#Documentário: Wakrewa Krenak lança filme sobre os impactos da tragédia-crime no Rio Doce
novembro 24, 2023A indígena e biológa Wakrewa Krenak lançou o documentário “Lágrimas do Uatú”, obra áudio visual que retrata a ligação espiritual que os Krenak possuem com o Rio Doce (Rio "Uatú") e como suas tradições e cultura foram afetadas após o rompimento da Barragem de Mariana, em 2015. O documentário foi disponibilizado nas redes sociais nesta sexta-feira (24/11), mesma data em que se comemora o Dia do Rio.
“No dia 5 de novembro de 2015, Uatú foi morto pela ambição do homem. Não podemos mais caçar, não podemos mais pescar, não podemos ensinar os mais novos a nadar e nem realizar nossos rituais. Neste Dia do Rio, queremos lembrar a falta que o Rio Doce faz no nosso dia a dia e como não fomos reparados de uma maneira justa e integral”, explica Wakrewa.
O lançamento contou com o apoio institucional do Programa Jovens Embaixadores Brasil (@yap_brasil) e do escritório Hotta Advocacia, parceiro do Pogust Goodhead no Brasil e que representa as vítimas do rompimento de Mariana na ação da Inglaterra.
O processo é considerado um dos maiores do mundo, com mais de 700 mil vítimas – entre indivíduos, comunidades indígenas e quilombolas, empresas, municípios, instituições religiosas e autarquias de serviços públicos. Somadas, as indenizações chegam a R$ 230 bilhões (US$ 44 bilhões). Abaixo, assista ao documentário:
Em tempo
O rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana (MG), ocorreu em 05 de novembro de 2015, e matou o Rio Doce. A barragem é de responsabilidade da Samarco, empresa controlada pelas mineradoras Vale e BHP Billiton. Oito anos depois, a população em torno do rio sofre com as consequências de um dos maiores desastres ambientais provocados pela mineração.
A contaminação deixou toda a extensão fluvial do Rio Doce - até o litoral do Espírito Santo, impregnada com os rejeitos provenientes da extração do minério de ferro retirado de extensas minas na região. Ambientalistas consideraram que o efeito dos rejeitos no mar continuará por pelo menos mais cem anos.
De acordo com uma reportagem produzida pela Rádio UFMG Educativa, ao longo dos últimos séculos, o Rio Doce tem sido a base da espiritualidade e da cultura do povo Krenak. Após a tragédia-crime, apesar de avanços na recuperação da água apontados pelo programa de monitoramento da Fundação Renova, as aldeias às margens do rio têm sido impedidas de realizar a caça, a pesca e muitos de seus rituais sagrados, afetando completamente o modo de vida Krenak.
Apesar de o rompimento da barragem representar o ápice das violências contra o povo Krenak, o cenário da mineração em Minas Gerais vem afetando a relação ancestral dos indígenas com o Rio Doce há mais de quatro séculos. Desde a construção da Estrada de Ferro Vitória a Minas, em 1904, a ocupação das áreas próximas ao curso d’água por trabalhadores não-indígenas tem entrado em choque com as populações nativas.
Ainda hoje, as aldeias às margens do Rio Doce se encontram em estado emergencial, com o recebimento diário de galões de água via caminhões-pipa. “Eles nos dizem que o Rio vai voltar, mas a espiritualidade, a essência do Watu foi morta. E, mesmo que volte, todo o lençol freático que compõe o rio doce foi afetado, os pescadores pegam os peixes no rio e eles vêm cheios de tumores… Nossas crianças, até hoje, tomam banho nas caixas d’água, porque dentro do rio não pode ser”, relata Shirley Krenak em entrevista à Rádio UFMG Educativa. Ouça a reportagem, abaixo:
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Jornalista
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