#CaféEntrevista: Porque reality show também é vida

fevereiro 10, 2011



Emoção, alegria, drama, raiva, rivalidade entre torcidas e muito, mas muito bom humor. A descrição poderia ser relacionada ao futebol, mas há exatamente uma década o brasileiro se encantou por outra paixão: o reality show. 

Tem gente que detesta. Outras, adoram. Assim como o futebol, considerado um esporte popular, o reality show também movimenta o público e, coincidentemente, tem um faturamento comercial tão expressivo quanto o esporte bretão.


Muitos podem não acreditar, mas reality show também é vida! Vida simulada (ou manipulada) que faz com que durante alguns meses o público acompanhe um "zoológico humano", uma experiência antropológica que faz com que participantes se transformem em ídolos colocado no monte olimpo da fama instantânea. 


Para falar mais sobre esse fenômeno dos realitys shows de confinamento aqui no Brasil, convidamos a publicitária e blogueira Sara Maia, 28 anos, natural de Fortaleza (CE) e uma das autoras do blog Tribo dos Errados - um dos blogs que melhor resenham os realitys brasileiros na TV aberta, de forma bem humorada e crítica.

No entanto, Sara é enfática ao fazer uma análise sobre o Big Brother Brasil (BBB) e A Fazenda, exibidos na Rede Globo e Rede Record, respectivamente. "O BBB tem tradição e A Fazenda não. Outra diferença grande é o fato de que o BBB, teoricamente, seleciona anônimos para o seu jogo, enquanto A Fazenda, famosos. 


Pela lógica da sociedade em que vivemos e da inúmera quantidade de revistas que se sustentam explorando fofocas e notícias sobre as vidas dos famosos, A Fazenda deveria atrair um número maior de telespectadores. Mas isso não acontece. Além da tradição, acho que o que pesa a favor do BBB é o raciocínio de que os anônimos têm muito mais a ganhar (e muito menos a perder) com a exposição de sua imagem". Acompanhe a entrevista, abaixo:

1) Quando e porque você resolveu criar um blog para resenhar o BBB ou A Fazenda? Foi uma maneira de escoar as opiniões ou abrir um fórum para encontrar outros fãs do programa?

Comecei participando de um fórum (BBB Lua), no BBB10, em que as pessoas comentavam o programa. Achei divertida a idéia de expor a minha opinião sobre os participantes com outras pessoas que gostavam de assisti-lo. Durante o programa, o fórum fechou e uma das pessoas que participava de lá há mais tempo decidiu abrir um blog. Comecei apenas como comentarista no sistema de comentários Echo. Como era comentarista assídua, fui convidada para trocar posts eventualmente, quando o Echo estivesse lento pela grande quantidade de comentários.

Faltando aproximadamente 20 dias para o final do BBB10, houve um desentendimento entre os administradores deste blog e, por questões de afinidade, já que, com o tempo, você passa a ter um relacionamento mais próximo, mesmo que virtual, com as pessoas com quem você se identifica mais, passei a freqüentar um outro blog, a Tribo dos Errados, criado por pessoas que saíram daquele espaço.

Incentivei a criação da @TribodosErrados e, desde o início, fui convidada a fazer parte da equipe que o administraria. Fiquei um pouco receosa a princípio, porque sei que exige tempo, responsabilidade na regularidade de postagens e estar em sintonia com o estilo de escrita dos demais. Com um mês de blog, mais ou menos, aceitei o convite e participo até hoje. No início, as pessoas que participavam, inclusive do echo, viam ali uma forma mais simples de discutir sobre o programa. Nossos posts já eram engraçados, mas não eram tão elaborados, não havia tanto texto. Hoje, podemos dizer que criamos uma linha editorial, cujo principal objetivo é mesmo o escracho e a vontade de fazer os nossos leitores se divertirem.

2) O Big Brother Brasil já está na sua 11ª edição. Na sua avaliação, o programa ainda mantém o fôlego da novidade ou já está dando sinais de esgotamento?

Creio que já dá seus sinais de esgotamento, sim. Por mais que o diretor do programa tente inovar com relação à casa, a algumas regras do jogo, os personagens que participam dele tendem a se repetir. Há vários estereótipos consagrados já, que acabam se comportando de maneira semelhante edição após edição. Tem a bonita boazinha, tem o garanhão musculoso com cara de mal, o palhaço, aquele(a) mais burrinho(a) que sempre fala errado, a fofoqueira, o(a) negro(a)... e, nas últimas edições, o Boninho tem preenchido uma cota de gays também.

De uns anos pra cá, a participação de bissexuais, homossexuais e, neste último, uma transexual, enfim, participantes não-heterossexuais assumidos, tem sido a principal mudança em termos de perfil de participantes. Mas creio que o público ainda tem assistido e sempre começa com grande expectativa no início do programa, por conta do imprevisível que gira em torno do comportamento das pessoas. A curiosidade diante da possibilidade de se observar alguém 24 horas por dia ainda é muito grande.

3) O que você achou da estréia do BBB11? Sentiu falta de alguma coisa em relação as edições anteriores ou achou que essa edição começou melhor?

Achei que deixou a desejar. A edição foi muito rápida, ritmo frenético mesmo, principalmente a parte de apresentação dos participantes. Pode ser impressão, mas não me envolvi com o vídeo de nenhum deles. Não teve emoção. Culpo mesmo a edição por isso.

4) Desde o BBB10, Boninho tem mostrado certa empatia pelo público homossexual. No BBB11 ele colocou uma transsexual, dois gays assumidos e outros enrustidos. Você acredita que esses participantes servem para levantar polêmica ou são uma forma de minimizar o preconceito?

Não acredito em boa ação do diretor do programa. Ali é o trabalho dele, ele precisa de audiência, quer ganhar dinheiro. Ele sabe que muitas pessoas tem outra opção sexual, que não a heterossexualidade. Sabe que muitos vão se identificar com aquelas pessoas. E, ao mesmo tempo, sabe também que o que irá chocar muitas outras pessoas conservadoras nõa necessariamente fará com que elas deixem de assistir. Muito do público do BBB o assiste como se assistisse a uma novela. Tem aquele que é adorado, aquele que é odiado. Faz parte. Então, @Boninho tenta colocar o mais diverso grupo de pessoas para gerar maior diversidade nas reações às suas atitudes.

5) Os blogs que resenham reality show sempre torcem contra os participantes "apelidados" de samambaia, aqueles que só fazem figuração e nunca rendem história. Na sua opinião, porque o público prefere eliminar os polêmicos e preservar os que não tem tanto destaque?

Prego que se destaca leva martelada. Como muitos desenvolvem uma relação de amor ou ódio aos que se destacam, a votação acaba se concentrando neles, para o bem ou para o mal. Acredito que o paredão triplo atrapalha a permanência de participantes polêmicos. Porque os votos daqueles que querem que aquele participante fique acabam se dividindo entre os outros dois sem tanto destaque no programa.

6) Mesmo aparentando certa semelhança no formato, o BBB e A Fazenda são programas de confinamento. É possível fazer uma comparação entre eles? Cite um ponto positivo e um negativo de cada programa.

O BBB tem tradição e A Fazenda não. Outra diferença grande é o fato de que o BBB, teoricamente, seleciona anônimos para o seu jogo, enquanto A Fazenda, famosos. Pela lógica da sociedade em que vivemos e da inúmera quantidade de revistas que se sustentam explorando fofocas e notícias sobre as vidas dos famosos, A Fazenda deveria atrair um número maior de telespectadores. Mas isso não acontece. Além da tradição, acho que o que pesa a favor do BBB é o raciocínio de que os anônimos têm muito mais a ganhar (e muito menos a perder) com a exposição de sua imagem. Por isso, no BBB, se costuma ver mais barraco... comportamentos mais abusivos mesmo, que chamam mais a atenção do público. Considero esse um ponto positivo do BBB. Em A Fazenda, as provas são bem mais elaboradas e bem executadas.

7) Quem começou melhor: o #BBB11 ou #AFazenda3?

A Fazenda 3, sem dúvida. A primeira semana rendeu bastante. Houve muito atrito na primeira semana. Ninguém assiste a um reality show para ver a família Dó Ré Mi. rs

8) No BBB11, Boninho colocou muitos participantes que, de certa forma, já transitavam no meio artístico. Na sua opinião, esse grupo de participantes está mais interessado na fama ou no prêmio? Esse medo de se expor e essa vontade louca de aparecer na primeira semana pode ser um sinal de que o programa pode não ter um grande barraco ou ficar sonso?

Geralmente, as intrigas não aparecem logo na primeira semana. As pessoas vão se conhecendo e, a principio, tendem a ser todos amiguinhos, pra evitar dar qualquer motivo para voto. Ninguém quer sair dali, principalmente na primeira semana. Mas aí é que deve o diretor deve entrar em ação e criar oportunidades para que esses atritos comecem a existir, para que as pessoas comecem a se expor. Na minha opinião, essa é uma das turmas mais resistentes a isso e, por isso mesmo, Bones (apelido do Boninho na net) deveria ser mais participativo, o que não tem acontecido. Ainda acho cedo para dizer como o programa será, se ruim ou bom, no momento, não me agrada muito. No entanto, também acho que só vimos muito a casca dos participantes.

9) Quais edições que você mais gostou do BBB? Comente.

Confesso que minha memória não é tão boa e que, até o BBB10, eu não comentava sobre o BBB na internet, só acompanhava as edições e não era diariamente. Mas lembro ter gostado do BBB1, por tudo ser muito novo e porque o elenco foi muito bom, rendeu. Também gostei do BBB5, o do Jean Willis. E gostei ainda do BBB7, me divertia com as investidas de Alberto Cowboy contra o Alemão, que eu não gostava.

Creio que os melhores programas são aqueles em que os participantes sejam pessoas bem complexas e diferentes, que tenham querido mesmo estar ali e agarrar aquele prêmio. Isso acirra a disputa. Especialmente se dois grupos opostos se formam. Antigamente, isso chegou a acontecer naturalmente. Ultimamente, Bones têm criados grupos para forçar que isso aconteça desde o início. Essa jogada do diretor só é vista aqui na edição brasileira. Não me agrada. Acho que os grupos formados naturalmente, por afinidade, tendem a ser mais fortes e gerar mais polêmica.

10) Na sua opinião, os participantes que comandam o tom de cada edição ou a produção deve intervir quando o programa começa a virar uma colônia de férias?

Sim. Como disse na outra resposta, esse é o papel do diretor. Além de um jogo, aquilo é um programa de entretenimento. Os telespectadores assistem para ver uma “briga” por um milhão e meio de reais e para se divertirem. Colônia de férias e marasmo não entretém ninguém.




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Jornalista

MAIS CAFÉ, POR FAVOR!

3 comentários

  1. Eu não gosto de BBB, A fazenda e simililares, não sou muito de ter curiosidade com relação à vida alheia, mas não posso negar que estes programas, apesar de serem meros entretenimentos, nos oferecem uma gama de assuntos para debates que vão desde a dita "manipulação" à reclusão de pessoas dentro de um microcosmo...
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    http://sublimeirrealidade.blogspot.com/2011/02/tropa-de-elite-2-o-inimigo-agora-e.html

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  2. Achei bastante interessante o post e a entrevista, mesmo achando que Reality Shows são uma idiotice, hehe.

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  3. A entrevista está ótima.
    E eu odeio esses reality shows, acho perda de tempo!


    :)

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