Rolezinho é também um grito de liberdade por integração social dos jovens da periferia

janeiro 13, 2014

Foto: Portal Terra / Reprodução.

Não é um ato criado com o objetivo de protesto, mas a sua ação desperta debates interessantes sobre inserção social e preconceito. Desde dezembro do ano passado, adolescentes da periferia tem utilizado as redes sociais para marcar encontros em shoppings de classe média alta (e rica) nos grandes centros urbanos, o chamado rolezinho.

A grande maioria deles quer apenas ocupar um espaço que, até então era destinado apenas a pessoas mais abastadas. A proposta é conhecer outros jovens, namorar e ostentar produtos caros de grife. O conteúdo político deste ato fica por conta da nossa interpretação, uma vez que a polícia tem sido utilizada para reprimir os rolezinhos sob a acusação de arrastão.

Os lojistas estão apreensivos. Teve até um shopping de São Paulo que conseguiu uma liminar para proibir os rolezinhos por temer uma onda de violência. Em Belo Horizonte, no último final de semana, o Shopping Estação BH foi palco de um rolezinho. Os comerciantes e clientes ficaram com medo. Houve tumulto, mas não houve assalto.

Porque será que o rolezinho está causando tanta polêmica? Será que haveria a mesma discussão se um grupo de adolescentes brancos e de classe média alta fizessem a mesma reunião em massa dentro de um shopping? O cientista político Rudá Ricci classificou o rolezinho, em seu blog, de occupy da periferia.

Em sua grande maioria, os jovens do rolezinho nem tem a noção do debate social que existe nesta questão. Querem ir ao shopping para se divertir, dançar e paquerar. Algo muito normal desta faixa etária. 

Mas, o que é preciso ficar claro é que inibir a entrada de alguém (ou de um grupo) em um shopping, mesmo que seja sobre a prerrogativa de proteger os lojistas e os demais consumidores, pode ser visto sim como preconceito.

Esses jovens participantes do rolezinho estão transgredindo uma barreira de invisibilidade social que define pelo valor econômico (e, infelizmente, pelo tom de pele) os espaços em que cada classe social possa usufruir.

O rolezinho diz, de uma forma muito direta, que isso não existe mais. Ao entrar em uma loja de grife e pagar pelo tênis, o boné ou a camisa de marca, eles se sentem incluídos e afirmam, com todas as letras, “nós também podemos”.

Este novo valor social de consumo já é possível de ser percebido por meio do funk ostentação. Trata-se de jovens que tem estilo, gírias e músicas próprias. Eles estão se identificando cada vez mais com outros artistas que vem do mesmo lugar que eles: são sucessos do YouTube, mas não das rádios, nem dos programas de auditório da TV.

No mais, o rolezinho mostra de uma forma muito cruel que o apartheid social no Brasil é latente e que ainda existe uma parcela que não quer ver a “Classe C” ocupando os mesmos espaços da “Classe A”. É de uma covardia tamanha a polícia usar de violência para inibi-los, quando nada de grave aconteceu.

Pelo que li a respeito, os jovens da periferia só querem usufruir o espaço. Até aí tudo bem. Se o rolezinho virar de fato um arrastão, aí é outro debate. Mas a proposta do encontro, até onde sei, não é essa. Não acho certo ligarem o fato deles estarem juntos no shopping com "arrastão ou incitação a violência". Isso é preconceito!

Outro dia li aqui mesmo no Facebook um comentário que me fez pensar sobre isso. "Se fosse 100 jovens brancos de classe média marcando de ir ao shopping seria um flash mob, não um rolezinho". Será que estamos menos resistente ao diferente? 




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Jornalista

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