Documentário sobre perda gestacional será lançado em BH
novembro 24, 2015
“Dar voz ao luto e apoio para mães e pais que passaram pela triste experiência de não trazerem seu filho para casa”. É assim que o casal Fabrício Gimenes e Rafaella Biasi, responsáveis pelo documentário “O Segundo Sol”, resumem o objetivo do trabalho. Depois de quase um ano de produção e gravações, o projeto será lançado no próximo dia 30 de novembro, segunda-feira às 19h30, no Cine Theatro Brasil Vallourec, Espaço Teatro Câmara, com entrada gratuita (necessário incluir nome na lista no site do projeto).
Após a estreia o material será disponibilizado na internet para o livre consumo e distribuição. Informações na página do projeto: www.osegundosol.com. Totalmente independente, a narrativa com duração de 62 minutos é conduzida por relatos de cinco famílias que vivenciaram a perda gestacional e neonatal, diálogos com profissionais da área da saúde e questionamentos sobre a vida, nascimento e, claro, a morte.
“O Segundo Sol foi feito com muita sensibilidade à dor alheia e respeito às histórias desses bebês que logo se foram. Unimos nosso olhar e juntos costuramos através da imagem o documentário”, descreve Fabrício Gimenes, idealizador do projeto.
Segundo ele, o trabalho tem a preocupação de dar voz para o luto incluindo perdas em diferentes estágios da gravidez. “O documentário mais do que falar sobre filhos que partiram, honra a existência deles no mundo através de cada história. Falar sobre nossos filhos traz paz e aconchego e a certeza que ao contar uma história nosso filho permanece no mundo”, destaca. Abaixo, assista o trailer:
Mais do que apoio, o trabalho oferece ainda material capaz de conscientizar as pessoas, familiares, amigos e profissionais, sobre a necessidade de ser empático neste momento de dor. “Buscamos um material capaz de explicar, minimamente, o processo do luto nesta ocasião àqueles que por diversas razões tem contato com essas vítimas”.
Além do cuidado com histórias relatadas, “O Segundo Sol” tem grande preocupação em tratar de uma tema profundo e complexo com esperança. “Nunca distanciamos de que estávamos lidando com um tema muito triste, muito difícil, mesmo porque nem se quiséssemos conseguiríamos tamanha proeza: estávamos falando de nós mesmos. Mas a vontade era de que o nome falasse sobre um futuro de alegrias apesar e para além da dor da perda”, afirma Rafaella Biasi, outra idealizadora do projeto.
Ela revela ainda o cuidado com a escolha do nome “O Segundo Sol”. É como esse abrir da janela depois do período do luto que conseguimos ver beleza nas coisas. No momento de luto estamos tão acolhidos na dor que nem abrir essa janela queremos, e o dia pode estar muito bonito, mas nossas lentes estão em preto e branco. A luz é também uma analogia a iluminação do tema perda gestacional e neonatal. Tirar o tema da obscuridade e jogar essa luz através de histórias reais, de pessoas de carne e osso que assim como eu e Fabricio, também tem uma história de perda e amor para contar”.
Logo após a apresentação do documentário acontecerá ainda um bate-papo entre os profissionais de saúde envolvidos com o tema, produtores do filme e o público participante.
História
O documentário surgiu da própria experiência do casal: Fabrício, publicitário, e Rafaella, astróloga e modista, engravidaram no início de 2014 e perderam Miguel em 6 de novembro do mesmo ano, com 40 semanas de gestação. “A gestação do Miguel foi um aprendizado em diversos aspectos. Desde o início, aprendemos muito. Todo o contato que estabelecemos com a questão do parto humanizado, com a realização plena de viver à espera do querido filho. E, já no final, entramos em contato com a hora mais escura da noite, a perda do nosso filho. Miguel nos deixou sem explicação algumas horas antes de vir ao mundo”, conta Rafaella.
Fabricio revela que toda a dor vivida nesse processo mudou a forma de enxergar a vida. “Em nenhuma conjuntura podíamos nos considerar mais os mesmos. E essa sensação de que algo mudou foi evoluindo aos pouquinhos. Nós tivemos muito apoio, fomos brilhantemente assistidos. Esses meses de terapia, apoio dos amigos e da família nos fez pensar. Pensar que existem mães e pais por aí que não tiveram esse acolhimento. Existem mães e pais por aí que não estão conseguindo enxergar uma luz no fim do túnel. E foi aí que decidimos fazer algo”, declara Fabricio referindo-se ao projeto.
O casal conta que a princípio a ideia era produzir um documentário. “Queríamos dar voz a essas histórias que víamos. Mas um documentário leva algum tempo. E aí, meio sem perceber, O Segundo Sol foi se transformando em algo mais abrangente. O site tornou-se um canal de informação para este público enriquecendo, assim, ainda mais o tema. Aos poucos, todas as percepções que vivenciamos com outros pais, profissionais e pessoas no geral durante esses primeiros seis meses de saudade, começaram a se aglutinar sob o projeto”.
Além do documentário
Durante o processo de luto, Rafella e Fabricio conhecerem diversos grupos de apoio a perda gestacionais pelo país. Entre eles, um em Belo Horizonte, onde residem, o “Por que partiu tão cedo?” que foi fundamental para suas vidas e também para o documentário. Trata-se de um grupo fundado há dois anos pela doula Bel Cristina para apoiar mães e pais que sofreram perdas por aborto ou de bebês recém nascidos, a iniciativa começou pelo Facebook e hoje realiza encontros mensais.
Atualmente, além da própria Bel, o grupo é coordenado também pela psicóloga Renata Duailibi e a médica e psicoterapeuta, Ana Lana. Ambas participam do documentário. “Além de profissionais da saúde são pessoas dispostas a acolher o tema, a escutar o que tínhamos pra dizer. Além de nos ajudar sobremaneira nos encontros mensais esses profissionais também nos apoiaram com suas participações no documentário: é possível encontrar profissionais preocupados com o tema e trabalhando para mudar o cenário de suporte a essas famílias que perdem seus filhos prematuramente”, destaca Rafaella.
Para a psicóloga Renata Duailibi é muito importante falar sobre o luto e dar visibilidade a esta pauta. “Como psicóloga, atuando com gestantes, puérperas e casais com perdas gestacionais, observo que o que aparece na mídia, nos cursos, nas rodas, são sempre as histórias positivas, cor de rosa e de final feliz. Acho importante a divulgação do "lado triste da maternidade". Falar sobre as perdas, a dor, o luto, ou seja, trazer à público o tema. O trabalho com casais enlutados é sempre um desafio.
Um convite à superação. Uma aposta na capacidade do ser humano em transformar a dor em alguma outra coisa”, comenta Renata reforçando o papel do grupo "Por que partiu tão cedo"; “é um espaço criado para dividir histórias e compartilhar o sofrimento, na busca de conforto e solidariedade. Do grupo surgiu a ideia do documentário "O Segundo Sol", que traz em si uma resposta à demanda de abrir espaço para se falar sobre a perda”.
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