Ronaldinho, aparentemente, salvou Isabella

maio 05, 2008

Jornalismo vive de produção de conteúdo, independente do tipo de mídia. Presume-se que tudo, absolutamente qualquer fato ou acontecimento, desde que tenha critérios de noticiabilidade, possam vim a tornar-se uma nota, matéria ou reportagem, dependendo da urgência do veículo e espaço que este sedirá para a informação. Mas o que o público não sabe, e que o jornalistas estão "carecas" de saber, é que existem algumas pautas (assuntos) que nunca podem faltar em um telejornal ou programa jornalístico. Esses assuntos provém da decisão do público - por meio do retorno que as emissoras têm, sejam eles a audiência prévia ou consolidada pelo instituto de pesquisa, ou telefonemas, e-mails ou até mesmo cartas que a produção recebe diariamente.


De maneira grosseira e até mesmo didática, o assunto que a audiência crescer, será o assunto-chave da produção para estendê-lo e/ou explorá-lo. Muitas vezes, não é a mesma história, nem o mesmo conteúdo, pode ser uma editoria, como a policial, que geralmente alavanca a audiência dos noticiários, por exemplo. Desde março, um assunto-chave reina nas escaladas dos programas e quem não tratar deste assunto estará "comendo mosca", ou seja, perdendo audiência. Trata-se do Caso Isabella. Você que está lendo este artigo vai falar: puts...não aguento mais esse assunto! Calma. Vou falar disso e não vou falar ao mesmo tempo. Como assim!?! - o internauta questiona. Vou explicar: é muito duro para um ser humano, nas suas normais condições mentais, psicológicas, sentimentais, morais, enfim, aceitar que um pai defenestou a filha, como se fosse um objeto, um lixo, que não se quer mais.


Lembrando que, não é, do ponto de vista politicamente correto, defenestar nada que não se quer mais. Para isso existe o lixo, e não janela. Mas voltando ao Caso Isabella, que é muito mais sério e grave do que uma simples lixeira, nunca o verbo defenestar foi tão noticiado pelo Brasil. Se você esqueceu ou nunca ouviu essa palavra, defenestar significa "jogar pela janela". Culpados? Inocentes? A dúvida que assola milhares de brasileiros se transformou em capítulos nos noticiários da novela da vida real. Tornou-se uma lei oculta dentro das redações: vamos falar desse caso porque a audiência respondeu de forma favorável. Houve interesse e comoção social, além do mistério que induz todo mundo a acompanhar os telejornais toda hora para saber as novidades.


As pré-análises da perícia policial, somados as declarações oficiais das autoridades e aos laudos que foram apresentados nos dá indícios que o pai e madrasta, PROVAVELMENTE sejam os culpados. A mídia dessa vez foi esperta: ficou com medo de entrar em uma outra Escola Base. Dessa vez quem falou foram as autoridades. Há documentos da polícia científica que comprovam esta tese. Mas não houve ainda julgamento judicial, apenas o social. Até que se prove o contrário, pai defenestou a filha. Ou, na outra versão: em menos de 15 minutos um terceiro elemento entrou no prédio, não assaltou nenhum imóvel, bateu em Isabela e por vingança a jogou pela janela. Qual dos dois são verdadeiros? Sei lá. A função do jornalismo não é julgar, é simplesmente relatar. Cabe a Justiça Brasileira decidir em quais dessas versões acreditar, pois as investigações já estão encerradas.


Semana passada, por muito pouco, acreditei que o Ronaldinho Fenômeno salvaria Isabella. Calma, não estou louco. O Ronaldinho não estava na cena do crime e nem é uma testemunha ocular para desvendar o caso. Não é isso. Pensei que ele salvaria Isabella no sentido de dar um outro assunto para a mídia que estrapolou todos os limites do sensacionalismo com essa cobertura. A exata uma semana, o travesti André Luiz Albertino, conhecido como Andréia Albertine, veio a mídia falar que o jogador de futebol Ronaldinho Fenômeno, atacante do Milan, a contratou na rua para fazer um programa e não quis pagar. Ela revelou ainda que Ronaldinho consumiu drogas e ainda solicitou o serviço de mais duas amigas delas, também travetis. A confusão, que foi parar na delagacia, começou porque o jogador se irritou após pedir para que duas travetis fossem a uma boca de fumo comprar mais drogas e não voltaram mais.


Após o incidente, o craque terminou na 16ª Delegacia de Polícia, da Barra da Tijuca, onde declarou ter sido vítima de extorsão. O delegado Carlos Augusto Nogueira afirmou que a versão dos fatos apresentada por Ronaldo foi mais confiável, já que o travesti fugiu da delegacia durante o depoimento. “Tentaram pegar meu celular para apagar [o vídeo], porque o Ronaldo é influente e poderoso. Que que eu fiz? Saí 'voada', por isso que eu fugi da delegacia”, defende-se Albertine.O Fenômeno, por sua vez, disse que o travesti cobrou R$ 50 mil para não revelar o caso à imprensa. "Diante dos últimos acontecimentos e com o objetivo de esclarecer, o atleta Ronaldo jamais foi usuário de drogas, não teve nenhuma queixa-crime registrada contra a sua pessoa e está sendo vítima de uma tentativa de extorsão", concluiu o atleta, por meio de sua assessoria de imprensa.


Felizmente ou infelizmente, a imprensa não comprou o caso do fenômeno como no da Isabella. Houve repercussão, sim. Lógico.É o jogador mais bem pago do mundo e que perdeu contratos de patrocínio vitálicio porque deixou arranhar a sua imagem. Outra coisa que ninguém parou para pensar é que travestis não fazem ponto no mesmo lugares que mulher. Cada um com seu cada um, mas falar que ele se confundiu e que não percebeu que Andréia Albertine trabalhava num lugar específico, é subestimar a inteligência do público e da imprensa. É complicado. Pior do que assumir, é juntar os fatos e ver que um mais é dois... não tem como "dar a euza" na situação. Não foi dessa vez que trocamos de assunto. Nem mesmo o terremoto de São Paulo conseguiu salvar Isabella, quiçá o Fenômeno!?! Como os personagens do antológico seriado do Chapollin Colorado, só que de outra forma, numa versão mais contextualizada, me pergunto: quem poderá salvar Isabella? Ou melhor, até quando vamos continuar pautados no mesmo assunto?



Essa semana eu volto com mais Café com Notícias.



Jornalista

MAIS CAFÉ, POR FAVOR!

20 comentários

  1. Você resumiu tudo só com o título!
    Enquanto os jornalistas sangue-sugas ficam inventando matérias, e se aproveitando da tragédia e do luto dos outros, algumas pessoas estão preoupadas com o que tá acontecendo de novo!
    O caso de Ronaldo é um deles, mas no dia que acabar o assunto deles, els vão ficar inventando coisas sobre o "Papa traveco" Ronaldo!
    Parabéns pela postagem!

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  2. Olá você nem imagina que eu,ontem procurei seu blog para mostrar para minha filha, mas eu havia me esquecido o nome correto, hj entro na comunidade e o blog acima do meu é o seu rsrsr
    gostei muito do seu texto pq ele retratata e verdade sobre toda essa "loucura" que vem sendo feita sobre o caso Isabela.... ficamos perplexos com algumas opinões que ouvimos sobre o caso, quanto ao caso do Ronaldinho, senti ele muito triste na entrevista,acho que o que ele deve estar passando perante sua familia e o povo já é um "belo" castigo.
    bjo passa no meu blog,não sou jornalista e meu blog é recente rsrsr
    http://pontoscotidianos.blogspot.com/

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  3. nossa, nem o terremoto acabou com o sensacionalismo!

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  4. http://kinhadiary.blogspot.com/


    Gostei do seu ponto de vista... Axei q era a única q tinha percebido isso tb. Por um momento axei q o terremoto iria tirar a Isabella de cena por um momento, mas naum foi.
    Semana passada axei tb q o Ronaldo iria tirá-la de cena, mas foi um erro tb pensar nisso... o q será q vai conseguir superar o caso da Isabella?

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  5. Infelzmene os telejornais vivem como tudo na tv de audiencia, se preocupam mais com isso do que mostrar fatos importantes e nao fazer sensacionalismo de tudo, o caso Isabella tambem foi tao falado porque é um caso que aconteceu na classe media.Sobre o Ronaldo duvido que essa semana nao comece o sensacionalismo desse caso.

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  6. Um dos melhores textos que li ultimamente, sem sombra de dúvida. Conseguiu falar sobre os casos mais em voga na mídia sem emitir opinião. O que é, como você bem disse, a função do jornalismo: relatar, não julgar. Cabe ao Judiciário julgar e, até que se prove o contrário, qualquer pessoa é inocente (mesmo que já condenada em "praça pública", ou seja, a TV).

    E o que muito se tem visto em ambos os casos que você citou são juízos de valor mal fundamentados.

    Se é complicado ser julgado até por um juiz, imagine pelo Brasil inteiro...


    beijos

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  7. mutio bom texto tenho pensado bastante sobre isso...
    o quanto de exploração nesse caso da isabella ....vc resumiu tudo nesse post...
    parabens..

    www.daniilopes.blogspot.com

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  8. cara, vc disse tudo, realmente nós estamos com um problema na mídia que se envereda por caminhos sensacionalistas em busca não só de informar apenas, mas de audiência, realmente vimos em todos os programas em todos os horários o caso Isabella sendo expremido até a última gota, e logo depois o caso Ronaldinho que foi matéria, por incrível que pareça, digna de mais de 15 minutos num dos últimos blocos do Fantástico... realmente precisamos de uma revisão de conceitos!! Abraço

    http://repostasnuncaperguntadas.blogspot.com/

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  9. Falam de Isabela, da vida que lhe foi tirada e talz, mas a menina num deve nem conseguir descansar, pq o assassino (não gosto de acusações!) roubou-lhe a vida, mas a imprensa roubou-lhe a morte!
    Tanto sensacionalismo em cima de um fato trágico, que faz a gnt ver isso com raiva e não com o devido respeito!

    E dá-lhe Ronaldo!

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  10. Bom Artigo amigo vc conseguiu colocar tudo de forma clara e de interesse ao leitor parabéns!!


    http://katango.blogspot.com/

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  11. O Caso de Isabella eu não aguento mais!! Parei até de ver os jornais esses dias.

    APaula
    http://ofedor.blogspot.com

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  12. Até quando vão falar de Isabella?

    APaula
    O fedor

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  13. primeiro uma dica
    ronaldo nao e o jogador mais bem pago do mundo
    kaka sim

    e sobre o caso isabella assim q soube q o pai do cara e advogda ja saquei q este caso vai terminar em pizza

    abraços

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  14. muito bom mesmo, temos muita coisa em comum, também escrevo crônica sobre temas contemporâneos, e as duas últimas postagens foram sobre Ronaldo e Isabela . Prabéns.
    http://alexandreluz.blogspot.com/

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  15. Cara sinceramente eu acho que a mídia extrapola na maioria das vezes! Acho muito importante o que a imprensa faz mas as vezes nao precisam falar tanto de um certo assunto como o da garotinha!!!

    se o ronaldo nao tivesse feito tal coisa ainda estariam falando dela a quase 5 minutos e sinceramente eu ja enjoei dessa historia!!!



    http://dihdusbeko.blogspot.com/

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  16. É sim função do jornalismo informar, não julgar. Porém, por diversas vezes é impossivel fazê-lo. Academico de jornalismo, sei que imparcialidade é um elemento de dificil alcance e muitas vezes utopico. Relacionado ao sensasionalismo, penso o mesmo. A TV mostra o que o povo quer ver. O que lhes da dinheiro. É a base capitalista, é coerente. Não enalteço, não me conformo, mas é a realidade.

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  17. Infelizmente é este o papel da mídia, principalmente quando se há concorrência.
    Se eles deixam de falar no assunto que seus consumidores falam no supermercado, nas ruas, no ponto de ônibus, no cafezinho durante o trabalho, na feira livre, na porta da igreja na hora do casamento, certamente seu concorrente vai falar.
    Os envolvidos, que se danem, quem mandou dar assunto? José Simão é muito feliz quando diz que o "Brasil é o país da piada pronta" justamente por isso. Enquanto não se escarafuncha tudo, ou não surge uma bomba maior, não se muda de assunto.

    Fica uma pergunta: um assunto se prolonga na mídia porque o público sempre quer saber mais, ou o público quer saber mais porque a mídia prolonga o assunto?

    Qual será o segredo de Tostines?

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  18. É, amigão, é isso mesmo, a imprensa fica refém do gosto (ou a falta dele) do público e a gente sobrevive de audiência, né?

    Sabe, eu relutei muito para não colocar uma nota sobre a Isabella, até agora não o fiz e, qto mais passa o tempo, menos me arrependo. Mas é uma decisão editorial neutra, porque o blog não é de consumo da massa, senão teria que tê-lo feito, não teria escapatória.

    Qto ao moço que se "diz" jogador de futebol (pra mim, jogador de futebol não fica mais tempo parado que na ativa, joga bola bem e com constância, mas isso é outra discussão), parece que finalmente, além de derrubar a máscara, decidiu dar um tapa na cara do público entorpecido e gritar: "olha só, eu sou essa m... mesmo, não mereço toda essa atenção, porque só faço c...!". Não é verdade? Pô, o cara tinha tudo pra ser mais um orgulho nacional, mas desde o início, seu caráter se mostrou duvidoso. E que não se esqueçam que ele já teve envolvimentos com rede de prostituição na Itália.

    Até uma criança de 5 anos consegue ver que o "Andréia" era traveca, ele, um cara tarimbado no assunto, não reconheceu? Poupe-nos, please! hehehe

    Bom, vou ficando por aqui e vou te escrever um e-mail sobre uns assuntos profissas, ok?

    Beijão!

    Letícia.

    http://babelpontocom.blogspot.com

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  19. Belo texto.

    Sobre a exploração da mídia: Sem paciência.

    Sobre o caso Ronaldo: Sem comentários

    hehehehhehe

    =D

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  20. O que me deixa perplexo nessa história é que existem milhares de Isabellas por aí e não vai nenhum repórter cobrir, ninguém coloca foto no orkut ou coloca em seus perfis "Luto por Mariazinha". O caso Isabella so fez e faz tanto "sucesso" porque foi uma menina branca e de classe média.
    É, realmente tá difícil encontrar um "salvador" para a Isabella. Tanto que no meu blog eu comentei que o terremoto ia mudar os assuntos de jornais, mas me enganei. Pra tirar Isabella dos noticiários só o tempo ou outra menina branca e de classe média brutalmente assassinada.

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