Ponto de Vista – O beijo gay nas telenovelas não é mais tabu, mas sim o novo “quem matou”

maio 14, 2011


Há quem diga que Tiago Santiago tem tido muita sorte com Amor e Revolução, exibida na faixa das 22h pelo SBT. Apesar da sua mais nova telenovela ter amargado o quarto lugar de audiência, com uma média de seis pontos de audiência, na Grande São Paulo, vira e mexe o folhetim – que tem como pano de fundo a ditadura militar, está na boca do povo. Seja pela qualidade duvidosa dos diálogos ou pelo tema que é de uma grandeza histórica única, Tiago Santiago conseguiu emplacar numa novela de época um debate muito significativo para os dias atuais: o amor entre iguais, no mês em que o STF reconhece a união homoafetiva como unidade familiar.

Nesta quinta-feira (12/05), Amor e Revolução entrou para a história da teledramaturgia brasileira por colocar no ar uma cena em que duas mulheres se beijam na boca, onde uma se declara para a outra que, até então, não havia tido uma experiência homossexual. O beijo entre as personagens de Luciana Vendramini e Gisele Tigre, na novela do SBT, quebrou um tabu entre os diretores de TV que acreditavam que a cena poderia chocar os telespectadores. Pelo contrário: a tão famosa cena colocou a novela nas principais rodas de conversa. Abaixo, confira a cena do beijo mais comentado da semana:


Há alguns anos atrás, a autora Glória Perez, da TV Globo, escreveu uma cena de beijo gay para a novela América (2005). Segundo a roteirista, a cena chegou a ser gravada, mas a direção da emissora optou por não colocá-la no ar, temendo uma rejeição negativa por parte do público. No entanto, essa semana, o SBT de uma forma ousada mostrou que o telespectador está pronto para o debate e que o “beijo gay” não é mais tabu, mas uma realidade que já acontece na nossa sociedade.

O ponto negativo desta história toda é que, mais uma vez, o SBT fez o público de trouxa, anunciando o beijo no capítulo de quarta-feira (11/05), inclusive com amplo destaque jornalístico no SBT Brasil. Porém, o beijo só foi exibido no dia seguinte, numa forma de atrair ainda mais atenção do público. Confesso que, como telespectador, não acreditei que o SBT colocaria um beijo homossexual no ar.


Achei que seria, no mínimo, uma “bitoquinha”. Mas me surpreendi pelo fato da cena não ser apenas um beijo, mas uma declaração de amor, por mais que a música de fundo e a perninha levantada soem cafona. Mas o amor não é isso: ser cafona? Então, está valendo. Ponto para o SBT e para o Tiago Santiago que entraram na campanha de promoção a igualdade.

Pode parecer utópico, mas arrisco a dizer que o “beijo gay” tem grandes chances de se tornar o novo “quem matou” das telenovelas – recurso usado pelos roteiristas para aumentar o interesse do público em relação à história. Ambos geram repercussão e são artifícios legítimos, porque não? No entanto, falando de modo realista, creio que o “beijo gay” de Amor e Revolução só foi possível e aceito por conta dos inúmeros personagens homossexuais da história das nossas telenovelas que, de um modo ou de outro, contribuíram para que o público compreendesse essa expressão de amor.


Arrisco a dizer, que o Thales e o Julinho de TiTiTi (2010) tiveram um papel importante por fazer o público torcer para que eles ficassem juntos no final da novela de Maria Adelaide Amaral. No remake das 19h, da TV Globo, não houve “beijo gay”, mas muitas declarações de amor explícitas entre os personagens, o que já foi um grande avanço. 

A autora optou pelo caminho de mostrar a emoção, uma vez que até mesmo a classificação indicativa na TV aberta poderia ser contra e causar problemas para o folhetim. No entanto, Tiago Santiago tem o horário das 22h ao seu favor, além da liberdade editorial de Silvio Santos que quer mais números, além da repercussão da novela. Se Tiago conseguir repetir a façanha de TiTiTi ou reascender outros e importantes debates, já está valendo! Afinal, o mundo é grande e tem espaço para todo mundo. Viva a diversidade!



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*Observação: Este artigo faz parte da minha participação na seção Ponto de Vista, do site do Cena Aberta, onde três jornalistas publicam um artigo mostrando pontos diferenciados sobre o mesmo assunto. Todo sábado você vai encontrar artigo escritos por Endrigo Annyston, Emanuelle Najjar e Wander Veroni.







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Wander Veroni
Jornalista

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3 comentários

  1. Que interessante esse seu post, Wander! Não acompanho todos os dias Amor e Revolução, mas tenho que concordar que o beijo entre as duas moças tinha contexto, assim como o amor do Thales e do Julinho em TiTiTi. É um passo importante na luta contra o preconceito, sem dúvida.

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  2. Acho que beijo de gay entre mulheres é uma forma de suavizar um pouco o assunto, pq a maioria dos homens tem feitiche de ver duas mulheres se pegando. Quando tiver um beijo entre dois homens, num contexto como o do Thales e do Julinho, em Tititi, aí sim acho que poderemos ver se o telespectador está mesmo preparado para o beijo gay.

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  3. Vi esta cena:Foi bonita bem romantica.
    Temos que nos acostumar,e incarar como algo que logo será normal nas ruas ou onde que que seja!!
    Liberdade pra todos de expressar sua sexualidade,seja ela qual for!!

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