#Identidade: Precisamos falar com essa e a próxima geração sobre a diáspora africana, urgente!

outubro 05, 2017

Taís Araujo e Lázaro Ramos participam de evento da ONU sobre a população negra. Foto: Instagram / Reprodução.

Na noite desta última quarta-feira (04/10), o programa “Saia Justa”, do canal GNT (TV Paga), debateu, no seu primeiro bloco, a participação do casal de atores negros brasileiros Taís Araújo e Lázaro Ramos no Most Influential of Afrinca Descent, promovido pela Organização das Nações Unidades (ONU) e realizado na Universidade de Columbia, em Nova York (EUA), no final de setembro.

O evento premiou personalidades afrodescendentes mais influentes do mundo abaixo dos 40 anos, tais como Beyoncé, Rihanna, Lupita Nyong’o, Lebron James, Adriana Barbosa, entre outros. Além de premiada juntamente com Lázaro na categoria de personalidades midiáticas, Tais foi uma das apresentadoras da noite, ao lado de Ndaba Mandela, neto de Nelson Mandela.

A premiação contou também com outras três categorias: uma para empresários, outra para políticos e a última de líderes religiosos ou humanitários. Na categoria de mídia, Lázaro e Tais dividiram a honraria com a também brasileira Adriana Barbosa, criadora da Feira Preta, evento que celebra a cultura negra, e com nomes como a escritora Chimamanda e o piloto Lewis Hamilton.

Mas, mais do que falar de uma premiação, a ONU aproveitou para trazer à tona a discussão sobre a Década Internacional de Afrodescendentes (2015-2024) que sugere às nações que trabalhem com os conceitos de "Reconhecimento, Justiça e Desenvolvimento" para que a Diáspora Africana não seja esquecida, nem invisibilizada.

A Década quer propor ainda que as nações reconheçam que os povos afrodescendentes – que representam um grupo distinto, cujos direitos humanos precisam ser promovidos e protegidos, tenham mais visibilidade, acesso à políticas sociais e respeito. Ainda, de acordo com a ONU, cerca de 200 milhões de pessoas autoidentificadas como afrodescendentes vivem nas Américas. Muitos outros milhões vivem em outras partes do mundo, fora do continente africano. Depois da Nigéria, o Brasil é o segundo país com maior população negra do mundo e o único em 2017 que não propôs nenhuma política social efetiva para diminuir a desigualdade racial.

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Além de ter discursado no evento, Taís Araújo é também defensora dos Direitos das Mulheres Negras da ONU Mulheres Brasil. Em sua fala, Taís abordou algo que é extremamente prejudicial para a história individual do negro brasileiro: não temos conhecimento da nossa árvore genealógica africana, nem do país, região, tribo ou etnia africana pertencemos, uma vez que ao final da Escravidão do Brasil, grande parte desses registros foram queimados ou destruídos pelos senhores brancos da elite privilegiada.

Foram 300 anos de escravidão no Brasil. Uma escravidão cruel, com muita tortura, exploração física, sexual e mental. E a gente precisa falar sobre isso para entender que também houve muita resistência dessa escravidão, como nos quilombos que são berço de cultura, resistência e liberdade. Mas é preciso falar que o escravo negro ao chegar da África não podia usar seu nome africano, e sim um nome de batismo (ou social). Ele (ou ela) nem podia preservar o seu idioma de origem, nem a sua expressão religiosa ou cultural, pois caso desrespeitasse era colocado como condicionante para sobre mais castigos e abusos.

Boa parte da preservação cultural e religiosa de origem negra que o Brasil tem hoje esta aí por resistência, de negras e negros que lutaram para que algo fosse mantido, como o nosso sincretismo religioso da umbanda ou, até mesmo, na nossa culinária. Mas mesmo assim é pouco. Uma pessoa branca, de origem europeia, por exemplo, mesmo que tenha vindo como refugiada de guerra, sabe que seu sobrenome se remete à alguma região específica. Aos negros brasileiros, isso não foi permitido, nem mesmo após a escravidão.

Não saber da sua origem é uma forma de acabar com o povo ou de minimizá-lo socialmente. Eu mesmo, por pesquisas de membros da minha família, sei que temos traços do povo Banto, mas não sabemos ao certo de qual país, se é Moçambique, Cabo Verde ou do Congo, por exemplo. E isso é uma ruptura muito grande, pois até mesmo na escola, a cultura negra é invisibilizada, pois não estudamos a cultura dos povos africanos da mesma forma que estudamos os europeus, por exemplo.

Quando Taís Araújo falou da Diáspora Africana, me questionei se outros negros brasileiros sabiam do que isso se tratava. Ou, vou ainda mais longe, se o Brasil como um todo se apropriou desse conceito? Creio que ainda não. Precisamos falar mais sobre a Diáspora Africana. Precisamos falar para esta geração e para a próxima que os nossos antepassados foram tirados à força da mãe África, mas que graças às muitas lutas que temos (e que ainda precisamos travar), muita coisa já mudou, e muita coisa ainda precisa ser mudada.

Somos um Brasil com mais de 54% da população que se autodeclara negra, mas que é minoria em representação política e midiática. Como Taís Araújo bem apontou no “Saia Justa”, talvez seja a EDUCAÇÃO o principal instrumento para que essa mobilidade social aconteça e que esse sentimento de invisibilidade social que os negros têm, não exista mais...ou que atenue algum dia.

Mas como falar de educação de qualidade para todas e todos em um país onde quem ainda está no poder não fomenta políticas e avanços sociais para que a situação de igualdade social aconteça? Perder privilégios sociais é ameaçador porque significa perca de poder. 

É importante colocar na roda uma provocação:  muitos homens brancos, heterossexual e de classe média alta tenham no seu subconsciente (sociocultural) de que, até hoje, ele é melhor do que mulheres, negros, indígenas, homossexuais, e tantos outros grupos sociais que são invisibilizados constantemente por meio da violência. 

Culturalmente, eles foram ensinados assim e há toda uma cadeia para que isso se fortaleça dentro de casa, na escola, no trabalho, na religião, e por aí afora. São poucos homens que fazem o exercício de desvia o olhar, de entender que possuem privilégios e que precisam mudar a postura diante da vida, seja por empatia ou por respeito ao outro.

Em uma sociedade onde todos possuem condições de REPRESENTATIVIDADE, não há poder na mão de um único grupo social. E isso, para muitos, é assustador. Para outros não. É questão de EMPODERAMENTO, RESPEITO e JUSTIÇA

Precisamos ter mais consciência sobre o que somos e o que queremos na nossa sociedade. Precisamos entender que a luta por RESPEITO é de todas e todos. Precisamos entender que sim, os privilégios sociais existem. Que ainda existe racismo no Brasil e no mundo. E, mais do que isso, precisamos entender que nada, nada mesmo, acontece por acaso. Os livros de história estão aí para isso.




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Jornalista

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