Crítica à prática do jornalismo policial

abril 24, 2008

A cobertura dos fatos da da cidade e as notícias da área policial movimentam os noticiários. Nesse sentido, faz com que percebamos o quão a crítica está a situação da criminalidade e da segurança pública na nossa região. Ontem pela manhã, com total exclusividade, a Rádio Itatiaia colocou uma entrevista com um criminoso que queria se render e estava arrependido pelo ato que cometeu de sequestrar por 14 horas a família do gerente do banco Bradesco, na cidade de Cláudio, no centro-oeste de Minas Gerais.

Graças a uma denuncia anônima, os policias do 23º Batalhão da Polícia Militar (PM) puderam se mobilizar para salvar a família. Aproximadamente 30 policiais cercaram o prédio e iniciaram as negociações. Segundo a PM, após alguns minutos, o gerente foi libertado e repassou as exigências dos assaltantes aos policiais. Os bandidos exigiram presença de um juiz, de um advogado e da imprensa para entregar as armas e liberar a família do gerente. A Polícia Civil atendeu as reinvidicações, entrou no banco e prendeu os dois criminosos, que não reagiram. Ninguém ficou ferido. Com eles, foram apreendidos três revólveres calibre 38 e uma pistola 9 mm.


Como cidadão comecei a me perguntar o quanto nós da imprensa damos um grande espaço para a cobertura policial, pelo simples fato dela render mais audiência. Tantos problemas que mereciam ser discutidos com mais ênfase, e não são. Ontem à noite (23/04), assiti a uma Palestra do jornalista William Waack, apresentador do Jornal da Globo, oferecida pela Cia Souza Cruz, PUC Minas e Empresa Jr. Soluções em Comunicação, por meio do programa de resposabilidade social chamado Diálogos Universitários, que falava justamenmte disso: por que a cobertura política não tem tanto espaço na mídia?


A resposta é uma só, infelizmente: a população não se interessa por política. A audiência dos noticiários cai toda vez que esse tema é tratado com profundidade. O povo tem a visão de que os políticos não prestam e isolam o assunto que é fundamental para a nossa sociedade. Waack fez um alerta que não tinha me atinado antes: a nossa geração que não se interessa por política corre um sério de risco de perder legitimidade nacional, de ter ausência de patriotismo e civilidade nas questões de ordem social.


Será que a mídia contribui para isso? Será que o jornalismo vive uma fase de emburrecimento ao espetacularizar o crime e transformar os bandidos em protagonistas da vida real? Faço mea culpa por que noticio, aqui no Café e nos outros lugares que trabalhei, a área policial em detrimento de coisas que acrescentariam muito mais para a nossa sociedade. Durante a palestra lembrei muito de uma amiga minha jornalista, na qual admiro muito, mas que não vou citar o nome porque não quero expô-la, que trabalha como produtora de um programa policial em TV aberta, que entrou para o jornalismo com o sentimento de querer mudar o mundo por meio da informação.


Tanto os professores como a maioria dos alunos da turma, na época da graduação, a criticavam por considerar o sonho dela e o ativismo social que ela almejava, como jornalismo utópico. Quem detém a informação, detém o poder, já dizia os pensadores de comunicação no início do século XX. Admiro essa minha amiga por causa desse embate: nem sempre a maioria está certa. Como trazer informação quanto os veiculos de comunicação só querem que os jornalistas cubram, em sua maior parte, a área sangrenta da sociedade? Por mais que essa tarefa seja difícil, vejo essa minha amiga hoje tentar inserir, mesmo que seja uma pauta apenas, a discussão sobre política ou as questões públicas que norteiam não só o nosso Estado, mas a nossa querida Belo Horizonte.


É difícil remar contra a maré. Trazer o questionamento da segurança pública, da criminalidade, das coisas da cidade para um programa policial e, ainda, prestar serviço com temas relevantes, é uma tarefa bastante complicada. As empresas de comunicação querem apenas audiência, ou seja, sangue e sangue, custe o que custar. Mas pelo o pouco que conheço dela, sei que há essa preocupação e a intenção de ascender o debate e a opinião pública para temas não tão sangrentos.


Voltando ao caso da Rádio Itatiaia, que não tem nada a ver, em partes, com a história da minha jornalista, não sei se é correto, do ponto de vista ético e dontológico, colocar uma entrevista com um bandido no ar, com uma família refém, por mais exclusivo que isso seja. Se fosse editor, ficaria me perguntado se isso é realmente aceitável, por mais que seja de domínio público o perfil e linha editorial da rádio. Se eu não colocar, outro coloca. Perderia meu emprego, se caso lá trabalhasse, por ser ético ou não concordar com essa atitude. Sinceramente, teria as minhas dúvidas e passaria isso para o diretor de jornalismo. Sejamos conscientes: colocar um bandido no ar, no horário nobre do rádio, que é a parte da manhã, é muita responsabilidade e consciência da repercussão que isso possa causar.


Vou explicar porque não concordo com isso: primeiramente, creio que dar voz ao bandido, numa rádio que é primeiro lugar de audiência em toda Minas Gerais, é espetaculizar o crime, e acima de tudo, ser condizente com a atitude do bandido de seqüestro. Já pensou se todo bandido ligasse par rádio para querer ter segurança antes de se render? Outra coisa que mais me preocupou: quem garante que é mesmo o criminoso do seqüestro que estava na linha? Poderia ser qualquer um? Tem gente à toa que passa trote para redação toda hora...já pensou que mico se isso fosse uma pegadinha que a Rádio tomasse para si como verdade? Claro que a Rádio apurou o real estado dessa situação. Como ouvinte, confio no taco da Itatiaia. Não é à toa que o jornalismo deles é referência em Minas e no Brasil. Mas que isso é questionável, isso é!


Estou num processo da minha carreira que estou revendo as minhas posições sobre a cobertura jornalística. Como não estou em redação de TV ou Rádio, por enquanto, mas em breve estarei, me permito filosofar sobre a prática dos meus colegas de profissão. Sejamos mais críticos e éticos com o exercício do jornalismo. Afinal, informação é poder. Poder de quem? Ah, dos jornalistas, que não é.



Essa semana eu volto com mais Café com Notícias.



Jornalista

MAIS CAFÉ, POR FAVOR!

15 comentários

  1. Ola. seu blog esta muito legal...adoro esses comentarios jornalisticos. Mais falando a real, nao suporto esses criminosos que tentam uma negociaçao pra tentar sair imune. falta de vergonha isso sim.
    Abraço.
    õ/

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  2. oi obrigada pelo puxao de orelha apesar que nao vejo assim, aprender sempre e bom, ignorante e a pessoa que nao quer aprender,e eu nao sou ignorante hehe
    pode puxar a orelha sempre que necessario, vou gostar muito, alias sempre gostei muito de portugues,mais as vezes esqueço como escreve uma palavrinha simples kkkkk estou lendo e escrevendo muito pra ver se ajuda tbm!!! gostei muito da sua sinceridade e obrigada + 1 vez!!
    volte sempre
    :)

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  3. interessante seu blog o unico que atrapalha são os posts que são grandes de mais parece que nao vao acabar nunca isso afasta um pouco de leitores

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  4. Seu blog é bastante interessante,
    e vc promete com jornalista..!!

    Parabéns!

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  5. TENHO MAIS MEDO DA POLICIA DO QUE DO BANDIDO=FATO!

    POREM ISSO NAO SERVE PARA TODOS!

    OBS-AMOOOOOOOOOOOOOOO A MUSICA DO SEU BLOGGGGGGGGGGGGGG

    FODA FODA FODA! AMEI SEU BLOG!

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  6. gostei do blog, achei suas materias bem interessante! lendo seus textos, vi q vc e um otimo jornalista, bem inteligente! parabens pelo trabalho!

    www.futebolediscussoes.blogspot.com

    VOLTE SEMPRE!

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  7. Oi, Wander! Nossa, que prazer encontrar um colega de profissão aqui!
    Adorei o teu blog, super completo e profissional, vou colocar teu link lá tb e te agradeço por divulgar o meu.

    Qto a nossa profissão... é temos que ficar atentos mesmo, pois só se cada um de nós for vigia do que faz é que poderemos levantar a qualidade do que transmitimos. Eu opto pela qualidade, sempre, ainda que ela não caia nas graças do grande público. De qualquer maneira, sempre há um assuntozinho mais interessante que acaba capturando um número fiel de leitores, e é isso o que importa, não?

    Bem, vamos continuar em contato, então e assista ao CQC sim, vc vai gostar!

    Um abração e sucesso!

    Letícia.

    http://babelpontocom.blogspot.com

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  8. Concordo com vc, a politica deveria ter mais espaço, e o povo deveria se interessar mais por ela, pois é dela que saem as decisões que regem nossos dias.

    o meu blog é o:
    http://http://cienanosdesolead.blogspot.com/

    eu deixei o link errado no orkut
    foi mal
    rsrsrs

    abraço

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  9. bom..

    a politica é uma merda..uma sujeira q só..
    por isso não nos importamos com isso..a não ser quando acontece um "escandalo"..mas como sempre, termina tudo em pizza..

    eu tbm não concordo q bandidos tenham exigencias..eles tem q apanhar muito..e de preferencia na frente das cameras...na policia so tem medroso..q negocio de ficar algemando e td mais..
    desce o cacete nos bandidos e mostra na tv..
    vamos ver se os outros num vão ter medo de apanhar tbm e vamos ver se num vai diminuir a criminalidade..td bem q violencia não leva a nda..mas se a gente pode apanhar deles pq eles num podem apanhar tbm?

    como diz a lei..direitos iguais. kd esses direitos.?

    bom axo q vc deveria publicar mais coisas sobre esse assutno que é bastante polemico e dá uma boa discussão..

    é isso..

    obrigado..vlw..e passa no meu blog qnd der..

    abraço!

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  10. é fato que o povo não se interesse por política, pode ser difícil compreeender...pra mim chega a ser divertido (y)
    Rir com os buracos nos discursos dos políticos.
    e, tenho certeza, que com isso, se atingindo às massas, haveria desenvolvimento...=]

    Parabéns =D

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  11. Esse ato crítico é fundamental, embora não seja lá muito brm visto nas readações!

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  12. Oi, Wander, tudo bem? Olha só, te mandei um email em resposta aos teus comments no Babel, dá uma olhadinha lá, tá bom?

    Abração!

    Letícia.

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  13. Wander, para ser sincero, eu acho absurdo esse posicionamento da imprensa, apesar de saber que n�o � de hoje.

    Entramos naquela velha discuss�o se a imprensa est� reproduzindo o que pensa a sociedade ou ajudando a focar nesses interesses.

    Um epis�dio r�pido: certa vez fui um dos premiados de um concurso de contos relativamente badalado. Meu nome saiu em jornais, foi citado em r�dio, mas apenas conversei com um jornalista, nem posso dizer, ao p� da letra, que chegou a ser uma entrevista.

    Meu pai, no seu pouco estudo formal, mas muito tarimbado pela vida, observou que se eu tivesse cometido um crime choveriam jornalistas dispostos a me entrevistar. Como ganhara um concurso de contos, praticamente ningu�m se interessou.

    abs

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  14. Bem, a imprensa (ou parte dela) está seguindo a mesma idéia da mídia em geral. Pra não perder audiência, acaba perdendo qualidade. O caso dessa menina, Isabella, tá rolando um sensacionalismo que está dando raiva! Praticamente não se fala em outra coisa.
    Esse caso da Itatiaia, me fez lembrar aquele filme, O Quarto Poder, já assistiu? Não sei se o repórter da Itatiaia teve a mesma intenção do repórter do filme, interpretado por Dustin Hoffman, mas acabou fazendo a mesma coisa.

    Você trabalha em qual jornal? Em agosto começo o curso de jornalismo aqui na UFRJ e pretendo me mudar pra Minas para trabalhar aí. Gostaria muito de trabalhar na Itatiaia e, lendo esse texto, fico me imaginando no lugar dos jornalistas que lá trabalham e me perguntando se colocaria o cara no ar ou não.

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