Ponto de Vista – Saúde invade a TV, mas ainda foca nas doenças

junho 06, 2011



Ter mais qualidade de vida, praticar hábitos saudáveis, comer bem e prevenir doenças. Afinal, ninguém quer ficar doente, não é mesmo? Quem não quer ter bem-estar? Mas, a dúvida que não calar: e aí, doutor? Como fazer isso? A resposta, aparentemente, chegou à TV aberta – seja por meio de programas específicos ou quadros nas mais variadas atrações. Mas, falar de saúde é falar de doenças? Não necessariamente. Falar de doença é importante, quando se quer promover a conscientização. Mas, falar apenas de doenças não é falar de saúde.

Na ânsia por audiência e por resultados cada vez mais rápidos, muitos programas, às vezes, se esquecem desse cuidado. É possível tratar o tema de forma mais otimista (e otimizada), mostrando que a editoria saúde conversa bem com comportamento, política, esportes, alimentação, campanhas sociais, cultura, internet, meio ambiente, etc. Claro, tem hora que é fundamental falar de doenças. Até porque não há estratégia melhor do que a informação, aliada a ajuda de um bom médico, para promover a saúde. Mas transformar a doença em show pode ser um caminho sem volta e com prazo limitado. Num primeiro momento, o telespectador pode se identificar, mas cansa. Cansa de ver que as mesmas pautas serem tratadas da mesma maneira: o especialista fala, o debate acontece sala de estar do estúdio e o assunto não amplia. Complicado....

Nesse primeiro semestre, a TV redescobriu a editoria de saúde e lançou programas específicos com o intuito de fisgar o público carente de informações relacionadas à saúde e que sofre, muitas vezes, na fila dos hospitais e postos de saúde a procura de atendimento. Informação também é prevenção. É essa filosofia que o Ministério da Saúde prega por meio da Política Nacional de Promoção de Saúde. Acredita-se que a busca de melhoria da qualidade de vida da população pode se dá também por meio da mobilização social e da divulgação de informações que podem fazer a diferença na vida das pessoas a partir da prevenção, dos cuidados consigo mesmo e, principalmente, com a comunidade.


Sim, antes ter algo na TV do que não ter nada. Mas é preciso ter mais cuidado quando se fala de saúde. Tudo bem que ainda não temos um modelo de saúde excelente, mas o Sistema Único de Saúde (SUS) tem os seus acertos e equívocos. Conhecer o SUS e as diretrizes do Ministério da Saúde ajudaria não só o público, mas principalmente os produtores de conteúdo a repensar a editoria de saúde como instrumento de informação e prestação de serviço. Não que a TV deva ser um instrumento panfletário do governo, não é isso. Mas é preciso conhecer de perto o que temos para não fazer sensacionalismo com uma opinião de senso comum sobre algo que poucas pessoas têm acesso – não por ser um conhecimento fechado, mas por falta de interesse de mostrar o outro lado do SUS, que sofre por ser menosprezado por algumas autoridades que não levam a saúde tão a sério quanto deveria.

Não só a TV aberta descobriu a saúde, como as TVs fechadas. É possível ver vários programas na TV Paga que falam não só de saúde, mas de estética, esporte, alimentação e bem estar. Há ainda o nicho das TVs segmentadas, como o Canal Saúde, da Fiocruz e Ministério da Saúde, e o Canal Minas Saúde, da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) e Fundação Renato Azeredo. O primeiro pode ser assistido por parabólica e pela Oi TV. Já o segundo, apenas por parabólica em Unidades Básicas de Saúde de Minas Gerais (UBS), Gerências Regionais de Saúde (GRS) e Centros Viva Vida e Mais Vida. Ambas as emissoras tem a proposta de informar o telespectador e capacitar profissionais da saúde por meio de programas que falam sobre promoção da saúde, políticas públicas, cidadania, tratamentos, pesquisa, desenvolvimento tecnológico, meio ambiente e sustentabilidade, entre outros. É uma conquista e tanto no trabalho de promoção da saúde!

Há um pouco mais de um ano me tornei repórter setorista de saúde, do Portal Minas Saúde, do Canal Minas Saúde. E posso dizer, por experiência própria, que a editoria de saúde é rica e exige uma pesquisa constante, criatividade e atenção, como em qualquer outra editoria. Mas, acima de tudo, faz um convite importante para que nos desprendemos dos nossos próprios pré-conceitos em relação à saúde pública: tem coisa que funciona bem, outras que precisam ser expandidas para todo o Brasil e pontos que merecem ser melhorados como qualquer outro sistema que não depende só das pessoas, mas do poder público, de uma forma geral. E isso leva tempo....tempo, principalmente, quando algumas pessoas ainda não se conscientizam em relação a importância do voto. Mas isso rende um outro debate para um próximo post, quem sabe.

Mais do que falar e conhecer o SUS é importante reconhecer que as TVs estão redescobrindo a editoria de saúde. Durante tanto tempo, a saúde só era lembrada na hora que alguém tinha que fazer uma denúncia por falta de atendimento ou uma doença trágica ganhava as manchetes dos noticiários. Falar de saúde é falar de qualidade de vida. E quanto mais o público tem acesso a esse tipo de informação, melhor ele poderá se cuidar e fazer da comunidade que ele mora um lugar melhor para se viver. 





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*Observação: Este artigo faz parte da minha participação na seção Ponto de Vista, do site do Cena Aberta, onde três jornalistas publicam um artigo mostrando pontos diferenciados sobre o mesmo assunto. Todo sábado você vai encontrar artigo escritos por Endrigo Annyston, Emanuelle Najjar e Wander Veroni.






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Wander Veroni
Jornalista

MAIS CAFÉ, POR FAVOR!

3 comentários

  1. Interessante essa sua observação sobre os programas sobre saúde focarem apenas na doença....não tinha me tocado nesse detalhe. Parabéns pelo post!

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  2. Ainda bem que o Pense Saúde, que está no ar há pelo menos 8 anos, sempre focou na qualidade de vida. Ele é pautado na discussão de um tema abordando diagnóstico, tratamento, prevenção e foca sempre no bem-estar. Tanto que não se usa a palavra doença e sim, patologia. Pena que muitos não conhecem...bjo! Adorei a crítica!

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  3. Wander,

    Você tem mente aberta, é participativo, não se prende a estatísticas, mas a realidade nua e crua, vivenciando este problema in loco.

    Agora quem deveria sair da agonia são as pessoas responsáveis pelos editoriais, diretores de programas, assessores etc. porque os apresentadores são limitados (coitados) são tipo de fantoche.

    Você esta certíssimo em sua narrativa e precisa ter mente aberta para tudo o que se relaciona com SAÚDE.

    João Bosco

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