Uma boa entrevista é alma do negócio

maio 12, 2008

Em menos de um mês, duas entrevistas importantes que ganharam repercusão nacional e, até mesmo, internacional. A primeira, com o craque do futebol brasileiro Ronaldinho Fenômeno - envolvido recentemente com o escândalo dos travestis; já a outra, com Ana Carolina Oliveira - mãe da pequena Isabella Nardoni, assassinada no dia 29/03, ao ser jogada pela janela do Edifício London, em São Paulo. Pode parecer pouco, mas para a jornalista e apresentadora Patrícia Poeta, do Fantástico - jornalístico exibido aos domingos, às 20h30, na TV Globo - foi um passo importante para consolidar a entrada dela à frente da atração. Tudo bem que ela não é um rosto desconhecido do vídeo: já foi, por muitos anos, a garota da previsão do tempo, repórter e correspondente internacional. Mas só que agora, Poeta ressurge dentro de um novo contexto e desafio profissional: ancorar a revista eletrônica mais assistida da TV Aberta brasileira - praticamente, com o pé direito e com picos significativos de audiência.


Entrevistar não é uma tarefa fácil. Exige, antes de tudo pesquisa e dedicação: o entrevistador precisa levantar todo o histórico de cada situação, mostrar segurança nas perguntas e na maneira de levar o entrevistado. Outro detalhe importante: o fator da credibilidade e da segurança que a pessoa depositará no jornalista ao revelar detalhes em entrevistas exclusivas. Particularmente, Patrícia Poeta me ganhou, como telespectador e jornalista, pela maneira sincera de como ela revelou alguns detalhes da pré-entrevista: o fato de falar no ar que já conversava por telefone e que teve alguns encontros com Ana Carolina Oliveira antes da entrevista ser gravada, é uma maneira de humanizar o desconforto de estrevistar um mãe que teva a filha assassinada de uma forma covarde e com um peso emocional muito forte por se tratar de um entrevista que foi exibida no dia das mães.


Claro que não podemos esquecer de dar uma salva de palmas à produção do Fantástico que está por trás dessas duas entrevistas que pararam o Brasil - no quesito de repercussão. Porque Oliveira não deu entrevista para outra emissora? Tudo é uma questão de cativar a fonte, coisa que muitos de nós, jornalistas, somos orientados a não fazer. O quê? - pergunta o internauta. Nas redações, principalmente de mídia eletrônica, seja rádio ou TV, os produtores têm contato direto com o público externo. As pessoas ligam para as redações para reclamar da vida, da greve na escola do filho caçula, do buraco na rua que virou uma cratera e da falta ou corte de serviços básicos como água, luz e telefone.


Eu mesmo já ouvi de muitos colegas de profissão: "Desliga esse telefone! Pára de dar atenção ao público. Jornalista não é psicológo, nem despachante. Anda...vai produzir que nós estamos correndo contra o tempo". Só que esses colegas esquecem de um detalhe muito importante: às vezes, as melhores pautas vêm de sugestões do público. Claro que, com o tempo que você trabalha como produtor, você já consegue discenir as pesoas que estão fazendo trote, das pessoas sérias que, realmente, estão precisando de "ganhar à voz na mídia".


O tratar bem, na profissão de jornalista, só abre portas. Fidelizar a fonte é tudo. Voltando ao caso da Patrícia Poeta, tenho certeza que ela soube fidelizar essa fonte. Soube ser o ouvido e manteve uma certa independência. Falo "certa" porque para fidelizar, Patrícia teve que estabelecer um contato mais pessoal com a mãe de Isabella. Provavelmente, elas devem ter conversado outras inúmeras vezes, sobre assuntos variados e o mais importante de tudo: sem "forçar a barra". Ana Carolina Oliveira sabia que, ao dar entrevista para Patrícia Poeta, com total exclusividade, teria a possibilidade de dar a sua versão sobre os fatos, uma vez que ela preferiu se mantar neutra durante todo inquérito.


A Globo, mais um vez, conseguiu um mérito do seu departamento de jornalismo: pautou todos os jornalitas nessa segunda. Jornais impressos, rádios, outras emissoras de TV, sites jornalísticos, blogs, enfim, todo mundo que trabalha, direta ou indiretamente com a informação, está comentando pelo menos "um dedo" dessa entrevista. Depois dessa passagem em BH do 3º Congresso de Jornalismo Investigativo, comecei a me questionar mais como profissional sobre o quanto é importante os jornalistas, principalmente aqueles que trabalham nas redações, investir mais o jornalismo investigativo de precisão e de qualidade. Ou seja, investir em boas entrevistas e, conseqüentemente, em boas pautas. Desculpe leitores, mas não foi dessa vez, pelo menos por enquanto, que a imprensa brasileira vai mudar de assunto e deixar que o luto da família seja cumprido com respeito e dignidade. Até quando ficaremos a bater na mesma tecla?




Essa semana eu volto com mais Café com Notícias.



Jornalista

MAIS CAFÉ, POR FAVOR!

11 comentários

  1. super interessante o blog

    temas bem auais neah?

    bem legal!!^^

    bjos

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  2. A globo é foda mesmoooooooo

    asuhsuahsauua

    o blog é muito bom!!! só diminui um pouco os textosssss... KKKK

    mas mesmo assim tá valendooooooo

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  3. Você é jornalista! Que legal.
    Pretendo fazer faculdade de jornalismo quanto me formar esse ano.

    Sobre o post, acho que a Rede Globo está de parabéns com as entrevistas (Tanto com a mãe da menina, como com a entrevista feita com o pai e a madrasta). Deu para o povo ver quem era realmente culpado nessa história toda e ver como se sentia a mãe da menina, em pleno dia das mães, sabendo que o prórpio pai jogou a filha do sexto andar! Um extremo absurdo e maldade, vamos combinar.

    beeijos :*


    http://cogumelosverdes.blogspot.com

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  4. Excelente a abordagem a respeito do trabalho de Patrícia Poeta. Tornou-se lugar-comum nas faculdades de jornalismo tratar a Globo como "O Grande Satã", mas é líquido e certo que algumas ferramentas de jornalismo competente tem sido usadas para manter a liderança da programação. O trabalho de profissionais como Poeta é uma delas.

    Gostei imensamente do seu blog, pela abordagem honesta dos fatos, sem as clivagens ideológicas que se vê por aí, no ciberespaço. Também sou jornalista, calejado em redações, atividade que conjugo com o ministério de pastor.

    Aproveito para fazer o convite para me visitar:

    http|://umolharsobreaverdade.blogspot.com

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  5. a entrevista foi muito boa mesmo,interessante aprendi mais um pouco, nao sabia que elas tinham contato antes da entrevista, por isso achei o clima amigavel hehehe apesar da tragedia claro, bom deu certo e ficou otimo, globo e ponta msm hihi :D da uma passada no meu se puder ok?
    http://transparente-transparente.blogspot.com/

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  6. Belo blog. Deixo aqui o convite para um café no meu: A SEIVA

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  7. obrigado. Você me deu umas dicas muuito boas, tenho que fazer um trabalho na faculdade de entrevistas, consultar fontes e criar uma matéria, e tu abriu meus olhos. Obrigado novamente. É bom falar com jornalistas mais experientes. Se quiser me adicionar no msn, estarei muito feliz em te receber. urielcastros2@hotmail.com

    http://jornalosturiel.blogspot.com

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  8. E aí, amigão? O meu, com açúcar, por favor.
    Mas, cá entre nós, a gente sabe que a Ana Oliveira cedeu para a Globo pela repercussão do veículo e, claro, ela fez muito bem. Nem vou levantar a lebre de ter rolado cachê (prática comum infelizmente), pois, neste caso, acho que não aconteceu, por todo o histórico do caso. Agora, se fosse um dos travestis do Ronaldinho ou a cafetina de Nova York...
    Anyway, tô adorando essas aulinhas de jornalismo online que vc tá dando. Compila tudo e lança um livro! (e me dá uma porcentagem pela idéia!!! hehehe).
    Beijão!
    Letícia.
    http://babelpontocom.blogspot.com/

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  9. Vamos falar a verdade...
    Não desmerecendo ninguém, mas quando temos um bom profissional, temos um bom trabalho.
    Quando temos um profissional e uma boa estrutura, temos um ótimo trabalho.
    Quando temos um ótimo profissional, como é o caso da Patrícia Poeta, e uma estrutura fantástica que é a oferecida pela Rede Globo, temos um trabalho eletrizante, primoroso e digno, como foram as duas entrevistas.
    Patrícia não se deixou levar pelo clamor do povo, falando sua linguagem, mas apresentou uma entrevista que falou diretamente ao seu público.
    Independente de conceitos, perder suas entrevistas está virando um crime... E com certeza alguém que não vai estar nas rodinhas do café, do ponto de ônibus e do chopinho no fim da tarde.

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  10. Permitam-me descordar de cada palavra dita neste post e comentários. A oportuna entrevista de Patrícia Poeta no dia das mães preocupou-se tanto em sensibilizar público e entrevistado que deixou de lado as questões mais fundamentais do caso. Foi tão superficial que até a modelo Ana Hickman conseguiu superar, em matéria de objetividade, a jornalista global. Este é um espelho do que nossas academias de jornalismo estão formando. Patrícias Poetas? Infelizmente não. Jovens alienados que não sabem distinguir jornalismo de entretenimento. Mas este “jornalismo moderno tem uma coisa a seu favor. Ao nos oferecer a opinião dos deseducados, ele mantém-nos em dia com a ignorância da comunidade."

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  11. Olá, anônimo!

    Obrigado por visitar o "Café com Notícias" e por postar um comentário.

    Qto ao que escreveu, uma coisa que precisa ser ressaltada é que discordo do seu argumento ao chamar de jornalismo o que o Hoje em Dia promoveu com a entrevista da Ana carolina Oliveira.

    Para mim, isso é uma prova de qto a emissora em questão trata o caso com espetacularização e uma maneira de entretenimento.

    Defendo a postura da Patrícia Poeta de isenção. Sou contra transformar tristeza em audiência. Chamar os jovens jornalistas de alienados é uma forma de se esconder os próprios defeitos e mostrar total ausência de senso ou juízo de valor. Podemos ser críticos, sim. Mas, antes de tudo, temos q ter respeito.

    Abraço,

    Wander Veroni - Jornalista.

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