Crise no Paraguai – Golpe ameaça a permanência da democracia
junho 24, 2012
Depois
de Honduras, agora é a vez do Paraguai
viver um Golpe de Estado. A ação,
que durou um pouco mais de 24 horas, foi orquestrada pelo Congresso e Senado paraguaio e destituiu Fernando Lugo da presidência daquele país. No lugar dele, foi empossado o vice, Federico
Franco, que já havia rompido a aliança política com Lugo, logo no início do
mandato.
De forma rápida e rasteira, no dia 21 de junho, o Congresso paraguaio aprovou, de modo quase unânime (73 votos a 1), o pedido de
impeachment de Lugo. No dia seguinte, o Senado julgou o processo por 39 votos a 4. O desgaste entre o parlamento e o
executivo paraguaio é antigo e vem desde a época em que um bloco de partidos se
uniram para tirar o Partido Colorado do poder em 2008, mostrando que nem toda aliança política é confiável.
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O
Legislativo viu uma oportunidade de destituir Lugo após as 17 mortes ocorridas durante
um confronto entre policiais e Sem-Terras, numa área rural de Cuaraguaty, no
Paraguai. Além disso, o presidente deposto vinha de uma conturbada crise institucional,
segundo o parlamento. Fora o recente massacre na zona rural, o ex-presidente
também enfrentou problemas pessoais. Foi obrigado a assumir a paternidade de
dois filhos que teve quando ainda era religioso e enfrentou um tratamento para
combater um câncer linfático.
Ex-bispo
da Igreja Católica, Fernando Lugo foi eleito em 2008 graças a uma aliança
entre partidos de direita e esquerda [algo semelhante que aconteceu nas
eleições municipais de Belo Horizonte, Minas Gerais] que queria por fim a
hegemonia de 60 anos do Partido Colorado. Mas, pouco tempo depois que assumiu o
governo do Paraguai, a aliança foi desfeita pelo fato da direita acusa-lo de
favorecer a implantação da reforma agrária e fomentar programas sociais de
forma populista.
Após
ser destituído do cargo, Lugo declarou que se submetia à decisão do Congresso por respeitar as leis do seu país,
mas afirmou que “os princípios da defesa foram desrespeitados de forma covarde
e grave”. O ex-presidente lembrou ainda que sempre atuou de acordo com a lei e
no fim agradeceu pelo apoio de todos. Alemanha, Espanha e o Vaticano já
reconheceram o novo governo de Frederico Franco. Já a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, decidiu retirar seu embaixador do Paraguai, como protesto à cassação sumária do ex-presidente.
Já a presidente Dilma Rousseff, se reuniu, na
noite deste sábado (23), no Palácio da Alvorada, com o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota; os ministros da
Defesa, Celso Amorim, e de Minas e Energia, Edison Lobão, para discutir a
situação política no Paraguai. Ainda no sábado, o Itamaraty divulgou nota
condenando como “rito sumário de destituição do mandatário do Paraguai,
decidido em 22 de junho, que não foi adequadamente assegurado o amplo
direito de defesa”.
Na
nota, o governo brasileiro considera que o procedimento adotado pelo parlamento
paraguaio “compromete o pilar fundamental da democracia, condição essencial
para a integração regional”. O documento diz ainda que medidas serão aplicadas
e avaliadas pelos parceiros do Mercosul e UnaSul, mas que o “governo brasileiro
ressalta que não tomará medidas que prejudiquem o povo irmão do Paraguai”.
Enquanto isso, o novo governo paraguaio utiliza a Usina de Itaipu para blefar com o Brasil, numa manobra bastante perigosa para impor o reconhecimento do presidente Frederico Franco. O Golpe no Paraguai é mais perigoso [para o Brasil] do que se imagina e caberá ao governo brasileiro bastante diplomacia para contornar a crise que fragiliza ainda mais a situação da América Latina.
A impressão que fica é que o legislativo paraguaio só foi se dar conta da ação aos 45 do segundo tempo, e não mediu os impactos internacionais. O blefe maior foi orquestrar o golpe no final da Rio+20, numa tentativa de desviar o foco. Só que o tiro saiu pela culatra. Prova disso é que mesmo que o legislativo encontre brechas técnicas na lei para propor um impeachment e assegurá-lo de modo legal, os países do Mercosul e UnaSul não viram a ação com bons olhos. Vem aí chumbo grosso. Ao que parece, essa história está apenas começando.
A impressão que fica é que o legislativo paraguaio só foi se dar conta da ação aos 45 do segundo tempo, e não mediu os impactos internacionais. O blefe maior foi orquestrar o golpe no final da Rio+20, numa tentativa de desviar o foco. Só que o tiro saiu pela culatra. Prova disso é que mesmo que o legislativo encontre brechas técnicas na lei para propor um impeachment e assegurá-lo de modo legal, os países do Mercosul e UnaSul não viram a ação com bons olhos. Vem aí chumbo grosso. Ao que parece, essa história está apenas começando.
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Jornalista
1 comentários
Parabéns pela reportagem, meu caro. O grande problema dessa crise do Paraguai são as relações comerciais com a Usina de Itaipu. Como vc disse, essa história ainda vai render muito.
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