#CaféEntrevista: A relação entre a neurociência e a educação
setembro 21, 2015
Imagine uma aula de matemática com
música, dança ou teatro. E se essa hipótese saísse do imaginário e fosse
realidade? E se diversos estímulos ao nosso cérebro fossem utilizados a favor
da aprendizagem? É assim que o professor e chefe do Laboratório de Neuroplasticidade
do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Lent, vê a educação do
futuro.
Para ele, essa nova metodologia não
precisa necessariamente acontecer em um futuro distante e pode ser praticada
desde já. Lent possui uma série de trabalhos científicos sobre desenvolvimento
e evolução do cérebro, bem como livros de divulgação da neurociência para
adultos e crianças. Em entrevista à Agência
Fiocruz, o professor fala como nosso cérebro pode ser usado em prol da
educação. Acompanhe:
1) Como a neurociência pode aprimorar o processo de
aprendizagem? Qual a importância desse diálogo entre ciência e educação?
A neurociência revela mecanismos e processos cerebrais
envolvidos na aprendizagem, e pode propor sugestões para facilitar ou acelerar
a aprendizagem. Caberá aos professores e gestores avaliarem se as sugestões
poderão ser acatadas ou não, e de que modo.
2) Em um artigo publicado pelo Ciência Hoje Online, o
senhor destaca que o treinamento focalizado em música, dança ou teatro poderia
fortalecer o sistema atencional do cérebro facilitando o processo de
aprendizagem. De que forma isso ocorre?
Trata-se de um fenômeno chamado plasticidade transmodal:
aprender a focar a atenção com a música e outras artes, que são atividades de
alta força motivacional, pode se transferir à matemática, que por ser abstrata
tem baixo poder motivacional para as crianças.
3) Outros estímulos podem contribuir para o ensino e
conhecimento? Quais?
Um bom período de sono durante a noite e a soneca depois
do almoço são reconhecidos como elementos positivos para a consolidação da
memória. O exercício físico é outro elemento positivo, pois além de
possibilitar também aprender a focar a atenção, resulta em maior neurogênese
(geração de novos neurônios) no hipocampo, uma parte do cérebro relacionada à
memória.
4) Como estas perspectivas podem ser aplicadas no dia a
dia dos alunos e professores?
Essa é uma questão não resolvida, que depende de avaliação
pelos professores e gestores, pois implica mudanças na grade curricular, no
peso relativo atribuído às diferentes disciplinas. Os neurocientistas não chegam
a esse plano de atuação.
5) Como o senhor vê a educação do futuro a partir destes
resultados? Este processo já pode ser implantado nas instituições de ensino?
Os dados e evidências que a neurociência tem produzido já
estão disponíveis para a correspondente tradução (translação) à prática
educacional. Sua aplicação pode ser imediata ou deixada para mais tarde: essa é
uma decisão dos gestores e educadores. A pesquisa translacional em Ciência para
Educação (CpE) é como na Saúde: os pesquisadores desenvolvem conceitos e
produtos para a Saúde, mas a sua aplicação prática depende dos gestores.
6) Quais
desafios o senhor percebe nessa implantação?
Será fundamental estabelecer uma base científica para a
educação, fomentar a pesquisa translacional em CpE, como já se faz há décadas
em saúde, e chamar os cientistas - não somente os neurocientistas - a dirigir
as suas pesquisas a problemas da Educação. Esse é um desafio de política
científica, e de convencimento da própria comunidade científica que se trata de
um caminho essencial para o desenvolvimento da educação brasileira.
____________________________
Fonte: Agência
Fiocruz.
Gostou do Café com Notícias?
Então, siga-me no Twitter, curta a Fan Page no Facebook, siga a company
page no LinkedIn, circule o blog
no Google Plus, assine a newsletter e baixe
o aplicativo do blog.
0 comentários