#CaféEntrevista: Psicologia resiste ao obscurantismo conservador que toma conta do Brasil

outubro 18, 2019

Lourdes Machado é psicóloga, conselheira estadual de saúde e membra da próxima gestão do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRP-MG). Crédito: Arquivo Pessoal / Facebook. 

Por Sílvia Amâncio


Passadas as eleições para os Conselhos Regionais e Federal de Psicologia, realizadas em meados de agosto, profissionais progressistas e comprometidos com o código de ética da profissão e com a construção de uma sociedade mais justa e com apoio para a saúde mental das pessoas, comemoram a derrota das chapas que pregavam a reversão sexual, conhecida popularmente como “Cura Gay”.

O @cafecnoticias conversou com Lourdes Machado, psicóloga e membra da chapa eleita para a próxima gestão do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRP-MG), para saber como foi essa articulação nacional em defesa da vida, das escolhas pessoais e dos desafios em tempos de conservadorismo por todos os lados. Acompanhe!

1) O que representa a derrota da chapa que defendia a Cura Gay no CFP?

A Chapa da Cura Gay perdeu no Federal e em todos os Regionais que concorreu. Essa é a maior vitória contra o fascismo e o fundamentalismo que tomou conta da Psicologia.

2) Basicamente, o que é a Cura Gay no universo da psicologia e por que não e uma defesa/prática dos profissionais?

Temos no Brasil uma realidade violenta de assassinatos e agressões contra minorias sexuais, que demonstra o quanto o país ainda precisa avançar na defesa da garantia dos direitos de cidadania para quem têm orientações sexuais e identidades de gênero fora dos padrões heteronormativos. A Resolução nº 01/1999 veta que psicólogas e psicólogos exerçam qualquer atividade que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas. 

Os profissionais são proibidos de adotarem ação coercitiva que busque orientar homossexuais para tratamentos não solicitados. Ainda existem profissionais que desrespeitando a Resolução e os parâmetros científicos ainda querem “tratar” os LGBTIQA+ como doentes e propõe práticas de terapia na linha da “cura gay”. A resolução do CFP é um marco e é nosso dever ético defende-la.
 
Atualmente, Lourdes é Secretária-geral do Conselho Estadual de Saúde (CES-MG). Crédito: Arquivo Pessoal / Facebook. 

3) Como a psicologia lida/aborda a homossexualidade?

A psicologia, enquanto ciência e profissão, tem historicamente se posicionado em defesa dos direitos LGBTQIA+. Há 18 anos, o Conselho Federal de Psicologia formalizou por meio da Resolução nº 01/1999 o entendimento de que para a Psicologia a sexualidade faz parte da identidade de cada sujeito e, por isso, práticas homossexuais não constituem doença, distúrbio ou perversão.

4) Em Minas Gerais foi eleita uma nova gestão para o Conselho. Qual a prioridade de atuação?

Defendemos uma psicologia laica, que respeite a liberdade de credo e as opções religiosas pessoais e que, no exercício da profissão, seja fundamentada no conhecimento científico, sem subordinar-se a sistemas de crenças. 

Uma psicologia ética e comprometida com os diferentes processos de subjetivação, devendo ser solidária e empática frente a qualquer tipo de sofrimento humano e enfrentar todas as formas abusivas de medicalização ou patologização da vida. 

Respeitamos a diversidade, as diferenças individuais e a multiplicidade das subjetividades humanas. Não entendemos como deficiência, patologia, problema, distúrbio ou transtorno, aquilo que é apenas diferente, pouco usual ou não hegemônico socialmente.

5) E para os profissionais?

Defender e valorizar os campos de trabalho das Psicólogas e dos psicólogos juntamente com o Sindicato, trabalhando em prol da regulamentação das 30 horas de trabalho e piso salarial. Precisamos sustentar um exercício profissional compatível com as demandas e as necessidades da população. 
Lourdes Machado é militante do Sistema Único de Saúde (SUS) e de pautas relacionadas aos direitos humanos com inteface com a saúde mental. Crédito: Arquivo Pessoal / Facebook.
É necessário combater a precarização do trabalho especialmente daqueles que iniciam a sua trajetória profissional. Precisamos de melhorias no processo de formação, hoje ocorrendo, na sua grande maioria, em faculdades isoladas e centros universitários. 

São, entre outros, desafios complexos a exigir unidade de todas as entidades científicas e profissionais. Reconhecemos e prezamos o debate produtivo que garante a diversidade no campo científico. Defendemos a Psicologia enquanto ciência e profissão.

Em tempo

Em abril deste ano, o Superior Tribunal Federal (STF) concedeu liminar proibindo os profissionais da psicologia de oferecer serviços de terapia de reversão sexual. Desde 1990 a Organização Mundial de Saúde (OMS) deixou de classificar a  homossexualidade como doença e a retirou da Classificação Internacional de  Doenças (CID).

Dica

O Café com Notícias fez uma lista para seus leitores de lugares em Belo Horizonte (MG) que oferecem tratamento psicológico gratuitos ou com preços sociais. Confira!

# Clínica Escola do curso de Psicologia do UNIBH
Av. Professor Mário Werneck, 1685. Buritis. BH/MG.
Telefone: (31) 3319-9345

# Clínica Escola do curso de Psicologia da Newton Paiva
Av Silva Lobo, 1730 - Nova Granada. BH/MG.
Telefone: (31) 3516-2666

# Clínica Escola do curso de Psicologia da Fumec
Rua Vitório Marçola, 360 – Anchieta. BH/MG.
Telefone: (31) 3284-8999

# Clínica Escola do curso de Psicologia da PUCMinas
Av: Dom José Gaspar, 500 Coração Eucarístico. BH/MG. 
Telefone: (31) 3319-4444 ou 4322

# Clínica Escola do curso de Psicologia do Pitágoras
Rua Santa Madalena Sofia, 30. Vila Paris. BH/MG. (31) 3055-1001

# Projeto Psicólogos Pra Todos
Avenida Afonso Pena, 3130/201. Bairro Funcionários. BH/MG.
E-mail: contato@psicologospratodos.com.br

# Oficina da Alma
Rua Aristóteles Caldeira, 552. Barroca. BH/MG.

# Clínica social de Psicoterapia
Av. Álvares Cabral, 1134 – Lourdes - (31) 3291-4527





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