#Intolerância: Ataque ao Porta dos Fundos mostra que ainda não entendemos a mensagem de Jesus Cristo

dezembro 25, 2019

Crédito: Netflix / Reprodução. 

A sede da produtora Porta dos Fundos, no bairro de Humaitá, no Rio de Janeiro, sofreu um ataque com duas bombas de coquetel molotov, na véspera de Natal. De acordo com as informações da Polícia Militar, o ataque aconteceu por volta das 4 horas da manhã e foi registrado como crime de explosão na 10ª DP, no bairro de Botafogo. 

Um dos seguranças conseguiu controlar o princípio de incêndio e não houve feridos. Em comunicado divulgado à imprensa, a assessoria do grupo de humor disse que já passou às imagens da câmera de segurança as autoridades e que a prioridade, no momento, é a segurança da equipe.

As investigações ainda estão em andamento, porém tudo leva a crer que o atentado pode ter sido uma resposta de uma ala ultraconservadora que se sentiu ofendida com o especial de Natal “A Primeira Tentação de Cristo”, exibida na Netflix. Caso isso seja confirmado pelas autoridades, será a primeira vez que lidaremos com um atentado terrorista por motivação pseudo religiosa a um grupo de humor no Brasil. 

O caso lembra muito o atentado terrorista do jornal satírico francês Charlie Hebdo, em 7 de janeiro de 2015, em Paris, supostamente como forma de protesto contra a edição que tinha estampada uma charge ligada ao mundo islâmico.

Desde 2013, o Porta dos Fundos exibe especiais de Natal no seu canal no Youtube. Desde o ano passado, o grupo possui um contrato com a Netflix para exibir esses programas. Inclusive, a edição 2018 do especial de Natal ganhou o Emmy Internacional, na categoria de "Melhor Comédia", com o telefilme "Se beber, não ceie". A sátira mostra apóstolos que acordam de ressaca no dia seguinte à Última Ceia e percebem que Jesus Cristo sumiu.

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No especial desse ano, a polêmica aconteceu pelo fato do programa mostrar um Jesus Cristo (Gregório Duvivier) completamente diferente. Prestes a completar 30 anos, Cristo é surpreendido com uma festa de aniversário ao voltar do deserto, onde se descobre gay e começa a ter um envolvimento afetivo com outro rapaz, Orlando (Fábio Porchat). Além disso, Deus (Antonio Tabet) vive um triângulo amoroso abusivo com José (Rafael Portugal) e Maria (Evelyn Castro).

A liberdade poética do grupo de humor irritou os Cristãos mais conservadores que acreditam que representar um Jesus supostamente homossexual seria uma ofensa, apesar de que na Bíblia não há nenhuma referência explícita à sexualidade do filho de Deus. 

Outro ponto importante que merece reflexão é o fato de Jesus Cristo pregar o amor ao próximo e o respeito. Então, por que se sentir ofendido com uma representação Dele em um produto de ficção? A melhor maneira seria ignorar e não assistir, certo? Errado. O especial despertou foi uma corrente de ódio.


A impressão que dá é que foi criado um outro Jesus Cristo pelas religiões: intolerante, raivoso e obsessivo com o padrão heteronormativo, misógino e machista. Quem foge desta representação está condenado a todo tipo de violência, seja verbal ou física. Ou até um coquetel molotov. Um não, dois. Porque a violência é o único caminho que esses Cristãos conseguem enxergar, sendo que Jesus Cristo não é bélico?

Creio que já passou da hora de entendermos, de uma vez por todas, que humor e religião são coisas diferentes. E que podemos exercitar o nosso pensamento crítico e repensar se é esse mesmo o legado que Jesus Cristo deixou na Terra. 

Se analisarmos de forma crítica a história bíblica de Jesus, ele foi revolucionário: andava com as pessoas mais pobres, levava uma palavra de esperança e solidariedade aos necessitados e condenava de forma dura o fato de transformar a fé em comércio ou objeto de ódio. Fé é ligação com o Divino. E não um alvará para fazer maldades em nome de uma suposta representação de Cristo.

Quando falo suposta não quero desmerecer quem acredita ou quem faz parte de alguma religião cristã. Não é isso. O suposto vem da interpretação que devemos fazer da história da Bíblia. A história de Jesus não foi contada por ele, mas sim pelos apóstolos. E cada um conta a sua versão e puxa para si uma abordagem específica da narrativa que foi a vida do filho de Deus. 


Ah, e ainda tem um outro ponto: cada segmento cristão inclui ou omite alguns capítulos dessa história. Acredita-se em uma história que, além de sofrer a edição da supressão de capítulos, também sofre outra peneira: a do idioma, da tradução de palavras ou expressões que poderiam fazer sentido naquela época e que, hoje em dia, não diz nada com nada com coisa nenhuma.

Diante disso, você concorda que o que temos na Bíblia é uma versão da história, e não algo documental ou verídico? Os Cristão acreditam nessa história pela fé, pela ligação com o Divino, e não por ser algo verídico que aconteceu "ipsis litteris"

Então, por que se irritar com uma outra representação que não tem nenhum compromisso com a verdade e que é uma obra de ficção de humor? Como diria Felipe Neto, “não faz sentido”. Temos coisas mais importantes para defender e gastar energia, tais como o respeito e o amor ao próximo, algo inclusive pregado por Jesus Cristo.



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