Dia das Crianças - história, alegria, esperança e religiosidade

outubro 12, 2008

As ruas que todos os dias nós usamos como travessia, serve também como morada para milhares de outras pessoas. Entre elas está Paulo, um menino de 13 anos, que mora entre as ruas Caétes e São Paulo, no centro de Belo Horizonte.

À noite, quando voltava do cinema, encontrei ele perambulando pelas ruas pedindo alguns trocados. Na mão, ele segurava uma sacolinha com um radinho de pilha, algumas balas e bombons.

Na conversa que tive com Paulo, ele fugiu de casa porque a mãe o agredia todos os dias. Cansado de apanhar sem motivo, ele resolveu morar na rua e está há três anos.


Paulo é comunicativo, divertido e adora uma palhaçada. O que mais chama atenção é que ele não está sujo, nem mal vestido como muitos meninos de rua.

"Só porque eu moro na rua quer dizer que vou ficar fedendo por aí, né!". Risos. Concordo com Paulo. Quando sente vontade de tomar um banho ou usar o banheiro, ele pede para alguns dos funcionários dos móteis daquelas proximidades, para que faça a sua higiene pessoal.

Cheio de moedinhas no bolso, Paulo diz que sábado e domingo são os piores dias de se passar na rua, pois o restaurante popular, que serve comida a R$ 1,00, não abre. Daí ele tem que comer em lugares mais caros, segundo ele. Mas ontem a noite, Paulo estava animado.

"Amanhã eu vou para o Parque Municipal bem cedo. Vai ter um tanto de coisa legal para fazer lá. Dá para brincar com outras crianças e ganhar um tanto de doce. Moço, me dá um dinheiro para eu ir nos brinquedos amanhã?". Claro, respondi. Mesmo sendo contra dar esmolas, a história de Paulo me comoveu. No ar da inocência, ele me presenteou com um bombom. Isso realmente me emocionou.

O ônibus passou, entrei e fui para casa. Paulo ficou lá na rua. Insisti para que ele voltasse para casa, pois a mãe dele deve estar preocupada e, provavelmente, deve estar procurando ele por aí. "Minha mãe tem um monte de filho, não vai sentir minha falta. Além do mais, ela me bate e estou mais feliz na rua do que em casa".

Isso é o que mais acontece e aumenta o número de meninos de rua. Muitas pessoas fogem de casa por causa de briga ou conflito familiar. Pensei nas minhas conversas com a Dra Cristina Coeli, da delegacia de Desaparecidos, que me ajudou com informações para a matéria que escrevi sobre o tema para a Revista Vox Objetiva e para a campanha que estou promovendo aqui no Café com Notícias, divulgando dados e fotos de pessoas desaparecidas.


Também lembrei de Nossa Senhora Aparecida, padroeira desta nação, cuja data também é comemorada hoje (12/10). Nós, os brasileiros somos o único povo que comemora duas datas tão bonitas no mesmo dia.

Fiquei imaginando que no Brasil de 1700 e tantos já se cutuava uma santa negra, achada no rio por pescadores e que atrai romeiros de todas as partes do país.

Mesmo quem não é católico, fica a mensagem de fé dessa data e como a fé é importante para que alcancemos as nossas metas/objetivos. Independente da religião ou no que possa acreditar, é importante ter fé e acreditar que dias melhores virão.

Nem sei se realmente o nome daquele moleque era Paulo. Mas hoje (12/10), dia das crianças, com toda alegria que a data representa, vale a pena lembrar que ainda existem tantas outras por aí, pedindo atenção e carinho.

"As pessoas tem medo de conversar comigo. Você e sua irmã, não. Quando passarem no centro de novo, vou conversar com vocês. É bom fazer amizades assim. Mas eu não vou sair da rua de jeito nehum. Gosto daqui. Não uso droga, nem nada. Eu só quero é ser feliz", disse o garoto. Todos nós, Paulo. Todos nós só queremos ser felizes.




Quer saber mais detalhes? Siga-me no Twitter. Essa semana eu volto com mais Café com Notícias.




Jornalista

MAIS CAFÉ, POR FAVOR!

18 comentários

  1. Nossa que lindo seu texto.
    Cheguei a me emocionar aqui.
    Gosto de passar por aqui, mas esse é o primeiro texto que leio e me emociono.
    Parabêns...
    Passa no Estórias.

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  2. Krak.......
    belo texto......
    ficou muito bom.....
    maneiro não é todo mundo q tem essa "disposição" de procurar saber um pouco do próximo, parabéns pela iniciativa.....
    flw..
    abraço......

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  3. Nossa senhora,
    tu bem ke poderias falar da confraternização que tem no pará...
    Cirio de nossa senhora...
    a maior festa católica no mundo..
    ;D

    muito bom o blog..

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  4. Olá Wander,

    Sabe, moro em uma cidade pequena e por aqui não se vê crianças moradoras de rua, mas sei que temos o costume de olhar com preconceito estas crianças, sempre pensamos o pior...

    Uma ótima crônica e postado em um dia realmente especial..

    Abraços,

    Dany Z.

    www.danyziroldo.blogspot.com

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  5. que texto bonito acho um absurdo as pessoas maltratarem seus próprios filhos sem motivo

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  6. Ê, amigao, vc tinha razao. É do jeito que eu gosto e, este, especialmente tocante. Vc sabe que eu ainda nao tenho filhos próprios, por enquanto por opçao, mas quando me deparo com essas crianças, a minha vontade é pegar todas, colocar em casa e educar.
    O Paulo é muito lúcido. Deus permita que ele continue com a cabeça no lugar, mas tememos, pois o meio em que está nao vai contribuir em nada pra isso.
    Se vc o vir de novo, me conta, tá bom?
    E feliz restinho de dia das crianças para o Paulo e para todos nós!
    Um beijo emocionado e parabéns mais uma vez, meu amigo bonito!

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  7. Wander,

    Histórias assim fazem-nos refletir acerca da importância da educação e de medidas sociais contundentes, que comecem desde o controle de natalidade para famílias de baixa renda até a assistência a essas famílias.

    É demagogia dizer que medidas assistencialistas são um câncer que corrompe nosso país. Na verdade, elas são uma alternativa errônea de se concertar outro erro: o da exclusão social.

    Histórias como a de Paulo levam-me a refletir sobre o que podemos fazer para reverter esse quadro. E você amigo, já começou com sua parte: divulgando esse fato rotineiro, porém tratado com frieza e distanciamento por grande parte da sociedade e da mídia.

    Abraços.
    ___________________________________
    http://semfronteirasnaweb.blogspot.com

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  8. Bela postagem, adorei!
    Infelizmente as crianças são constantes vítimas dos adultos. Tenho certeza que uma infância perturbada leva qualquer criança a ser um adulto problemático. Toda criança é pura, inocente, sem maldade em seu coração. O que leva essa criança a ser um adulto problemático é a criação e o convívio com pessoas erradas. Aqui no Japão, onde moro há alguns anos, vejo jovens perdidos, entrando no mundo da criminalidade e sinto uma terrível pena deles e uma revolta grande, imaginando que tipo de pais que o criaram. Os japoneses são trabalhadores até o extremo, exagerados! FAMÍLIA não faz parte do vocabulário da maioria das pessoas, infelizmente. Falta AMOR! Sinto falta disso, o povo aqui é muito frio. BRasil, apesar de ser um país problemático é realmente um ótimo lugar para se viver, seu CALOR HUMANO passa a perna em qq tecnologia avançada dos países ditos desenvolvidos. Tenho saudades daí.

    Aprendendo a Língua Japonesa

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  9. Olá, Wander,

    recebi um selo, BLOG DE OURO, e estou indicando o 'Café com Notícias' para ganhar também...

    se aceitar recebê-lo:
    http://facetasdemim.blogspot.com/2008/10/blog-de-ouro.html

    um grande abraço.
    Ellen Regina
    www.facetasdemim.blogspot.com

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  10. muito bom seu texto.
    moro em um cidade pequena, por isso é muito difícil encontrarmos historias como a desse garoto por aqui.

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  11. É bastante difícil lermos relatos assim. Matéria interessante.

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  12. Nossa Wander!!
    Eu adoro vir aqui tomar meu café com notícias, mas esses dias eu estava meio abafada... mas hoje qndo eu apareço, me emociono!!!
    que post perfeito!!!
    beijão qrido!!!
    Boa semana!!!

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  13. emocionante Wander.

    A desatenção do nosso país com suas crianças é sempre revoltante, mas mesmo assim existem algumas pérolas que não se perdem como Paulo.
    Tomara que ele seja feliz, que encontre um rumo mais tranquilo, e mais que tudo, que outras crianças tenham a felicidade de serem acolhidas.

    abraço,

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  14. Saudações garoto!!!!!
    Votei em seu blog e espero que continue progredindo cada vez mais.
    Este email é pra lher dizer que se precisar de alguma colaboração ( colaboração MESMO) de alguma charge ou caricatura pode contar comigo ok? Se puder visite meu cantinho modesto no blogspot www.caricaturasbrasileiras.blogspot.com

    Conitnuo te ouvindo na nossa Itatiaia. Dá um abraço na gatinha da Selma e no ZéLino....., sábado te ouvirei, abraços e sucesso!!!!!!

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  15. Também já estive nessa situação, e agi da mesma forma que você, até escrevi um poema e tal, mas não sei aonde está, quando encontrar te envio.

    Bom, a situação é complicada, mas acredito que devemos estar aonde somos felizes, dar oportunidades para os garotos de rua se tornarem cidadões 'comuns' é um papel que todos deveríamos exercer, talvez uma parceria entre as empresas do centro e a prefeitura?

    Por outro lado, a mãe do garoto deve estar pirada por conta do desaparecimento do garoto...

    fazendo a análise antropolígica encontro muitas razões para justificar a atitude dos dois lados, então, prefiro não afirmar nada...

    Mas 'todos querem ser feliz'

    abras

    Passa lá

    http://minhainspiracao.blogspot.com/

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  16. Essa história bem que merecia ser publicada. Narrou os fatos de forma brilhante.
    A história do garoto se repete em milhões de outros locais.
    O que notamos é a desetruturação da família, que por sua vez gera um ciclo vicioso que aumenta o número de casos parecidos.
    O grande abismo social muitas das vezes é o formador desse quadro, que parece longe de ser findado. Mas ainda assim medidas devem ser feitas...
    Valeu,
    All3X

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