Trânsito de Belo Horizonte pode dar um nó

julho 26, 2011



Diariamente, ao ir para o trabalho, tenho a impressão de que o trânsito de Belo Horizonte (BH) está prestes a dar um nó. Um laço confuso e tão bem amarrado que motoristas, motociclistas e passageiros de ônibus precisam ser criativos e ter muita, mas muita paciência para conseguir desatar algumas cristas. Basta um acidente, uma manifestação popular ou uma obra nas ruas que o tráfego de veículos pára. Não há santo que aguente!


Tudo bem que a capital mineira tem ampliado algumas das suas principais vias públicas nos últimos anos, mas o que vemos todos os dias no tráfego de veículos nos deixa com a pulga atrás da orelha em relação as melhorias, principalmente quando vemos que a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos se aproximam. A sensação é de pânico!

Com turistas e moradores nas ruas por conta dos eventos esportivos, a tendência natural é chegar a um nível insuportável de um gigantesco engarrafamento generalizado. E o que tem sido feito para incentivar o motorista a deixar o carro em casa e usar o transporte público? Nada. Aliás, realmente temos transporte público? Algo a se pensar...

É fato: BH não tem infra-estrutura para sediar grandes eventos. O trânsito da cidade é um exemplo latente disso. Como cidadão que ama a cidade onde mora, gostaria muito de afirmar o contrário, mas isso infelizmente não é possível. Belo Horizonte pede socorro! Seria irresponsável culpar apenas a administração pública atual, mas a culpa não é só deles. 

Há um passado de acomodação no transporte público e na engenharia de tráfego urbano que dificilmente seria revertido em apenas quatro anos de governo. Claro, poderia ser um início de mudança, mas é preciso que não só iniciativa dos atuais governantes, mas de uma próxima geração de políticos desperte a consciência para a importância dessa pauta para rotina da cidade. Ano que vem tem eleição municipal. Será que algum político colocou o transporte público e o trânsito como plataforma de governo?

Enquanto muitos empresários do setor de transporte continuarem patrocinando campanhas políticas, dificilmente veremos ações públicas de fortalecimento do metrô, por exemplo. O lobby é muito forte para que o metrô em BH não aconteça de fato. São mais de 20 anos de descaso. Se não me engano, foi no governo do prefeito Célio de Castro/Fernando Pimentel, que Venda Nova ganhou uma estação de metrô. Depois disso, nenhuma outra estação foi construída. Lamentável!

Claro, para o metrô acontecer em Belo Horizonte é preciso que as iniciativas privada, municipais, estadual e federal se unam, o que nem sempre acontece. Já passou da hora da Grande BH também ser incluída na ampliação do metrô, mas até agora tudo isso não passa de projetos. Brigas partidárias e a pressão do empresariado [do setor de transportes] sempre pesam contra. Nenhum grupo político ainda comprou essa pauta como prioridade, o que é uma pena.

Mesmo com todos os problemas típicos de uma grande metrópole, a cidade de São Paulo, por exemplo, pode se orgulhar de ter um metrô com várias linhas e que atende uma pluralidade de regiões. A título de comparação, Belo Horizonte não tem nem o rascunho disso. Boa parte da atual linha do metrô é herança da antiga malha ferroviária – que aliás, nem mais trem urbano e intermunicipal possui. Engraçado que, quando olhamos para o exterior, o metrô e o trem sempre são as alternativas mais comentadas de transporte público. Enquanto isso, BH apenas insiste em associar transporte público aos ônibus. Triste retrocesso!

Só de pensar que o belo-horizontino já teve a passagem de ônibus custando R$ 0,35 – e hoje custa R$ 2,45, já conseguimos perceber o quanto esse sistema – que para alguns bairros é o único meio de transporte público, anda sucateado e superfaturado. Lembrando que as empresas de transporte recebem concessão da Prefeitura de BH para atuar nesse segmento. Pense bem: se o preço do combustível está em torno de R$ 2,15 e o transporte público mal funciona, é quase um incentivo (subentendido) para que se aumente a frota de carros e motos, não é mesmo?

E foi exatamente isso que aconteceu: o número de veículos subiu de 655 mil, em 2000, para quase 1,3 milhão em 2010. Segundo dados do Detran-MG, o aumento mais significativo na capital foi de 2006 para 2007, quando a frota aumentou 9,57%, passando de 931.287 para 1.020.465. O aumento do número de motocicletas também impressiona. Em 1999, eram 44.634. Em 2009 subiu para 122.917, um crescimento de 175%. Num prognóstico pessimista, o trânsito da cidade tem tudo para dar um nó, literalmente. Só espero que não seja tarde demais para desatá-lo.





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Jornalista

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2 comentários

  1. Olá Wander, confesso que não imaginava que BH já estava nesse estágio de problemas com trânsito.

    Vc sabe que eu sou de SP, e a frota de carros aqui ultrapassa os 6 milhões. Problemas com congestionamentos então, eu considero a PIOR coisa pra quem mora em SP. Tenho várias historias de congestionamentos que ficaria contando até amanha.

    Agora tem um ponto que eu discordo e muito de você: SP realmente tem metrô, mas a área que ele abrange é muito pequena. Muito mesmo, para o tamanho da capital. A maioria absoluta da cidade depende de ônibus, inclusive eu que moro no Extremo Sul, e tenho que levar quase 2 horas para chegar no meu estágio, no Centro. Felizmente estão expandindo as linhas, mas, mesmo que elas fiquem prontas, apesar de já ajudar, ainda serão poucos quilômetros para atender a demanda.

    Um dia que tiver tempo, dê uma olhada no caso da Estrada do M'Boi Mirim. Ela é um exemplo do resultado de anos de crescimento sem planejamento e organização das administrações públicas. Hoje, é uma avenida apertada, com alto indice de congestionamento, já foi alvo de protestos, e as autoridas nao sabem mais o que fazer para desafogar aquela região.

    Infelizmente, em qualquer cidade, a politica que se aplica é a de empurrar o problema com a barriga, ou só tomar soluções realmente viáveis quando o pior já aconteceu.

    Adorei o post Wander. Acho legal que vc posta noticias de BH que às vezes nao encontro nem em grandes veículos que focam demais no eixo Rio-SP.

    Abçs!!!

    Danilo Moreira
    http://blogpontotres.blogspot.com/

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  2. Oi Danilo!

    Obrigado pelo comentário tão bacana que vc escreveu e que incentiva o debate sobre o tema. Se um dia vc vier a BH vai entender o que eu falo a respeito do metrô.

    São Paulo, como qualquer grande metrópole tem os seus problemas e também sei que o metrô não atende toda a cidade, mas o metrô de SP não se compara em BH. Infelizmente, a capital mineira tem um rascunho de metrô. Vocês tem várias linhas, mesmo que elas não atendam toda a cidade. BH só tem uma linha e que não atende todas as regiôes/bairros.

    Pense numa linha vertical curta bem no meio do mapa. A grosso modo, é isso que é o metro de BH. O metrô de SP é um grande asterisco. É nesse sentido que fiz a comparação.

    Mas é válido o que escreveu, pois você vive essa realidade diariamente e contribui para mostrar que o problema no trânsito é crônico em várias capitais.

    A intensão desse post é justamente isso: mostrar uma pauta de prestação de serviço que anda esquecida (ou jogada para debaixo do tapete) pela imprensa tradicional.

    Gosto muito de ler os seus comentários, viu!

    Abraço

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