Reportagem Especial - Sou camelô, sim senhor!

abril 28, 2008

Considerado o primeiro camelódromo do Brasil, o Shopping Oi reúne histórias de gente simples que se tornou empreendedora de sucesso



Reportagem especial para Revista Diário de Bordo e Café com Notícias




Belo Horizonte mudou com a criação do Shopping Oiapoque. Mas não foi só a cidade que sofreu transformações. Muitas pessoas também mudaram de vida. É o caso de Oziel Junior da Silva, 26 anos, dono da loja Stilo Visual, no boxe 82 e 83. Ele é um típico brasileiro empreendedor que encontrou no comércio uma alternativa para conseguir a independência financeira e o ganha pão diário.


Mas a história de Oziel não é feita apenas de capítulos tranqüilos e sem lutas. Há dez anos, ele começou trabalhando nas ruas Rio de Janeiro e Goitacazes, como funcionário de um camelô, revendedor de óculos. Com a criação do Shopping Oiapoque, Oziel e o patrão se mudaram para o novo centro comercial. “No começo, a transferência dos camelôs da rua para o Shopping Oi foi muito complicada. Não foi só o meu setor, mas todos os camelôs sentiram um impacto, quando as vendas diminuíram. Com o tempo, as pessoas foram se acostumando a descer até aqui e a coisa mudou para melhor”, afirma.


Para o micro-empresário, o sonho de ter a própria loja virou realidade no ano passado. Com mais dois funcionários – empregando a esposa e o cunhado, a Stilo Visual vende óculos e bonés, acessórios de grande apelação do público adolescente, o principal alvo do empreendimento. “A loja me trouxe liberdade. Não só financeira, mas de horários para trabalhar. Agora sou patrão. A responsabilidade aumenta. Muda tudo, né!”.



Público cada vez mais qualificado



“Não tem como vir à Belo Horizonte e não visitar o Shopping Oiapoque.” A frase repetida por diversas pessoas é uma das mais ouvidas entre os turistas que visitam a capital mineira. Perguntados sobre o porquê, a resposta também é semelhante: “faço questão de dar sempre uma passadinha por aqui para fazer algumas compras”. Considerado um empreendimento pioneiro em todo o Brasil, o Shopping Oiapoque foi criado para oferecer aos camelôs das ruas da área central de Belo Horizonte um espaço privado que permitiria novas chances de trabalho, dignidade profissional e segurança. Assim, conseguiriam atender cada vez melhor ao público. Quase cinco anos depois, a receita empresarial se mostrou muito bem sucedida.


Localizado na avenida Oiapoque, 156, numa área considerada como o baixo-centro da capital mineira, o Shopping Oiapoque mudou completamente o espaço urbano na cidade. “Antigamente, esse local não era tão movimentado como é hoje. “O Oiapoque fez com que as pessoas descessem do centro para cá, passando pela Avenida Santos Dumond e até mesmo pela rua Guaicurus. Graças ainda ao policiamento, as pessoas foram adquirindo confiança. Isso fez do centro comercial uma referência de consumo na cidade”, afirma Márcio Oliveira, 44 anos, Supervisor do Shopping Oiapoque.


Os clientes também aprovam a segurança do local. Dona Nilza Soares, 62 anos, funcionária pública aposentada, trouxe os netos da cidade de Vitória, no Espírito Santo, para conhecer o Shopping Oiapoque e fazer compras. “O local é muito seguro. Tem vigilantes espalhados por todos os lados e sempre dispostos a dar informações de como transitar aqui dentro. Tenho cinco netos com idade entre oito e quinze anos. Prometi que os traria aqui para comprar o que quisessem. Mas eles me fizeram rodar o Oiapoque todo para comprar CDs de Play Station. Gosto de vir aqui por que tem até restaurante com comida caseira”.


Sem tirar os olhos dos netos, a avó ainda completa dizendo que ”quando a gente vem, encontra o que quer e almoça por aqui mesmo. Meu netinho de oito anos, o Vinicius, ficou subindo e descendo a escada rolante sem parar. Para ele, a escada foi uma atração especial, enquanto os mais velhos procuravam jogos para o vídeo game”.


Já o auxiliar administrativo Wallace Ferreira, 19 anos, foi ao Oiapoque comprar um MP3 e sondar o preço de um pen drive. “Sou fã de aparelhos eletrônicos e consegui alguns descontos interessantes com os camelôs. Até nota fiscal do MP3 eu recebi. O que sinto é que há uma vontade do shopping de sair da ilegalidade e da fama de vender somente produtos piratas. Não podemos ser hipócritas e afirmar que a pirataria acabou. Mas o que eu gosto daqui é o lance de negociar diretamente com o lojista e pedir um desconto. Essa é uma vantagem que só encontro aqui”, enfatiza.


Vida Nova


Angélica Cristina, 32 anos, proprietária de uma loja de moda infantil, no boxe 812, foi um dos duzentos primeiros camelôs a ocuparem os boxes no Shopping Oiapoque. Ela lembra que a saída dos camelôs da rua gerou muita polêmica por causa do local escolhido. “Houve muitos protestos, porque os primeiros camelôs foram pioneiros, principalmente no fato de ter de reconquistar a clientela acostumada ao atendimento nas ruas. Quando a gente veio para cá muita coisa ainda estava em construção. Hoje a situação é outra. Tem infra-estrutura, banheiro, lanchonete, restaurante. Isso pode parecer pouca coisa, mas isso contribui para cativar ainda mais o cliente”.


Muitas famílias vivem exclusivamente da renda gerada do comércio no Shopping Oiapoque. É o caso de Marilânea Chaves, 25 anos, que trabalha com o esposo, na loja Brinkar Kid’s, no boxe 85. Para atender os clientes, Marilânea conta com ajuda do marido e de um funcionário na loja. Com um filho de quatro anos, ela recorda que o início não foi fácil. “É impossível negar que todos nós, que viemos da rua para cá, sentimos uma certa dificuldade. Mas não tenho do que reclamar. Já conseguimos fidelizar bons clientes nesses cinco anos”, conta.


Funcionário da Hilton Import’s, uma loja especializada em artigos de informática e produtos eletrônicos para carro, no boxe 29, Jefferson Batista, 30 anos, também é um dos camelôs que viveu a experiência de trabalhar na rua. “Aqui é vida nova. Acho que toda mudança é um pouco sofrida mesmo. Mas só de você ter segurança para trabalhar num lugar fixo e ser respeitado como trabalhador já é outra coisa...bem melhor em todos os sentidos”.


Emprego e Segurança


De acordo com a administração do Shopping Oiapoque, o centro comercial gera mais de 3 mil empregos indiretos – com pessoas que vivem exclusivamente da renda gerada do local. Admilson Pereira, 40 anos, casado e pai de dois filhos é um deles. À noite, ele trabalha como segurança na iniciativa privada. De dia, trabalha como funcionário no boxe 25, numa loja de artigos esportivos, meias e cuecas. “Foi graças a indicação de um amigo que consegui este emprego. A possibilidade de trabalhar como lojista no Oiapoque me ajuda a complementar a renda familiar”, conta.


Cartão Oiapoque


Uma novidade para clientes e lojistas do Shopping Oiapoque foi lançamento, no dia 23 de outubro de 2007, do Cartão de Crédito Oiapoque. Trata-se de mais uma iniciativa pioneira no Brasil no qual um shopping popular abre linha de crédito para os consumidores e, ao mesmo tempo, cria mais uma possibilidade comercial para os camelôs. Em fase de adesão em todos os lojistas do Shopping Oi, como é carinhosamente apelidado pela população, o cartão permite que você possa fazer suas compras parceladas em até 3 vezes sem juros e de 4 a 6 vezes com juros de 4,5% ao mês.


Para fazer o cartão é muito fácil. De acordo a gerente responsável pelo setor Denise Andrade, basta o consumidor apresentar o CPF, carteira de identidade e comprovante de renda (folha de pagamento) e endereço (como uma conta de água, luz ou telefone, por exemplo). Para os autônomos, além desses documentos descritos, o comprovante de renda será os três últimos extratos bancários. Toda proposta de cartão será analisada mediante as condições e/ou restrições de crédito do solicitante. O cartão demora sete dias para ficar pronto e não possui anuidade.



Uma história que faz parte da cidade


O prédio onde funciona hoje o Shopping Oiapoque completou 100 anos em 2007. O prédio, no passado, foi sede de uma antiga fábrica de cervejas. Para a construção do centro comercial, inaugurado no dia 04 de agosto de 2003, foi feito um grande investimento na reforma de toda a infra-estrutura, o que possibilitou abrigar os camelôs e o setor administrativo. Dentro do processo de reestruturação do Shopping Oiapoque está a construção de duas escadas rolantes, ligando uma andar ao outro. A primeira já foi montada e liga o primeiro ao segundo andar. O gerente geral do Shopping Oiapoque, Marcílio Rocha, afirma que essas transformações aumentarão o conforto dos clientes. “A outra escada rolante ligando o segundo ao terceiro andar está em processo de finalização. Também pensamos na criação de elevadores e rampas para facilitar o trânsito para quem não pode subir escadas e a ocupação dos andares superiores para novos lojistas. Toda mudança foi pensada para atender melhor o cliente”.


O Secretário de Administração Regional Municipal da Centro-Sul, Fernando Viana Cabral, afirma que a Prefeitura de Belo Horizonte acertou na decisão de retirar os camelôs das ruas e feito a transferência para a iniciativa privada. “Não podemos negar que o projeto foi pioneiro no nosso país e trouxe dignidade aos camelôs. Muitos deles puderam sair da ilegalidade e se transformarem em lojistas. O Código de Posturas do Município, aliado ao programa de revitalização do centro da capital mineira, chamado de Centro Vivo, melhorou consideravelmente o trânsito de pedestres na área central e, paralelamente, a ação da polícia para combater a criminalidade. Enfim, existe toda uma legislação que contribuiu ainda mais para que essa medida seja bem sucedida”, diz.



Quero cinema no Shopping Oi


Um dos maiores sites de relacionamento do Brasil, o Orkut, possui mais de 30 comunidades dedicadas ao Shopping Oiapoque. A maioria é afirmativa em que os internautas assumem que adoram ou odeiam o centro comercial. Mais uma comunidade possui uma proposta cultural bastante interessante para o local. Criada no dia 19 de março de 2005, a comunidade intitulada de “Quero cinema no Shopping Oi”, possui 68 membros. A descrição é direta: “Dizem que o Shopping Oi tem de tudo! Na verdade, quase tudo. Ainda falta um cinema!! Será que tem como ter uma sala de cinema no Shopping Oi?”, questiona. Perguntados sobre a possibilidade de se criar um cinema no local, a administração disse que, no momento, não possui planos para isso, mas nada impede que a proposta seja pensada e avaliada como uma alternativa de entretenimento para o público.


Outra comunidade que também chama a atenção é "Shopping Oi mesmo, e daí?", criada no dia 29 de maior de 2005. Com apenas 21 membros, a comunidade chama atenção por admitir que o preconceito de usar roupas do Oiapoque deve ser abolido, apesar da pirataria existente com a apropriação de etiquetas de marcas famosas no local. Veja só a descrição: "Essa comunidade é para todos aqueles que compram roupas na Oiapoque e não tem vergonha de falar q é de lá ", defende.


Criada no dia 19 de outubro de 2004, a comunidade “Eu Adoro o Shopping Oi!!!”. Com 257 membros, a maior em torno do tema, almeja promover a troca de experiências entre os clientes do centro comercial. “Prá todos aqueles que, infelizmente não possuem muita grana em caixa e tem de se contentar com as maravilhas tecnológicas comercializadas no Shopping Oiapoque. Vamos trocar experiências, localização das melhores barracas, melhores cd's, dvd's, relógios, etc. Além disso, podemos descrever alguns produtos e experiências grotescas que encontramos neste local singular! Fiquem à vontade!”, convida.



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Jornalista

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17 comentários

  1. amo bh!
    já fui uma vez pra lá e tenho muito vontade de voltar e quem sabe um dia morar lá...
    e agora com vontad também de conhecer o shopping oi... e todas as historias d lah!
    valew!

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  2. Muito bem feito o seu blog !
    As notícias postadas também, já o jornal deixa de lado alguns fatos de fora.

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  3. Muito interessante, esse shopping... Mas só quem é doido faz esse cartão que eles oferecem. 4,5% De juros???! Cruuuuzes! ahuhahauhuahha

    Veroni, tem certeza que esse é o primeiro camelodromo do Brasil?
    Porque aqui em Natal tem um, e acho que foi feito bem antes de 2003 =/

    =]

    Matéria muito bem feita. Parabéns!

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  4. A grande estratégia de crescimento de empreendimentos como este shopping é começar a conquistar não os clientes, mas o cliente interno, um bom endomarketing. Estimular, motivar, surpreender e cativar a confiança de pessoas como o senhor Oziel.
    Aí, sim, as chances de um empreendimento como este ir para a frente, conquistar o grande público, são quase totais.
    Excelente texto

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  5. Obrigado pelo comentário! Estou cansado de comentários vazios e quando recebo um de quem leu, fico muito feliz.
    Olha, pelo pouco que os jogadores atleticanos mostraram ontem, eles não merecem nossa raiva, nem nossa tristeza. Foi um absurdo aquilo!

    Meus primos sempre falam no Shopping Oiapoque e você acredita que, contrariando a frase dita, eu fui a BH e não visitei o shopping?
    Achei interessante a proposta de tirar os camelôs das ruas e construir um prédio só pra eles. É melhor do que fazem em SP, quando a polícia desce o cacete nos camelôs. Quero ver se dou uma passada por lá na próxima vez que eu for em BH.

    E pra terminar meu comentário, deixo aqui uma frase da mãe adotiva do Dudu, ex-comentarista do Alterosa Esporte: "Não há de ser nada, meu filho. Nosso Galo é forte e vingador"

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  6. Veroni, penso que esse Oi, leva um conceito de camelodromo reformulado. É um tipo de shopping popular?

    O camelodromo que tem aqui, é um espaço no centro da cidade, dividido em Boxes, já foi mais arrumadinho. Agora tem muitas pessoas abandonando o local, dizem que falta segurança ou clientes. Não é bem um prédio, é um negócio estranho, só vendo mesmo. xD

    Tem shopping popular aqui também, tem um chamado shopping dez, mas também tá derrubado demais.

    As pessoas, os empresários daqui só pensam em lucro próprio. Venha a Natal e vai ver o montão de shoppings que têm por aqui, mas todos de "luxo". Aí, as pessoas acostumam a comprar caro, e acabam pensando que estão comprando bem.

    A politicagem até tenta organizar alguma coisa por aqui, mas logo esquecem tudo, vão deixando pra lá. Foi o que fizeram com o camelodromo, o deixaram. Sem manutenção nem nada. Acho que deve molhar tudo quando chove.

    Aqui não tem nada comparado ao Oi.
    =/

    Um dia, quem sabe... =]

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  7. Wander,
    maravilha de post/reportagem. Eu gosto o Shopping da Oi. Tem aquele ar de feira, de chegar e negociar. Um dono de banca indica outras bancas onde você pode encontrar isso ou aquilo. É mais ou menos - guardadas as diferenças - como o mercado central. Integrou-se à vida de BH de um modo orgânico.
    Paz e bom humor, mano blogueiro.
    Walmir
    http://walmir.carvalho.zip.net

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  8. GRANDE WANDER,ALÉM DA PRIMEIRA TRANSMISSÃO, A RÁDIO CLUBE DE PERNAMBUCO TEM O REGISTRO MAIS ANTIGO. ISSO NÃO PODE SER DESPREZADO! ABRAÇO!

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  9. Pra mim - de São Paulo - é ate difícil entender a importância desse centro comercial para Oiapoque.

    Abraço.

    CUIDADO! Designer na pista

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  10. Organização é fundamental.

    Matéria legal!

    =D

    http://www.fliperama-underground.blogspot.com/

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  11. legal essa iniciativa.. ;D
    incentiva a atividade do comercio, e quem ganha com isso é o povo..

    gostei do teu blog..bem organizado e boas noticias tmb.. só não curto qdo entra e já começa tocando musica...mas é de menos..

    se puder, visite e comente tmb:

    http://esfiha-berta.blogspot.com

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  12. ja fui la tantas vezes e nao conheço :( que pena na proxima vou procurar saber!!!
    quanto aos comentarios que deixa adoro hehehehe, espero melhorar com os dias!!!fique a vontade pra ser sincero ok?? hehe
    :)

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  13. Gente, eu fui à Belô e nem fiquei sabendo do Shopping Oi!!! Logo eu que adoro uma 25... hehehe
    E aí, amigão? Como vc está? Eu estou para te escrever um e-mail desde ontem, porque quero te perguntar sobre algumas coisinhas que vi no teu blog e o tempo não deixa. Mas hoje vou dar um jeito!
    Muito completa a reportagem do Shopping, vc tb trabalha no Jornal Oiapoque, como é isso?
    Não precisa nem dizer que qdo for para aí de novo, vou perder muuuito tempo nessas lojinhas e com cartão ainda!!! hehehe
    Viu? Vc falou pra eu contar como foi a Virada, o post do Jorge foi por sua causa!!!

    Beijão procê!

    Letícia.

    http://babelpontocom.blogspot.com

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  14. Nunca pensei que iria encontrar um post sobre o shopping Oi.
    Acho que só quem mora em Bh vai entender os nomes das ruas e como realmente mudou o visual do centro e a vida dos camelôs.
    Eu achei uma idéia maravilhosa tirá-los da rua,além de dar segurança,o aspecto do centro ficou um pouco melhor.

    Abraços!

    Quase não visito blogs de Bh!Gostei!

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  15. É... eu sou daquelas que, apesar de tantas trapalhadas na nossa política, ainda não perdi as esperanças no Brasil.

    O Shopping Oi possibilitou a muitas famílias uma vida mais digna, e isso é uma inovação, não tem como negar!

    E isso não tem nada a ver com assistencialismo... foi apenas uma questão de unir o útil ao agradável, mas de maneira criativa, organizada e inteligente.

    É isso aí. E que venham mais iniciativas como esta!

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