Café na Web – Agência Pública e Wikileaks lançam série de reportagens baseadas em documentos oficiais

julho 13, 2011



Qual é o Brasil que você conhece? Da cultura diversa, do povo alegre receptivo, da abundância de recursos naturais, da má distribuição de riquezas ou da politicagem? São vários “Brasis”, se é que existe mesmo este plural que deixa o nosso país tão singular perante toda a América Latina. Se a história da nossa nação está acontecendo agora, nada melhor do que poder dividir com o povo aquilo que os representantes por eles escolhidos decidem, muitas vezes à surdina ou de forma autoritária.

Desde o dia 27 de junho, o co-fundador e editor do WikiLeaks, Julian Assange, e a Agência Pública - agência brasileira de jornalismo investigativo fundada em março deste ano pelas jornalistas Marina Amaral, Natalia Viana e Tatiana Merlino; começaram a publicar uma série de reportagens feita a partir de documentos confidenciais sobre o Brasil. As reportagens são publicadas no site da Pública e podem ser replicadas por qualquer outro veículo, desde que seja citada a fonte. O objetivo da parceria exclusiva é produzir e difundir investigações de interesse público que nem sempre têm espaço na imprensa tradicional. Para saber mais sobre Wikileaks, clique aqui.

Ciente da dimensão desse projeto que é tão importante para a luta pela democracia da informação, desde já o @cafecnoticias se une a causa e convida os seus leitores para acompanhar esta série de reportagens que conta de perto um importante registro da política brasileira, mostrando para os cidadãos um momento histórico do nosso país que NÃO DEVE ser colocado para debaixo do tapete.

Na primeira reportagem, Natália Viana conta, de forma surpreendente como ela conheceu Assange e o projeto pioneiro do Wikileaks, que desnuda a diplomacia internacional por meio de documentos oficiais. Mesmo sabendo que estamos lidando com um registro histórico contemporâneo, não tem como não associar a narrativa de Natália àqueles filmes de ação/aventura, onde um grupo de jornalistas se une em torno de um ideal pela liberdade da informação pública.

Após ler a reportagem, fiquei pensando o quanto que ainda estamos vivendo na ditadura – não aquela militar ou dos governos totalitários, mas a ditadura do conhecimento, onde tudo é muito exposto e se é cultuado o não aprofundamento das coisas. Sabemos de tudo, mas não sabemos de nada ao mesmo tempo. Há a cultura da imbecialização. Até quando? Até você, eu, o vizinho, o outro, quisermos permanecer assim. Faça a sua escolha e saia do limite [cultural] imposto. Você decide! Confira abaixo um trecho do início da reportagem:

Como conheci Julian Assange – e como os documentos do WikiLeaks vieram parar no Brasil

Tudo começou com um telefonema mais do que inesperado e misterioso, em novembro do ano passado; menos de duas semanas depois, o Brasil seria o primeiro país a ter acesso aos documentos diplomáticos da embaixada americana, além dos cinco jornais da Europa e dos EUA

Por Natalia Viana, da Pública

Só às vezes o meu celular pegava. Eu estava em um bangalô à beira do Rio Tapajós, no Pará, onde ia morar por um mês para fazer uma reportagem. O telefone, portanto, não tocou. Ouvi o recado horas depois. Em inglês britânico: “Alô Natalia, aqui é a Hale, trabalhamos juntas em Londres. Agora estou com uma organização muito influente, queria te passar um trabalho…”

Era 14 de novembro de 2010, quinze dias antes do estrondoso lançamento dos 250 mil telegramas das embaixadas americanas pelo WikiLeaks, e no silêncio da floresta o convite soou longínquo, mal explicado. Decidi entrar em contato com meu ex-chefe, Gavin MacFadyen, diretor do Cento de Jornalismo Investigativo de Londres, onde trabalhara com a tal inglesa, para pedir mais detalhes.

Gavin é um dos mais incríveis jornalistas que eu conheço. Adora as reportagens arriscadas, saboreia os resultados, ri sem parar quando lembra que algum ricaço corrupto foi pego com a boca na botija. E sempre me dá as melhores dicas. Pouco depois do contato, ela volta a me escrever, por email.

“Estamos trabalhando em um grande projeto, extremamente empolgante, que vai ter enorme repercussão no mundo todo. Não é seguro escrever os detalhes, mas tenho certeza que qualquer jornalista gostaria de estar envolvido”, explicava a inglesa. “Todos os meus telefones estão grampeados, mas posso te ligar”.

Ao telefone, a proposta, afinal: que eu estivesse em Londres nos próximos dias, num local indicado. Não saberia o que nem para quem. Numa rápida ligação, Gavin deu uma só dica, preciosa: o trabalho envolveria uma pessoa “recentemente famosa”. Como grande parte dos jornalistas investigativos, eu já conhecia a trajetória de Julian Assange e me entusiasmava pela sua cruzada por documentos secretos. Achei que era ele: “Estou dentro”.

Ora, de Santarém para Belém e de lá para o aeroporto de Cumbica, em São Paulo. Mil pequenos receios tomam conta quando tomei o táxi para o aeroporto, afinal. Medos prosaicos: de ser tudo mentira; de perder os parcos 4 mil reais que gastara com as passagens; de ser barrada no aeroporto de Londres como tantos brasileiros da minha idade, sem trabalho fixo nem uma boa explicação para dar. Caprichei no ar blasé quando falei com o oficial da imigração: “estou apenas de férias, vou aproveitar para fazer compras”. Deu certo.

Em Londres, devia ir a um endereço – era toda a indicação que eu tinha. Mas quando cheguei ao Frontline Club, em Paddington, um clube aconchegante que promove o jornalismo independente com debates, exibição de filmes e quartos mais em conta para repórteres e documentaristas que vivem de orçamento apertado – ninguém.

Hora e meia depois ela chega, esbaforida. Loira, rabo de cavalo e roupa mal ajambrada que pouco disfarçava a beleza de olhos azuis, boca carnuda e jeito de menina. Hale desabafou: “Sinto muitíssimo, querida, mas você viu o que aconteceu hoje né?”. Eu, não. “Emitiram um mandado de prisão contra ele”.

Ele, como eu imaginara, era Julian Assange, uma das figuras mais controversas do jornalismo mundial – acusado, inclusive, de não ser jornalista. Àquela altura, o WikiLeaks já era conhecido no mundo todo, e já incomodava muita gente. Em julho, havia publicado 75 mil diários sobre a guerra do Afeganistão que provaram assassinatos indiscriminados de civis; em outubro, mais 400 mil relatos secretos sobre o Iraque, provando tortura contra prisioneiros.

Hale parecia mais aborrecida com o atraso nos planos que com a acusação em si. Trava-se de uma queixa na Suécia, feita por duas mulheres, de crimes sexuais. “É uma armação, isso vai embora com o tempo. Mas precisamos ter cuidado”. Muito cuidado, explicou. Meses antes, o Pentágono havia emitido uma ameaça clara: o WikiLeaks deveria devolver todos os documentos secretos e apagá-los do seu site, ou então os EUA “buscariam alternativas de obrigá-los a fazer a coisa certa”. Não tínhamos nem ideia do que podia acontecer.


Para conferir a reportagem completa, clique aqui. A @agencia_publica é uma organização sem fins lucrativos criada para produzir e difundir reportagens investigativas de interesse público que nem sempre têm espaço na imprensa tradicional. Todas as reportagens postadas no site da Pública são de livre reprodução, desde que citada a fonte. Ainda, a agência acredita na função social do jornalismo; no fortalecimento do direito à informação; na transparência, como base da democracia e é contra o segredo eterno de documentos públicos, bem como o sigilo nos contratos da Copa de 2014.

Segundo o vídeo publicado no site da Pública, a jornalista Natália Viana explica que o objetivo é divulgar material do @wikiLeaks com alguma relação com o Brasil e que não tenha sido noticiado pela imprensa. "A Pública está de posse dos documentos das embaixadas americanas que foram obtidos pelo WikiLeaks. Por isso a gente convidou uma série de amigos nossos, jornalistas independentes, para darem uma lida nesses documentos e escreverem as reportagens que ainda precisam sair para o público brasileiro ficar conhecendo essa parte muito importante da sua história", diz.





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Jornalista

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3 comentários

  1. Puts...estou impressionado com o projeto da Pública em parceria com o Wikileaks. Não conhecia! Vou mandar o link do seu post para o pessoal da faculdade. Parabéns por divulgar essa iniciativa. Viva a liberdade de informação! 0/

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  2. Wander do céu....menino, estou de cara com a proposta da Agência Pública. Comecei lendo aqui no seu blog e cliquei no site para ir até o final....parece um livro mesmo, mas é tudo real....fiquei com medo, sabe. Está acontecendo uma Guerra Fria no ciberespaço e na política e todo mundo está assistindo isso sentado, sem fazer nada. Parabéns a Natália e ao pessoal da Pública pela coragem. Beijos

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  3. Fazer esse tipo de jornalismo, arriscando a vida e sem ter a menor segurança não é para qualquer. A Natália deve ser muito corajosa....fiquei com inveja (boa) dela e do trabalho da Pública. Gosto desse tipo de adrenalina.

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