Ponto de Vista – Influência da IURD na Record pode ser prejudicial à emissora

novembro 19, 2011


Discutir sobre religião sempre gera polêmica. Cada um tem a sua fé e as suas crenças. Você tem as suas e eu tenho as minhas. Normal. Pensando nesta diferença que existe dentro de uma mesma sociedade é tão importante o Estado Laico – onde as questões de religião são completamente separadas das decisões políticas. 

No mundo empresarial – principalmente o da comunicação, o ideal também seria ter essa premissa, mas isso nem sempre acontece. Atualmente, várias igrejas/religiões estão investindo em comunicação, seja locando espaço na TV aberta (ou rádio) para exibição de programas ou até mesmo criando emissoras próprias de TV, rádio, publicações impressas e portais na internet. A comunicação gospel está em alta: gera muitos empregos e está abrindo um campo de trabalho promissor, quando é feito de modo claro, transparente e ético, sem dúvida.

No Brasil, temos um caso muito particular onde o líder de um segmento pentecostal é dono da segunda maior emissora de TV aberta do país que – até aonde se sabe, tem a missão de ser um veículo de comunicação diverso, popular, apolítico e democrático. 

Estamos falando da Record. Em 2004, quando a emissora resolveu entrar de vez na briga pela audiência com um projeto a longo prazo, Edir Macedo deu diversas declarações falando que a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) era completamente desvinculada da Rede Record – sendo a única ligação das duas era o mesmo dono e o fato da IURD ser o “cliente dos sonhos de qualquer emissora de TV” por comprar o horário das madrugadas da emissora da Barra Funda a peso de ouro.

Entretanto, a fala de Macedo não corresponde com a prática. Quem trabalha com comunicação já viu de perto o quanto a IURD tem influência sob a Record. Vários bispos – ou pessoas ligadas à Igreja, possuem cargos estratégicos dentro da emissora de TV. Até aí nada demais, contanto que se tenha qualificação para entender a mídia televisão, que mal tem? Mas, será que há essa qualificação? Até que ponto uma coisa não interfere na outra? 

Essa semana me chamou a atenção o fato da revista eletrônica da Record, o Domingo Espetacular, veicular uma matéria com quase 40 minutos sobre outra vertente religiosa pentecostal rival à Universal. Ou seja, se durante os últimos anos o jornalismo pôde se orgulhar de ser independente, agora só Deus sabe....rs

A matéria em si criou um mal estar generalizado entre os cristãos e inventou até uma nomenclatura irônica, chamando-a de “cai-cai” e de “cair no espírito”. A prática funciona da seguinte maneira: o pastor toca a cabeça ou o corpo do fiel que entra numa espécie de "Desmaio do Espírito Santo". A prática já fora atacada diretamente por Macedo em um programa da IURDTV, em setembro deste ano. Na época, o alvo foi a cantora gospel Ana Paula Valadão, da banda gospel Diante do Trono, da Igreja Batista da Lagoinha – segmento pentecostal concorrente à IURD.

Além disso, o ataque declarado se deve também pelo fato de vários cantores gospel terem assinado com a gravadora Som Livre (braço fonográfico da Rede Globo), que está investindo pesado neste estilo musical que possui uma marca de vendagem que impressiona. 

De acordo com o colunista Ricardo Feltrin, do F5, estima-se que, em 2011, a indústria da música gospel no Brasil movimentou R$ 2 bilhões. A título de comparação, os 4 CD´s da coleção "Promessas" venderam  482 mil cópias, enquanto Luan Santana vendeu pouco mais de 230 mil cópias, em 2010. De olho nesse público, pela primeira vez na história, a Globo vai fazer um especial de fim de ano com cantores evangélicos contratados da Som Livre, que será veiculado no dia 18 de dezembro.

O que impressiona é o fato da IURD usar o jornalismo da Record como munição para uma disputa por fiéis entre vertentes pentecostais, além de querer minar o projeto musical da Som Livre. Entre os críticos, o ataque pode ser prejudicial à Record que tem a maior parte do seu público composta por cristãos das mais diferentes vertentes. 

Não contente com a repercussão negativa desta semana, junta-se ao imbróglio a crise editorial do jornalismo da emissora (que investe apenas em tragédia, desgraça e denúncia sensacionalista) e o fato da debandada de artistas em 2011, como foi o caso recente de Tom Cavalcanti. É hora de reverter as estratégias utilizadas até então, antes que o último que sair apague a luz. O sinal amarelo do possível terceiro lugar nacional em audiência já está ligado!




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*Observação: Este artigo faz parte da minha participação na seção Ponto de Vista, do site do Cena Aberta, onde três jornalistas publicam um artigo mostrando pontos diferenciados sobre o mesmo assunto. Todo sábado você vai encontrar artigo escritos por Endrigo Annyston, Emanuelle Najjar e Wander Veroni.







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Wander Veroni
Jornalista

MAIS CAFÉ, POR FAVOR!

5 comentários

  1. Acho muito perigoso para a Record esse tipo de situação. Se a emissora fosse esperta pediria desculpas ao outros tipos de evangélicos enquanto o assunto está quente. Para falar a verdade, a programação está muito estranha e cheia de reprises e isso não é um bom sinal.

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  2. Concordo em muita coisa que o texto falou. Nunca dei muito crédito a essa mudança que eles fizeram a caminho da liderança porque lá tem muito cacique para pouco índio, essa que é a verdade.

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  3. Aos poucos a IURD vai tomar a programação da Record. Vai se transformar em uma ferramente de Edir Macedo. Ai será o fim de uma emissora de TV que já teve dias melhores. Abraços.

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  4. Oi, Wander!

    Li seu texto e concordo com seu ponto de vista. É lamentável ver o que o ódio e ou a disputa exacerbada pelo primeiro lugar ou o desejo de vingança do Edir Macedo pela Rede Globo tem feito com segmentos e pessoas que por algum motivo se tornem na ótica dele impedimento para alcançar a tão sonhada vingança contra a citada emissora.

    Desde criança ouvir minha avó dizer que a vingança cega. Parece que estamos diante de um caso assim. Mas para além do Edir Macedo que me recuso a chamar de bispo ou pastor, por que definitivamente ele é qualquer coisa empresário, enganador... menos um clérigo, me assusta ver profissionais do gabarito da Ana Paula Padrão se deixar envolver numa trama dessas por causa do vil metal; é tão baixo, pequeno, sordido e todos os demais adjetivos depreciativos que houver que não consigo sequer ouvir mais essa jornalista falando.

    Se prestar a ler editoriais difamatórios com tanta empáfia como se aquilo que estivesse dizendo fosse de fato uma verdade absoluta.
    Mas, voltemos ao cerne do seu texto que é a postura da emissora.
    Devo dizer que não assisto mais a Record, raramente passo pelo canal até porque tenho Tv paga, mas ainda que não tivesse dificilmente compactaria de tal bandalheira.

    Uma Tv que se presta a denegrir a imagem de grupos religiosos só por que o seu dono é também chefe de uma "religião" não merece sequer a licença para está no ar. É preciso repensar as práticas nas emissoras de televisão do país. Tanto falamos contra a Rede Globo e agora estamos diante de um doente que ninguém consegue parar.

    Aguardemos entretanto o desfecho que aliás, espero seja justo.

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  5. Pessoal, agradeço o carinho e comentários de todos aqui no Café com Notícias. É muito gratificante ler comentários que somam ao debate proposto pelo post. Mais uma vez, muito obrigado! :)

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