#Crônica: Carta de Amor ao amor-próprio e ao sincretismo da Fé
dezembro 22, 2012
Fé. Palavra curta e tão grande ao
mesmo tempo. Eu acredito. Você acredita? Eu acredito em muitas coisas. Mas o
que me move e me dá forças para seguir sempre em frente é a Fé. Palavra que não
tem religião, mas que tem poder. Que nos faz acreditar em nós mesmos e em mundo
melhor. Eu tenho fé em dias melhores. Tenho fé na vida. Fé que me dá forças
para agradecer tudo aquilo que conquistei e que me conforta nos momentos difíceis.
E são nas dificuldades, no meio do Jogo da Vida, que um golpe inesperado
pode nos fazer cair. É daí que a Fé vira porto-seguro, espada e escudo. É
preciso acreditar em você mesmo e levantar de cabeça erguida. Ninguém é melhor
do que ninguém. Não aceite julgamentos precipitados. Palavras que ferem jogadas
ao vento. Palpites de quem não quer ver o seu sucesso, mas apenas a sua dor. O
sonho não pode acabar, mesmo quando a gente achar que é necessário chegar ao
fim para escrever um novo começo.
“Não mexe comigo...que eu não ando só. Eu não ando só”, já dizia o verso da música Carta
de Amor, de Maria Bethânia. A música é um poema de amor, de exaltação ao
amor-próprio, da beleza do sincretismo brasileiro. Os versos são um hino tão
forte que conforta a nossa alma.
A música fala dos nossos guias de fé, dos
muitos rituais que temos no nosso dia para entrar em conexão com o Divino e não
nos deixar abater. É um canto tão bonito que gostaria de dividir com você que
entra aqui no blog todos os dias. Somos o maior elo com o Universo. Somos amor.
Somos Fé. Somos Força. Estamos juntos e misturados.
Quando alguém mexer contigo, lembre-se: você não está sozinho. O que bate, volta. Deus está contigo. Assista ao vídeo e acompanhe a
letra da música abaixo:
Carta de Amor
Maria Bethânia
Não
mexe comigo...que eu não ando só!
Eu
não ando só, que eu não ando só....
Não
mexe, não!
Não
mexe comigo...que eu não ando só!
Eu
não ando só, que eu não ando só....
Que
eu não ando só, que eu não ando só....
Eu
tenho Zumbi, Besouro e o Chefe dos Tupis.
Sou
Tupinambá. Tenho os Erês, o Caboclo Boiadeiro e mãos
de cura. Morubichabas, cocares, arco-íris, zarabatanas, curares, flechas e
altares. A
velocidade da luz no escuro da mata escura. O
breu, o silêncio e a espera.
Eu
tenho Jesus, Maria e José.
Todos
os Pajés em minha companhia.
O Menino
Deus brinca e dorme nos meus sonhos.
O
poeta me contou.
Não
mexe comigo...que eu não ando só!
Que
eu não ando só, eu não ando só.
Não
mexe, não!
Não
mexe comigo...que eu não ando só!
Eu
não ando só.....eu não ando só.
Não
misturo. Não me dobro.
A Rainha
do Mar anda de mãos dadas comigo.
Me
ensina o baile das ondas e canta, canta, canta pra mim.
É
do ouro de Oxum que é feita a armadura que guarda o meu corpo, garante meu
sangue, minha garganta.
O
veneno do mal não acha passagem.
E em
meu coração, Maria ascende sua luz e me aponta o caminho.
Me
sumo no vento, cavalgo no raio de Iansã.
Giro
o mundo. Viro, reviro. Estou no Recôncavo.
Estou
em Fêz...vôo entre as estrelas, brinco de ser uma.
Traço
o Cruzeiro do Sul com a tocha da fogueira de João Menino.
Rezo com as Três
Marias.
Vou
além: me recolho no esplendor das nebulosas, descanso nos vales, montanhas. Durmo
na forja de Ogum.
Mergulho
no calor da lava dos vulcões: corpo vivo de Xangô.
Não
ando no breu, nem ando na treva.
Não
ando no breu, nem ando na treva.
É
por onde eu vou que o Santo me leva.
É
por onde eu vou que o Santo me leva.
Não
ando no breu, nem ando na treva.
Não
ando no breu, nem ando na treva.
É
por onde eu vou que o Santo me leva.
É
por onde eu vou que o Santo me leva.
Medo,
não me alcança.
No
deserto me acho.
Faço
cobra morder o rabo e escorpião virar pirilampo.
Meus
pés recebem bálsamos: unguento suave das mãos de Maria, irmã de Marta e Lázaro,
no Oásis de Bethânia.
Pensou
que eu ando só?
Atente
ao tempo!
Não comece, nem termine. É nunca. É sempre.
É
tempo de reparar...na balança de nobre cobre que o rei equilibra. Fulmina
o injusto. Deixa
nua a justiça.
Eu
não provo do teu fel, eu não piso no teu chão.
E
pra onde você for não leva o meu nome não.
Não
leva o meu nome não.
Aonde
vai valente?
Você
secou. Seus olhos insones secaram.
E não venha brotar a relva que cresce livre e verde, longe da tua cegueira. Seus
ouvidos se fecharam a qualquer música, a qualquer som. Nem
o bem, nem o mal, pensam em ti, ninguém te escolhe.
Você
pisa na terra. Mas não sente, apenas pisa.
Apenas
vaga sobre o planeta.
Já
nem ouve as teclas do teu piano.
Você
está tão mirrado que nem o Diabo te ambiciona, não tem alma. Você
é o oco, do oco, do oco, do sem fim...do mundo.
O
que é teu já está guardado,
Não
sou eu que vou lhe dar.
Não
sou eu que vou lhe dar,
Não
sou eu que vou lhe dar
Eu
posso engolir você só pra cuspir depois.
Minha
fome é matéria que você não alcança.
Desde
o leite do peito de minha mãe, até o sem fim dos versos, versos, versos, que
brota do poeta em toda poesia sob a luz da lua que deita na palma da inspiração
de Caymmi.
Se
choro quando choro e minha lágrima cai é para regar o capim que alimenta a
vida. Chorando
eu refaço as nascentes que você secou. Se
desejo, o meu desejo faz subir marés de sal e sortilégio. Vivo
de cara pra o vento na chuva. E quero me molhar....
O
terço de Fátima e o cordão de Gandhi, cruzam o meu peito.
Sou
como a haste fina que qualquer brisa verga, mas que nenhuma espada corta.
Não
mexe comigo, que eu não ando só.
Eu
não ando só, que eu não ando só...
Não
mexe, não!
Não
mexe comigo, que eu não ando só.
Eu
não ando só, que eu não ando só...
Não
mexe comigo!
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Jornalista
5 comentários
Nossa, eu estou emocionada com a letra desta música da Maria Bethânia. Não conhecia. Coisa mais linda! Adorei o texto, adorei tudo. Uma salva de palmas!!!
ResponderExcluirO que mais me encanta em Bethânia é o resgaste que ela faz da cultura africana através da poesia. Não foi a toa que o poema musicado lhe rendeu esta ótima crônica. É inspirador, sem dúvida.
ResponderExcluirMuito lindo isso que você escreveu, Wander. Adorei a sua explicação de fé. Beijos
ResponderExcluirSou da mesma opinião de ti. Acredito que a fé tem um poder enorme e que não precisa estar ligada a nenhuma religião. Ouvir Bethânia cantando e declamando esta Carta de Amor ao sincretismo brasileiro é inspirador e deixou meu dia mais feliz.
ResponderExcluirDá-lhe Bethânia com os seus tambores e cantos que elevam a nossa alma aos nossos ancestrais africanos. Já escutei a música-poema umas mil vezes....me apaixonei por esta Carta de Amor. Excelente post, Wander. Parabéns!
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