Reportagem especial – Caso Chevron sobre o vazamento de óleo na Bacia de Campos

novembro 29, 2011

Mancha de óleo provocada pelo vazamento no poço da Chevron na Bacia
de Campos, no norte fluminense. Foto: Agência Brasil / Divulgação.

Desde o dia 07 de novembro, foi detectado um vazamento de óleo na Bacia de Campos, em Campo de Frade, no Rio de Janeiro. O acidente aconteceu na plataforma Sedco706, utilizada pela empresa petrolífera norte-americana Chevron. O blog apurou que o petróleo escapou por uma fissura de aproximadamente 300 metros de extensão, a 1,2 mil metros de profundidade e a 130 metros do poço de perfuração. O acidente derramou cerca de 440 mil litros de petróleo, o equivalente a 2,4 mil barris.

Mesmo com a contenção do vazamento, os danos ambientais no litoral do Rio podem ser bastante desastrosos. Ao entrar em contato com o mar, o petróleo contamina as águas provocando a morte de plantas e animais marinhos, como peixes e corais. Além disso, contamina o solo fazendo com que o local se torne improdutivo e/ou tóxico, pois o óleo, muitas vezes, fica preso nas rochas por algum tempo.

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Apenas no dia 21 de novembro, o presidente do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente), Curt Trennepohl, veio a público informar que o vazamento havia cessado. "O vazamento parou. Mas o óleo que ainda está nas rochas pode aflorar na superfície. Isso pode acontecer em três ou quatro dias", disse Trennepohl.

Após receber duas multas de valores que podem chegar a R$ 60 milhões e ter a suspensão temporária das atividades no Brasil pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a Chevron teve que acatar informalmente um pedido da Polícia Federal para parar de usar jatos de areia para limpar a mancha de óleo na Bacia de Campos, uma vez que o método não é aprovado no Brasil. Operando no país desde 2009, a Chevron tem uma participação de 51,7% na exploração da plataforma, enquanto a Petrobras tem 30% e o restante pertence ao consórcio japonês Frade Japão Petróleo.
Foto: Site amazonwatch.org

Uma curiosidade: em fevereiro deste ano, a Chevron – considerada a segunda maior empresa de petróleo nos Estados Unidos, foi considerado culpada pela justiça equatoriana pela contaminação ambiental maciça da Amazônia. A companhia foi condenada a pagar uma multa de US $ 9 bilhões em danos. De 1964 a 1990, a Chevron (antiga Texaco) operou uma grande concessão petrolífera na região nordeste da Amazônia equatoriana, colhendo bilhões de dólares em lucros, até se retirar do Equador em 1992. Clique aqui para saber mais detalhes.

Pressão

Apesar do impacto ambiental do Caso Chevron ter pouquíssimas citações – ou quase nenhuma, na grande imprensa, ambientalistas e entusiastas tem promovido discussões interessantes na blogosfera e nas redes sociais com o intuito de mostrar o contraditório da cobertura do caso, principalmente pelo lado político-ambiental do ocorrido. Uma das falas mais repercutidas na web é do presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras, Fernando Siqueira, que espera que a revisão da lei do pré-sal garanta exclusividade à Petrobras na exploração da área, o que diminuiria as tragédias ambientais uma vez que, em tese, a companhia nacional teria maior cuidado com os recursos naturais.

“Na época dos debates sobre a nova lei, eu perguntei a assessores do governo Lula por que manter os leilões, e me responderam que não havia respaldo político na sociedade para acabar com eles. Para isso, seriam necessários pressão popular e povo nas ruas. Eu tenho feito 80 palestras por ano justamente para defender essa causa”, disse Siqueira à Carta Maior.

Outro fator apurado pelo blog – e que já se discute entre alguns setores do governo, é a possibilidade da Chevron ter ido com muita "sede ao pote", explorando mais do que deveria. "Uma das hipóteses com as quais trabalhamos é a de que o acidente pode ter ocorrido pelo fato da empresa ter perfurado além dos limites permitidos”, disse o delegado Fábio Scliar, titular da Delegacia de Meio Ambiente e Patrimônio Histórico e responsável pelo inquérito.

Ainda, a Polícia Federal investiga a suspeita de que a Chevron empregue estrangeiros em situação irregular no país. “Trata-se de um ilícito administrativo, de algo sério. Se isso for comprovado e esses estrangeiros estiverem recebendo salários no exterior, por exemplo, já se configura crime de sonegação fiscal e de sonegação previdenciária”, completou Scliar.

Nesta terça-feira (29/11), os deputados federais Delegado Protógenes (PCdoB-SP), Dr. Aluízio (PV-RJ) e Chico Alencar (PSOL-RJ), da Comissão Externa da Câmara dos Deputados, em Brasília-DF, constaram que há indícios de irregularidades no armazenamento do óleo retirado do Campo de Frade, no Rio, além de vários indícios de que a água contaminada com óleo está sendo liberada para as galerias fluviais sem tratamento adequado, principalmente,  no litoral de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

O outro lado

No dia 15 de novembro, a Chevron informou que reduziu o fluxo de óleo e a ANP se limitou a dizer que "foram bem sucedidas e não há indícios de qualquer fluxo de fluido no poço". Por meio de nota oficial, a Chevron assumiu a responsabilidade do vazamento e que o volume das manchas de óleo encontradas no fundo do Oceano Pacífico é de “dezenas de barris”, e não mais de centenas.
Imagens áreas do vazamento de óleo da Chevron na Bacia de Campos,
no litoral do Rio de Janeiro. Foto: Rogerio Santana / Reuters.
Ainda, a petrolífera norte-americana afirmou ter errado nas estimativas feitas sobre a pressão do reservatório e sobre a solidez das rochas que ficam perto do poço perfurado. Na nota, a Chevron disse ter selado com lama e cimento para impedir que mais petróleo chegasse ao Oceano Atlântico.



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Jornalista

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2 comentários

  1. Ei Wander! Parabéns pela excelente reportagem sobre o assunto. Por incrível que pareça, só agora que entendi o que realmente aconteceu. O caso é mais sério do que a gramde mídia tem mostrado. Beijos

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  2. Francisco Bertoletta30 de nov. de 2011, 09:56:00

    É nojento saber que o governo permitiu que uma empresa estrangeir que já fez vários acidentes ambientais pelo mundo ganhasse licitação para explorar petróleo no Brasil. Parabéns pela reportagem e por alertar os internautas sobre a gravidade do problema.

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