#VempraruaBH – Telejornais mineiros ainda não entenderam a dimensão das manifestações
junho 21, 2013
Há pouco mais de uma semana, uma onda
de protestos por todo o Brasil tem ganhado destaque nos noticiários e, em Belo
Horizonte, não seria diferente. No entanto, o que tem chamado a atenção do
público é o fato de como a mídia mineira tem adotado um tom inseguro e, muitas
vezes omisso, em relação às manifestações populares horizontais, principalmente
na TV. O povo está na rua protestando contra essa onda de corrupção e isso, por
si só, já é motivo de pauta. Não é só de violência que se vive o jornalismo.
É de se estranhar que, na última segunda-feira
(17/06), nenhum dos telejornais mineiros teve a iniciativa editorial de fazer
um jornal ao vivo direto das ruas, uma edição especial para tentar entender
como milhares de pessoas marcharam da Praça 7 até a Portaria 1 da UFMG, próximo
ao Mineirão, para mostrar aos nossos políticos que eles não mais nos
representam, que a Copa do Mundo, até agora, deixou problemas enormes de
mobilidade urbana e gastos da verba pública na capital mineira. Estávamos numa
cobertura atípica e ninguém teve sensibilidade para entender isso.
Neste dia, os telejornais noticiaram
o protesto como algo que atrapalhou o trânsito, que criou pontos de vandalismo
e conflitos com a polícia. E o tom, aos poucos, foi se diluindo. De forma muito
lenta, os noticiários de TV em BH custaram a entender que estávamos
todos vivendo um momento histórico no Brasil e que a multidão das ruas não era
coisa de adolescentes “desocupados” nas redes sociais. O movimento tinha forma,
força e representatividade.
Em Belo Horizonte – e assim como
algumas cidades mineiras, a informação sobre os protestos estavam nas redes
sociais, e não na TV. Com exceção da Record Minas que, desde a onda de
protestos, tem dado amplo destaque a cobertura ao vivo dos protestos em BH, as
outras emissoras se limitavam a fazer uma cobertura padrão do jornal do dia. Um
dos pontos que mais me chamou a atenção foi o fato das emissoras se negarem a
aprofundar as discussões sobre os movimentos, de criar um material de apuração
exclusivo, de abrir voz para as pessoas envolvidas diretamente com a
organização, e não só dar voz às fontes oficiais como polícia, Prefeitura e
Estado.
A @tvglobominas precisa se impor mais perante a rede e vender melhor #BH para @rede_globo e pro @canalglobonews. O mineiro ñ se vê na TV.
— Wander Veroni (@wanderveroni) June 20, 2013
Em uma dada reportagem desta semana,
o Jornal da Alterosa convocou um psicólogo
para falar sobre os protestos no Brasil. Como assim? Como um psicólogo pode
avaliar um momento social que nem mesmo os cientistas políticos conseguiram
fazer um diagnóstico preciso disso? Está tudo muito no início, minha gente e,
definitivamente, um psicólogo não é um especialista adequado.
Ainda sobre a afiliada do SBT em
Minas, nesta quinta-feira (20/06), o repórter me faz uma entrada ao vivo, atrás
da pilastra, enquanto os manifestantes se dirigiam para porta da Prefeitura.
Prefiro acreditar que faltou malícia para entender que a omissão dessa imagem
derrubou todo um trabalho de apuração, do que seria uma omissão editorial.
Enquanto isso, a Globo Minas tem
mostrado enorme dificuldade de noticiar a onda de protestos em Belo Horizonte.
Tudo é feito de longe, um distanciamento semiótico e físico que impressiona. A
impressão que se passa é de uma grande omissão em não fornecer matérias para a
Rede, muito menos ter a iniciativa de deixar um repórter para abastecer a Globo
News ou entrar ao vivo quando for preciso.
Chegava a ser estranho várias praças serem
citadas para exibir o seu relato, e Minas ficava de fora – ou quando muito era
lembrada apenas com câmeras de trânsito de baixa qualidade. O mineiro não se
sentiu representado na TV nesta última semana. Faltou muita, mas muita
iniciativa editorial de vender BH como uma pauta relevante nacional. A
impressão que dava, nacionalmente, que estava tudo calmo em BH, quando na
verdade não estava.
Só sei que está muito estranho a
omissão das TVs mineiras – e de outros veículos, porque não dizer, que não
questionam a administração pública, que não se permite interromper uma grade de
programação para dar destaque local a um fato que possui dimensão nacional e
ganhou repercussão internacional. Já passou da hora de sair de cima do muro e
mostrar independência. O momento pede isso. O Brasil está mudando e tem alguns
veículos comendo mosca. Não é à toa que as redes sociais estão crescendo a cada
dia: a pluralidade de informação é maior.
#vemprarua #vemnapaz #mudaBrasil #OGiganteAcordou
Fotos: Folha de S. Paulo / Reprodução.
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Jornalista
2 comentários
os jornais de minas gerais tem vendido ao telespectador outra realidade,como se aqui tivesse tudo muito calmo ou que só tem vandalos nas manifestações e no mgtv 1ª edição eles saem as ruas perguntando as pessoas o que acham e elas dizem que gostam as manifestação mas pacifica e sem vandalismo mas engraçado só mostram os vandalismos não mostrar a marcha pacifica.
ResponderExcluirWander, excelente o seu texto. Uma crítica pontual às emissoras de TV mineira que estão tão presas a cobertura policial que não conseguem ir além, pensar fora da caixa. O telespectador já está ciente disso. Não é a toa que podemos ver a hostilidade aos jornalistas destas emissoras. O povo não se vê na TV.
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