#CaféEntrevista: Jornalista acusa Record de roubo de imagem

janeiro 19, 2011




Será que vale tudo por alguns pontos a mais no Ibope ou por uma "exclusiva"? Esta semana, o jornalista e blogueiro Luciano Zimbrão, autor do blog BADARTS, da cidade de Teresópolis, no Rio de Janeiro, sem querer, entrou no “olho do furacão” da briga de audiência entre as duas principais emissoras de TV. 

Tudo porque, a Record usou de forma indevida um vídeo feito por Luciano no qual ele havia gravado o resgate do amigo que havia sido soterrado pelas fortes chuvas que arrasaram a região serrana no Rio.

Para quem não se recorda, as imagens feitas por Luciano rodaram o mundo e foi a matéria que abriu o Fantástico no último domingo (16/01). Por já ter um acordo para ceder as imagens à Globo, Luciano não negociou com mais nenhuma outra emissora.


Logo depois, vendeu o vídeo para Reuters. Entretanto, a produção da Record não aceitou um "não" como resposta. Mesmo sem autorização, a emissora de Edir Macedo resolveu exibir as imagens do resgate e sem o crédito de quem as fez, mostrando o nível ético da “TV de Primeira”.

Um jornalista mineiro, que preferiu não se identificar e trabalha há muitos anos no mercado, confirmou a agressividade da produção da Record. "No telefone, eles acham que são o dono do mundo. Querem tudo para ontem e não respeitam os colegas. 
A impressão que dá é que eles são capazes de fazer qualquer coisa por uma exclusividade. Tratam o jornalismo como uma gincana. Querem tanto o lugar o da Globo, mas se esquecem do fundamental: respeito", desabafou. Confira abaixo a matéria exibida no Fantástico:



Luciano é jornalista, produtor de audiovisual, chargista, blogueiro e apresentador de um programa de TV local. Em entrevista ao @cafecnoticias, ele fala sobre “lambança” da Record, o sensacionalismo da cobertura da tragédia das chuvas na região serrana no Rio e apresenta para o leitor o carinho e credibilidade que ele dedica ao jornalismo regional feito em Teresópolis em seu espaço na web. Acompanhe!
1) Nesta semana, o seu blog entrou no "olho do furacão" da briga pela audiência, quando a Rede Record usou de forma indevida um vídeo que você fez. Na hora que isso aconteceu, o que você sentiu? Qual é a avaliação que você faz da atitude desta emissora?
Ódio é a palavra certa para definir o que senti. Gritei, xinguei! Meu filho ficou chorando com medo. Colaborei para a matéria da Rede Globo porque houve uma identificação imediata com a proposta do jornalista Chico Regueira que focou o assunto sem sensacionalismo, injetando esperança não só nos teresopolitanos mas em todos os atingidos nessa tragédia também em outras cidades. 


Essa era a nossa maior missão que foi extremamente prejudicada pelo uso indevido dessas imagens pela Record que mesmo sabendo da minha posição contrária exibiu o material de forma sensacionalista antes que a matéria do Fantástico fosse ao ar. Não tiveram sequer o cuidado de citar o autor da imagem, coisa que a Globo não só fez como também foi além me entrevistando sobre o ocorrido. 

Mesmo sem nenhum contato da emissora sobre a questão, continuo acreditando que essa lambança partiu de uma equipe de reportagem inconsequente que jamais teria o aval dos homens sérios daquela empresa. Prefiro acreditar que eles não sabem disso tudo ainda e que tão logo saibam me procurarão para sanar a situação, afinal pelo que fui informado, por lá se usa o slogan "jornalismo sério é aqui".
2) Muitos sites noticiaram que você teria vendido o vídeo para a Globo por R$ 10 mil, mas no seu blog você deixa bem claro que não houve venda. Como a equipe da Globo te abordou e porque você resolveu ceder as imagens a emissora dos Marinho?

Em momento algum a equipe da Globo falou em valores comigo. Fui procurado pelo Jornalista Francisco Regueira do Fantástico e após uma conversa firmamos uma parceria onde cedi o material em troca de acompanhá-los para captura de novas imagens para uso próprio, inclusive de um makin of da reportagem deles. A confusão se deu, acredito eu, por uma negociação com a Reuters. Só depois da exibição, é que vendi, não esse, mas outros vídeos para a Globo. Esse material específico, como ficou claro na matéria exibida pelo Fantástico, foi cedido para eles.
3) Em vídeo, é nítido a agressividade e insistência que a produtora da Record lhe trata. Isso lhe assustou? Na sua avaliação, há um certo desespero da Record por exclusividade?


Pois é... só resolvi gravar a conversa após a insistência exagerada da tal "Monique" que se apresentou como uma produtora da Rede Record imbuída da missão de conseguir esse material. "Vim até Teresópolis só para isso" - disse a 'produtora". É importante assistir esse vídeo para que todos tenham noção dessa lambança:


Quanto se há ou não desespero da Record por audiência, acredito que o melhor caminho para o reconhecimento do trabalho é fazê-lo bem feito. Se compararmos as matérias sobre o mesmo assunto feitas pela Globo e pela Record, fica nítida a diferença. Essa é uma de minhas indignações. Colaborei com a Globo pois houve identificação imediata com a proposta humanitária da matéria. Aí aparece a Record, usa contra a minha vontade o meu material e ainda consegue estragar esse trabalho, isso através de uma matéria que fica anos luz da exibida pela Globo. Lamentável sob todos os pontos de vista.

4) Nessa semana, boa parte da imprensa deu uma barriga sobre a história do cachorro caramelo. Como jornalista, o que mais lhe chamou a atenção nesta história? Faltou apuração? Foi má fé?

Quem sou eu para dizer o que se passou na cabeça desse povo ao inventar essa história. O fato é que nós aqui de Teresópolis conhecemos o cachorro como também seu dono e acho que quando resolveram inventar esse dramalhão não podiam imaginar que seriam desmascarados pela "imprensa anã" de Teresópolis.
5) Ao ler o seu blog, percebemos que você dedicou espaço total a cobertura local da tragédia da chuva em Teresópolis. Porque você resolveu cobrir a tragédia de forma independente?

O BADARTS existe há cinco anos e nele trabalho com uma mistura de informação e humor, através de charges, fotomontagens e tudo mais que puder ser usado nesse sentido. Ele tornou-se referência em informação por aqui e o trabalho todo é mantido pelos anunciantes. Sempre trabalhei de forma independente. Não poderia deixar de informar meus leitores a respeito do que está acontecendo por aqui e dessa forma fui pra rua com meu equipamento para registrar tudo isso. Sei que é o que o meu leitor quer ver e é isso que fui buscar.

6) Como morador, o que você tem achado da cobertura da imprensa, de modo geral, sobre a tragédia das chuvas na região serrana do Rio de Janeiro? O sensacionalismo em cima do fato atrapalha?

A imprensa está mais perdida que cachorro quando cai do caminhão de mudança. Soube que já tivemos caso de uma repórter que sobrevoava o lago Comary reportando que se tratava de uma área inundada pelas chuvas. Não conhecem os bairros, as autoridades, as pessoas... diante da dificuldade que encontram para conseguir um bom material, há quem prefira partir pro sensacionalsmo e até mesmo para a invenção de histórias. Sei a importância da formação acadêmica de um jornalista, porém acredito que ela não deva jamais ser mais importante que o seu caráter. Informação é coisa séria.

7) Você acompanhou o único resgate em vida gravado em vídeo que, por coincidência, é de seu amigo. Como você soube desse resgate e como foi para você gravar esse momento histórico e pessoal?

Minha maior preocupação era ter que dar uma notícia ruim sobre o caso para o meu filho que ama o Marcelo. Sinceramente, achei que seria quase impossível que ele saisse daquela com vida. Era o segundo resgate que filmei naquele dia e nos momento finais a emoção acabou falando mais alto que o profissionalismo, como fica nítido na câmera que não parava de tremer. Hoje vejo que o mesmo Deus que o tirou daquele local, me pôs ali para registrar tudo aquilo. Tenho plena certeza que todos se emocionaram com aquele registro que serviu como uma injeção de esperança para quem pensa que não há saída para seus problemas.
8) Depois do "acontecido", a Record chegou a entrar em contato contigo? Você pretende processá-los?

A Record, que antes me ligou por três vezes, depois de exibir as imagens, mesmo sabendo que eu era contrário a isso, não entrou em contato comigo e nem sequer me deu o crédito pelo trabalho. Eles sabiam que o vídeo era meu e sabiam que eu não queria que fosse exibido na emissora. Isso fica muito claro no vídeo onde a produtora tenta me convencer do contrário. Darei uma semana para eles, não havendo acordo, irei processá-los sim até pra que os responsáveis pela lambança reflitam mais antes de se apoderar do trabalho dos outros dessa forma lamentável. As coisas não são assim. Se fosse com eles eles já estariam fazendo um escãndalo.

9) Aumentou o número de visitas do seu blog por conta de toda essa repercussão. Como produtor de conteúdo para web, é gratificante saber que a população e os colegas da imprensa já elegeram o seu espaço como fonte de informação credível?

A partir do momento que a Globo citou o blog - coisa que a Record não fez, cheguei a atingir mais de 79 mil acessos. É impressionante a potência da emissora. Quanto a credibilidade do BADARTS, isso não vem de hoje. A imprensa local e as autoridades já o consideram como referência. Meu trabalho é voltado para a minha região e sei que por aqui tenho o respeito pelo trabalho que desenvolvo. Lamento que não tenha o mesmo tratamento pela Record que pelo jeito continua achando que pode usar o trabalho dos outros dessa forma desrespeitosa. Questão de tempo até que a justiça lembre pra eles os princípios do jornalismo.

10) Para encerrar a entrevista, gostaria que você falasse sobre como está a situação de Teresópolis. As chuvas e os deslizamentos já pararam? Como está a população e a entrega das doações de várias partes do Brasil?

Teresópolis está se recuperando do caos que atingiu alguns de nossos bairros. Nosso centro da cidade está intacto, como também todos os nossos pontos turísticos. As localidades que sofreram com as chuvas receberam um volume de água que devastaria qualquer lugar do planeta. Fotos aéreas mostram que áreas de mata virgem também sofreram deslizamentos com a forte chuva. A região é de escarpa íngreme e a forte chuva, jamais vista antes, funcionou como um detonador. IREMOS RECONSTRUIR TERESÓPOLIS. Estamos trabalhando para isso. Se a imprensa deixar o sensacionalismo de lado, já estará dando uma grande ajuda ao nosso povo nesse sentido.



Observação: Caso queira o direito de resposta, a Rede Record pode acionar o blog que publicaremos a versão da emissora sobre o ocorrido.



Fotos: Luciano Zimbrão.




Gostou do Café com Notícias? Então, siga-me no Twitter, curta a Fan Page no Facebook, circule o blog no Google Plusassine a newsletter e participe da comunidade no Orkut.







Jornalista

MAIS CAFÉ, POR FAVOR!

12 comentários

  1. Ei, Wander! Como jornalista fico triste em saber que uma emissora do porte da Record se presta a esse tipo de papel que desacredita o jornalismo da emissora.

    Durante um tempo, fui assessora de imprensa de uma importante instituição e já tive brigas homéricas com uma produtora da Record Minas - que prefiro não falar o nome, que achava que a gente estava por conta dela. Isso é um absurdo! Tem que ter respeito com as pessoas, ainda mais o jornalismo que é uma profissão colaborativa.

    No caso do Luciano, fico mais chocada com a "cara de pau" da emissora de usar as imagens e não aceitar um não como resposta, como você bem pontuou no início da entrevista.

    Espero que o Sincato dos Jornalistas do Rio, a Abraji e a própria Fenaj se manifestem sobre isso, pois esse fato é uma prova viva da falta de ética e do derespeito.

    Parabéns ao seu blog que sempre levanta debates e reflexões importantes, desnudando a mídia e a comunicação.

    Beijos

    ResponderExcluir
  2. Acho, independente de quem utilizou o material informativo, triste que se brigue por ibope ou qualquer outro objetivo que não seja nos mostrar aquele horror que nada mais é do que a falta de competência do governo em assistir pessoas em área de risco.

    beijos, Wander. Saudades tuas.
    Maria Marçal - Porto Alegre - RS

    ResponderExcluir
  3. Genial esta entrevista com o Zimbrão.A grande impressa ao meu ver só foi útil p/ propagar
    a necessidade das pessoas desabrigadas e sensibilizar as pessoas p/ ajudar.Quanto ao cachorro Caramelo suspeitei que fosse historinha inventada. Obrigada,Wander por dar voz aos jornalistas cidadãos(jornalistas de verdade). Abraços.

    ResponderExcluir
  4. Lendo seu artigo vejo que seu ódio ñ foi só pela matéria que era sua,tmb não concórdo com este tipo de atitude,sou cinegrafista prof.por mais de 20 anos,e já tive imagens minhas roubadas por outras emissoras,mas vejo algo mais,me parece que voce tem ódio da Record,isso ñ é bom,assim voce sempre fará um julgamento condenativo,falar em roubo entre as duas emissoras citadas ñ podemos ter lado,em matéria de roubos a Globo tmb é a numero 1.Não gosto de preferencias,o melhor é fazer um leilão do material e ser imparcial,no fundo voce tmb quis tirar vantagens.

    ResponderExcluir
  5. Oi Oswaldo!

    Não tenho ódio, nem amor. Até porque tenho amigos e conhecidos que trabalham nesta emissora.

    O que quero com a entrevista é mostrar para o público como anda os bastidores da nossa mídia televisiva e levantar o debate sobre a ética profissional e empresarial.

    Até que ponto vale tudo por uma exclusiva? Leia a entrevista com calma que isso vai ficar mais claro para você.

    Se fosse tão imparcial como você aponta, não teria deixado o espaço aberto para a Record se manifestar. Você não acha?

    Abraço

    ResponderExcluir
  6. Penso que alguns "jornalistas" preocupados com a venda de uma boa história e com a fama(Acredite! Há aqueles que acreditam piamente que são artistas e querem ser mais estrelas que o elenco da maior rede televisiva).Eu também produzi material jornalistico que foi publicado sem minha autorização e o que é pior assinado por outra pessoa,que aliás é aluna de comunicação assim como eu. Caráter,compromisso com a sociedade e senso de justiça não se aprende na faculdade ,vem de berço. Tenho horror a quem se diz jornalista e almeja fama.

    ResponderExcluir
  7. Não concordo que um material jornalístico seja divulgado sem fonte e muito menos sem remuneração justa, já que se trata de uma forma de profissionalismo. Agora, que o desespero da Record é nítido, não há o que discutir. Para quem é bom observador basta assistir aos telejornais e constatar a repetição das notícias chegam até a ser reduntantes. Sem contar a falta de credibilidade das notícias, pois trata-se de uma emissora que enrriquece a cada dia as custas de fiéis. Enfim é lamentável!

    ResponderExcluir
  8. Então me enganaram com aquela noticia do cachorrinho... esses jornalistas...

    ResponderExcluir
  9. O interessante é a Record falar em alto e bom som que faz jornalismo sério, desesperadamente imitando o estilo da concorrente, enquanto faz uma pataquada dessas por conta de números de Ibope, não levando em conta o autor do vídeo, nem a situação das pessoas da região serrana ou a condição da vítima que estava sendo resgatada. Lamentável...

    ResponderExcluir
  10. Bom, em primeiro lugar, não achei que a jornalista da Record foi agressiva no vídeo mostrado. Também não acho bacana citar a igreja, qualquer que seja a denominação da pessoa (já esclarecendo que não frequento a igreja de Edir Macedo). Agora, a Record ter usado esse material, sem permissão, é péssimo e anti-ético, com certeza.
    O leitor Oswaldo estava se referindo ao blogueiro de Teresópolis, aí, ele falou diretamente com ele, e ficou parecendo que se dirigia ao meu compadre querido, Wander, autor desse texto e deste blog maravilhoso. Como tem essas confusões nos comentários dos blogs, né? rs
    Quanto à indignação do Luciano, ela é válida, obviamente. Mas, se tem valor sentimental, divulgar no Fantástico pode, né? Usar "valor sentimental" como argumento contra a Record não dá. Enfim, ele estava nervoso, a gente entende, eu tb ficaria.
    Coisas do jornalismo anti-profissional. Acontece aqui e em todos os lugares do mundo. Tem que pôr a boca no trombone mesmo e vc está de parabéns, compadre, por abrir esse espaço para que o Luciano conte a sua história.
    Gostaria muito de ouvir a Record agora.

    Joel, jornalista é fogo, né? hehehe Fica triste não. rs

    Beijos pra vc!

    ResponderExcluir
  11. Record jamais vai ser melhor que a Globo. Não há limites e ética para a emissora de Edir Macedo. Eles vão passar por cima de tudo para baterem a Globo, mas emissora carioca tem muito mais qualidade. Abraços.

    ResponderExcluir
  12. É a guerra da carne, né.
    Tudo por ibope e audiencia, afinal, as emissoras vivem disso! Só que alguns "profissionais" se esquecem de algo essencial em toda carreiras: Ética... mas isso a emissora do Edir Macedo, já mostrou que deixa em dúvida.

    www.teoria-do-playmobil.blogspot.com

    ResponderExcluir