou até mesmo pelo apartheid socioeconômico. Muita coisa já mudou, mas muita coisa ainda
precisa ser feita. E indústria cultural tem um papel importante neste processo,
pois esta história precisa ser contada como uma forma das novas gerações
aprenderem com os erros do passado.
No cinema, são poucos os filmes da
ala comercial que se arriscam a retratar este capítulo da escravidão de forma
nua e crua. Nas mãos do ousado diretor norte-americano Quentin Tarantino, o
terror da escravidão e o lirismo do faroeste (western spaghetti) de Sergio Leone são os ingredientes principais
do filme Django Livre, que concorre
a cinco indicações ao #Oscar2013: Melhor
Filme, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Roteiro Original, Melhor Fotografia e
Melhor Edição de Som.
O diretor norte-americano Quentin Tarantino faz uma participação em Django Livre. |
A trama se passa no século XIX, dois
anos antes da Guerra Civil dos Estados Unidos. Django Freeman (Jamie Foxx) é um escravo cuja liberdade é comprada
pelo dentista alemão Dr. Schultz (Christoph Waltz), que decidiu dar uma pausa
no ofício para se tornar um caçador de recompensas. Com a ajuda de Schultz, Django se torna o “gatilho mais rápido
do Oeste” e, tempos depois, vai em busca da esposa Brünhilde (Kerry
Washington), que foi vendida para o cruel fazendeiro de algodão Calvin Candie
(Leonardo DiCaprio).
De forma bastante realista, bem
humorada e repleta de sarcasmo, Tarantino transforma Django em uma das suas melhoras filmagens ao homenagear os clássicos
do faroeste e, principalmente, lembrar a sociedade da crueldade que os negros
já foram submetidos um dia. Tarantino é um cineasta único, que faz questão de
homenagear o cinema em seus filmes. Em Django,
o próprio se arrisca como ator fazendo uma participação especial e recria com
bastante maestria o sadismo dos senhores de escravos. Assista o trailer:
Crítica
De todos os filmes indicados para o #Oscar2013, Django Livre foi o que mais me chamou atenção não só pela sua
história, mas porque é um filme que consegue discutir História com o
telespectador sem ser didático, apenas recontando episódios da cultura
norte-americana das quais os negros, de um modo geral, precisam ser orgulhar
por terem vencido esta etapa.
Nos Estados Unidos, Django é um filme bastante polêmico
porque faz toda a sociedade a olhar para o passado e tocar em pontos que até
hoje não foram bem resolvidos. Tarantino, de modo brilhante, optou por usar o
termo “nigger” – uma forma pejorativa como os brancos se referiam os escravos
naquela época. Além disso, como todo bom anti-heroi, Django não tem a
preocupação ética de ajudar outros escravos a conquistarem a sua liberdade.
Pelo contrário, ele trava uma batalha pessoal em busca de salvar a sua doce
esposa das mãos do primeiro vilão dos Cinemas de Leonardo DiCaprio.
- Django Livre é um filme cheio de metalinguagens
- Tarantino recria um faroeste-espaguete
- Spike Lee diz que o filme Django é desrespeitoso
- Django Livre é um spaghetti bem servido!
- Tarantino não economiza munição em Django
De modo muito particular, Django consegue “vingar” todos os
escravos ao realizar uma chacina de fazendeiros e feitores brancos que, por
prazer, maltratam de forma desumana os negros. O filme ainda relata dois pontos
de crueldade: a primeira é “luta de mendigos”, onde os escravos mais fortes
eram convocados a lutarem até a morte com os outros escravos apenas pelo prazer
dos seus senhores que faziam apostas entre si de quem iria ganhar a luta; e a
segunda é a humilhação da mulher negra que era condenada à exploração sexual de
forma misógina e cruel.
Django é um dos melhores filmes desta
temporada e o seu roteiro abusa de elementos da cultura pop e de metalinguagem,
seja tratando de modo indireto a Ku Klux
Klan, seja na provocação da cena final do filme de que os escravos não
foram tão submissos quanto à História ainda teima em demonstrar. Houve revoltas
e muitas famílias de senhores de escravos completamente dizimadas por conta da
crueldade que tratam os seus “gentis”. Tarantino
não faz um filme violento, mas sim um retrato social de uma época onde a
violência reinava de forma crua e vil, da qual nem todo mundo está preparado
para entender, ou melhor: fingi que nem existiu.
Fotos: Sony Pictures / Divulgação.
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Jornalista
5 comentários
Estava esperando a sua crítica sobre Django. Quando assisti o filme lembrei de um outro artigo seu sobre "Lado a Lado" e a escravidão no Brasil. Django é o melhor filme de Tarantino!
ResponderExcluirEsse é meu favorito ao Oscar, Jammie Fox arrasou!
ResponderExcluirSaí do cinema com a sensação de que o ingresso valeu a pena como a muito tempo não me acontecia. Um dos melhores filmes que já vi esse ano, quem não viu, assista. vale muito a pena.
ResponderExcluirWander, como sempre uma ótima resenha de filmes aqui no blog. Ainda não assisti Django mais fiquei com vontade de prestigiar esse filme nos cinemas.
ResponderExcluirNa minha avaliação, Django é o melhor heroi negro tratado nos filmes americanos até hoje. Fazia tempo que não ficava tão interessado em um filme quanto fiquei neste. Merece ganhar em toadas as categorias que concorre. Pena que o Jamie Foxx não está concorrendo também ao Oscar de Melhor Ator. O cara é foda!
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