O impacto de uma foto e o respeito com o público

outubro 22, 2009


Graças às novas tecnologias, nunca foi tão fácil enviar arquivos de áudio, foto e vídeo e espelhar esse conteúdo pela internet. Boa parte dos veículos de comunicação incentivam o leitor a enviar esse material para as redações como forma de ajudar o jornalismo a relatar as últimas notícias do momento.

Hoje (22/10) no final da tarde, por exemplo, aconteceu um grave acidente na avenida Nossa Senhora do Carmo, na zona sul de Belo Horizonte, envolvendo 19 veículos e deixando várias pessoas feridas.

As primeiras informações divulgadas pela Empresa de Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) e Corpo de Bombeiros Militar (Cobom), dão conta que um caminhão desgovernado bateu em vários carros na altura do cruzamento com a avenida Uruguai, no sentido Centro. De acordo com o Cobom, três ônibus, oito carros e alguns pedestres foram atingidos.

Foi por meio de imagens enviadas por internautas, que muitos jornais conseguiram algumas cenas inéditas do acidente. Mas, uma coisa é noticiar um acidente com a ajuda de uma foto e outra completamente diferente é expor a vítima e, consequentemente, o público a uma situação constrangedora com o intuito de chamar atenção, logo na primeira página.

Longe de fazer uma comparação - até porque cada caso é um caso, apenas a título ilustrativo, muitas pessoas acharam estranho o fato da Folha de São Paulo publicar uma foto de um homem morto dentro de um carrinho de supermercado, na edição de terça-feira (20/10), a respeito da guerra do tráfico no Rio de Janeiro, que acontece desde o último domingo (18/10).

Confesso que, como jornalista, às vezes temos que nos submeter a linha editorial de um determinado veículo, pois somos profissionais pagos para representá-lo. No entanto, me assustou ver a Folha, que possui um publicado mais elitizado, se submeter a essa atitude que lembra muitos os jornais popularescos que trazem notas sobre jornalismo policial, futebol e mulher pelada.

Claro, o que aconteceu no Rio, no último domingo (18/10), causa espanto e deixa bem claro para o mundo que estamos em guerra civil com os traficantes - principalmente, num momento em que comemoramos a sede de dois eventos esportivos: a Copa do Mundo em 2014 e os Jogos Olímpicos em 2016.

Em matéria publicada no site Comunique-se, o ombudsman da Folha, Carlos Eduardo Lins e Silva, disse que às vezes é necessário publicar uma foto como aquela, para despertar reflexão nas pessoas. Ele não defende o uso frequente de imagens assim, mas em alguns momentos, por tratar de segurança pública, Lins e Silva acredita não ser uma decisão editorial condenável.

Particularmente, discordo. Não estamos falando só de uma foto, mas de uma pessoa que tem familiares, amigos e que teve o corpo exposto para todo o Brasil - independente se é criminoso ou vítima. Querendo ou não, esse tipo de "janela" é uma glamorização do crime. Acredito que o jornalismo precisa respeitar o público e, principalmente, o leitor que lhe confere credibilidade e fonte de informação noticiosa para a formação de opinião.

Detesto cobertura de velório ou enterro que o cinegrafista ou fotógrafo fazem imagem do corpo dentro do caixão, por exemplo. Isso chega a ser bizarro! Sempre fui contra porque acredito ser antiético. Jornalismo é, antes de tudo, compromisso e respeito com o público. E você, é contra ou a favor da exposição de mortos e feridos nos noticiários?




Fotos: Trama Fotografia, Folha de São Paulo e O Tempo.






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Wander Veroni

Jornalista

MAIS CAFÉ, POR FAVOR!

25 comentários

  1. estou surpresa em ver essa foto em um jornal de tanto nome... mas hoje em dia a imprensa esta cada vez mais oportunista, nem devia me surpreender

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  2. Não me surpreende tal foto estampada na Folha de São Paulo. Este jornal, além de fazer campanha contra o Lula tentando melhorar a imagem de Serra, agora faz campanha contra a eleição do Rio de Janeiro contra as Olimpíadas.

    Daí a foto: sensibilizar seus leitores para convencê-los que a eleição do Rio de Janeiro para as Olimpíadas foi péssimo.

    Se você ver a edição de hoje da Folha de São Paulo, verá que foi feita uma entrevista com o Presidente da República e que os comentários sobre as afirmações de Lula não coincidem com o que ele disse.

    Assim, meu amigo, não se surpreenda com mais nada do que for publicado na Folha.

    Abraço

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  3. @Janine: Tb me surpreendeu o fato da Folha se sujeitar a isso. Acredito que foi uma atitude equivocada e precipitada. Abraço

    @Erick Figueiredo: Oi Erick! Me surpreendo pq a qualidade editorial da Folha está caindo a cada ano e isso é muito triste. Leio este jornal todos os dias e não só a Folha, mas a maioria dos jornais paulistas adotaram uma postura não contra o governo, e sim contra o Lula - o que é lamentável. Obrigado pelo comentário. Abraço

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  4. Ah, imprensa, qto mais eles ganharem, não importa qtas vidas são perdidas ou machucadas...

    Para alguns,isso não importa!

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  5. Me surpreendeu a atitude da Folha. Creio que o sensacionalismo estampado foi para vender mais publicações pela capa. É lamentável.
    Visite tb: www.blogtelenoticias.com

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  6. Eu acho que a notícia já das mortes já é chocante o suficiente, não era preciso mostrar o corpo das vítimas para chamar a atenção.

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  7. Realmente é uma linha tênue e complexa entre o bom senso e o populesco. Sou de SP e nunca vi uma manchete dessas na Folha.
    Não sei se glamouriza o crime, mas também não adianta esconder isso da sociedade.

    Abraços.

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  8. Tivemos essa foto publicada aqui também e fiquei chocada.

    Deprimiu-me aquilo. Bem como falas, Wander...será que não pensam nos familiares para estampar essas atrocidades do mundo do crime?

    Será que as pessoas comprarão mais jornais com uma foto sanguinária daquelas?
    Creio que não.

    Acho violento isto, até porque crianças veem o jornal numa mesa, numa estante e é mais um dos muitos estragos que se faz com a pureza da vida.

    Beijos,

    Maria Souza - Porto Alegre - RS

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  9. Nada como a boa e velha "audiência" para justificar qualquer barbaridade.

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  10. Cara, parabens pela postagem, tu já viu as fotos que tiro e as que costumo por em meus blogs e deve ter percebido que tento respeitar ao máximo as pessoas fotografadas e as que estão vendo as fotografias, no meu ponto de vista fotos como esta do corpo no carrinho, são uma falta de respeito com o publico e com o fotografado.

    vim ver aqui, mas o primeiro intuito era o de pedir tua opinião lá no meu blog, se possível dê uma passadinha lá cara,
    desde já agradeço


    Abraços.

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  11. Eu sou totalmente contra, pois mesmo se o morto foi bandido, ele tem familia, e muitas vezes a familia não tem culpa disso.

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  12. as fotos servem pra chama atenção da gente em relação a um assunto.se não fosse essa foto,ninguem cometaria,mas tambem serve pra apelar,alguns jornais mostam mais coisas sobre como conseguiram aquelas imagens do que sobre o assunto.


    449 seguidores no blog não é pra qualquer um,parabens

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  13. Chocante mesmo!
    Admiro jornalistas, não "as empresas" jornalisticas.
    Abraços.

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  14. na minha opnião nessa situação a atitude foi correta! para expor não só para todos os estados do brasil e para o mundo a situação que se encontra a segurança pública do nosso país! não se pode viver tranquilo. o simples fato de esconder a verdadeira situaçâo, que jà passou do limite faz tempo. minimizar que o estado do rio de janeiro está nas mãos do crime, diputa de drogas entre traficantes, polícia acuada com armamento inferior, em um país, cidade, em que sediará uma copa do mundo e uma olimpíada logo.
    e sobre o corpo, não foi focado o rosto, ou divulgado o nome da "vítima". com isso creio eu que a atitude foi correta e cobra atitudes já esperadas das autoridades de segurança.

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  15. É mas isso vende. Não é culpa da FOlha e sim do publico que adora isso.

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  16. Aprovo a divulgação da foto, por não considerar este um gesto sensacionalista. Não se pode culpar a mídia pelo fato de que a realidade é, algumas vezes, tão horrenda. É o que penso.
    E antes de encerrar, faço a você um questionamento: se desaprova a atitude, por que decidiu reproduzir a imagem aqui em seu blog?
    Boa sorte e obrigado.

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  17. Querido é que você não conhece alguns programas que passam aqui no Nordeste, e que dizem que jornalísticos. Não sei se você conhece o Na mira, um programa aqui de salvador, com várias cópias pelo Nordeste. Passa o corpo na hora do almoço, e o que é pior as pessoas gostam, e tem boa audiência, o povo gosta de espetáculo.

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  18. Oi Márcio e leitores do Café com Notícias!

    Tenho gostado muito dos comentários porque cada um soube trazer uma visão para o debate em torno do uso de imagens chocantes nos noticiários.

    A questão está intimamente ligada ao perfil editorial do jornal analisado em si e o fato de expor uma foto dessa na primeira página. É a partir desse raciocínio que começo o debate no artigo.

    Preste atenção: se eu quisesse chamar atenção do público para o bizarro, teria colocado essa foto logo no início do texto. Assim ela aparecia na home do blog. Resolvi publicar a foto quase no final do post para que as pessoas entendam o que foi discutido, apenas.

    O que quero mostrar é que cada jornal possui um perfil editorial e que isso assegura como os jornalistas de um dado veículo se comportarão perante um assunto.

    Não se trata de omissão. Muito pelo contrário: trata-se de respeito e como o assunto é abordado, seja para informar, debater ou instigar.


    Abraço,


    Wander Veroni
    Jornalista e editor do Café com Notícias.

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  19. Wander, sempre não gostei de imagens até mesmo de feridos, imagine de mortos...
    É algo muito ruim, ou mesmo antiético...
    Mas vejamos, como bem lembrado, em certos momentos é necessário a publicação dessas imagens para servir de alerta. Afinal, um veículo de informação que não veicula imagens das tragédias ficaria maquiando a realidade, dando a falsa impressão de que tudo está indo muito bem... a ressalva que devemos fazer é não deixar isso se tornar banal.
    Mas no Brasil, com a gritande realidade que nos cerca, quase que dá para perder as esperanças, pouco da realidade se altera, o que temos mais a fazer?

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  20. Eu concordo com o Ombudsman da Folha. As vezes é necessário colocar imagens fortes na capa do jornal, para mostrar as pessoas a realidade do mundo. Sou assinante da Folha e sei que grande perta dos assinantes é de elite e classe média. Pessoas que não querem ver essas cenas, porque acham que elas não fazem parte do "seu mundo". A foto só mostra a sociedade brutal em que vivemos e defendo sua publicação. Abraços.

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  21. Wander, a sua matéria é excelente. Eu odeio sensacionalismo. Embora real, é deprimente ver isso na página principal de um jornal. Não julgo se o morto tem parentes ou não, os inocentes também os tem. Contudo o crime banalizado parece quadro corriqueiro do Brasil. Reparei que há alguns anos os jornais televisivos estavam só apresentando matérias deprimentes, tanto assim, deixei de assistir. Eu queria ver algo bom. Será que não existe nada melhor nesta vida? A violência só vem aumentando mesmo... mas quando só isso é apresentado as pessoas esquecem que ainda o "bem" vigora.
    Para finalizar, mostrando ou não na manchete o caos urbano, no mesmo dia o mundo já estava vendo aterrorizado o que aconteceu no Rio... eu sei disso porque tenho familiares e amigos morando em vários lugares do mundo.
    Então, como sediaremos eventos que atrairão mais pessoas para uma cidade "turística"?!
    Eis a questão.

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  22. Tb sou contra esse tipo de exposição, que ao meu ver, é desnecessária, e a médio e longo prazo apenas contribuem para a banalização da violência...

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  23. Este post está no Deslinks da Semana [6]. Parabéns!!!

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  24. Engraçado eu ler essa postagem hoje, visto que estou fazendo um trabalho para a faculdade onde abordamos a questão do posicionamento dos jornais. Realmente, em muitos casos o jornalista deve abrir mão de sua posição para defender a linha editorial do jornal onde trabalha. Algo que, eu confesso, não sei se conseguiria fazer hoje.
    Sobre as fotos, muitas vezes a linha entre o sensacionalismo e a notícia é muito tênue, como pode-se ver na capa da Folha de S. Paulo.
    Por uma questão de respeito aos familiares das vítimas, realmente, não deveriam expor suas fotos, ainda mais em capas.

    Mas, como hoje em dia o dinheiro (vindo das vendas) acaba falando mais alto em alguns casos, fica complicado esconderem tais cenas...

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  25. Eu particularmente não gosto de ver fotos que tragam mortos ou situações embaraçosas ... acredito q existem diversas maneiras de falar sobre um assunto e levar a uma reflexão sem ser mostrando fotos bizarras

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