Ainda existe esperança no legislativo brasileiro?
abril 04, 2013
Fala sério! Assim como grande parte
dos brasileiros, fiquei desacreditado com o legislativo. Em muitos momentos,
não me sinto representado. Onde foi parar a ideologia? Também não sou “Poliana”
de achar que os legisladores podem mudar o Brasil em apenas um mandato. São
muitas questões para pouco tempo. Mas é tanta vergonha, tanta sujeira, tanto
jogo político pelo vale tudo na permanência no poder, que me dá nojo. Eu havia
perdido a esperança no legislativo. No ano passado, nas eleições de esfera
municipal, vi políticos que tinham um trabalho sério e, de forma indecente, se
venderem por muito pouco. Ou ainda, na pior das hipóteses, políticos não serem reeleitos,
mesmo tendo um trabalho transparente.
Do jeito que está, temo sinceramente
pelo futuro da minha cidade, do meu estado, do meu país. A coisa está em um
nível tão grotesco que o pessimismo insiste em tomar conta. Tento resistir, mas
está cada vez mais difícil. Colocar todos os nossos políticos no mesmo saco é
burrice. Por mais delirante que isso possa parecer, ainda existem políticos
preocupados em oferecer uma agenda de soluções e debates para os problemas
sociais, e não só se transformando em massa de manobra de Partido que busca “governabilidade”
em uma aliança partidária que leva em conta, muitas vezes, somente os minutos na próxima propaganda
eleitoral, e não um projeto de Governo.
Não acredito mais nos Partidos. Não
existe mais essa ideia de que um partido defende tal coisa, e outro defende
aquilo. As alianças eleitorais assassinaram a ideologia política. O que está se
tornando comum são políticos que, mesmo estando em um partido, conseguem
mostrar uma proposta de agenda pública muito mais coerente do que a da próprio
partido em si. Hoje em dia, voto no político e não mais no partido. E vamos
falar uma coisa séria: o que existe por aí de “partido de aluguel” e de “político
poste”, não está no gibi. Tem político e partido que só entram no mundo
político para terem alguma lasquinha de poder, e só. Não acrescentam nada de
útil para a máquina pública. E o pior é que esses tem um “curral eleitoral” que
sempre os (re)elege. Difícil de entender.
Mas, recentemente, voltei a ter
esperança na política: consegui ver exemplos de formiguinha, de pessoas que não
sabiam o papel do legislativo e que agora começaram a entender as coisas. De
alguns legisladores comprometidos com a causa social, de não querer colocar
para debaixo do tapete os problemas da nossa cidade, do nosso Estado. Este tipo
de legislador está quase entrando em extinção, mas ainda bem que ele existe. A
sociedade carece muito desse tipo de político que entende o verdadeiro
significado da profissão, que não faz do seu cargo uma moeda de troca pelo
poder.
Um bom exemplo disso é o que está
acontecendo em Brasília-DF, seja em relação à PEC das Domésticas – que é um avanço enorme de dignidade e respeito
para o trabalhador doméstico que ainda vive do ranço cultural da época escravocrata
da mucama que fica horas e horas por conta das necessidades da sinhá, seja em
torno desta discussão sobre o atual presidente da Comissão de Direitos Humanos
da Câmara Federal, o deputado e pastor Marcos Feliciano. Certamente, ele não me
representa. E acredito que também não representa os evangélicos que entendem o
verdadeiro sentido religioso [e cidadão] do respeito e amor ao próximo.
Há uma campanha forte na internet de
pessoas comuns, celebridades e comunicadores sobre este acinte que é ter um
personagem declaradamente racista, homofóbico e que distorce o discurso cristão
presidindo uma Comissão que tem como objetivo proteger os direitos civis dos
negros, dos homossexuais, das mulheres, das crianças e dos adolescentes, dos indígenas,
dos quilombolas, das pessoas que passaram por uma situação de tortura,
violência, exploração, abuso, trabalho escravo ou tráfico humano. É uma pauta
ampla que não dá para ser tratada de modo subjetivo: não são só minorias, são
pessoas.
Nesta quarta-feira (03/04), ao
assistir o programa #SaiaJusta, do
canal GNT, o deputado federal Jean Willys, deu uma aula sobre direitos humanos,
de como a sociedade ainda insiste em misturar as esferas religiosas com a
questão civil. Por exemplo: o caso do casamento gay, um assunto que nem deveria
ser polêmico visto, que a homossexualidade sempre existiu na história da humanidade
das mais diferentes formas. Jean mostrou que ainda existe uma parte do público
e de políticos que querem levar o debate para o lado religioso. Dá para acreditar nisso? Lutamos muito para ter um estado democrático de direito e
laico, perder isso agora é um retrocesso.
O casamento é um direito civil que a
comunidade LGBT quer garantir, uma vez que a nossa constituição protege o
cidadão. Marginalizar algo que já existe na sociedade é tampar o sol com a
peneira. Na hora de pagar impostos, de votar, de respeitar as leis, ninguém
quer saber se você é negro, branco, amarelo, homossexual, heterossexual,
bissexual, ET. O escambal. Isso pouco importa. Então, que paremos com essa
hipocrisia de que um gay não pode casar, nem constituir família, usando um
discurso que estimula o preconceito e desvirtua o debate para o campo religioso.
A fé, em si, é algo maravilhoso, agregador e pacificador. Usá-la para estimular
o preconceito, incitar a violência ou extorquir pessoas é leviano.
Independente da identidade religiosa
de cada um, sejamos francos: a bíblia cristã retrata uma época de milhares de
anos atrás, tendo como pano de fundo o judaísmo e o islã, que são religiões
onde há pouco espaço para o debate e para a liberdade individual. Cristo fundou
a sua Igreja baseando-se em pessoas, na diversidade social, acolhendo pessoas
que estavam à margem da sociedade com amor, respeito e liberdade. As regras
sociais foram colocadas pelos homens e pela cultura da qual se faz parte, e não
por Cristo. Amar ao próximo como a ti mesmo. Como ser religioso e não colocar isso em prática? Por incrível que pareça, ainda tem gente que se esquece disso.
Precisamos aprender a respeitar a
diversidade. Somos iguais nas nossas diferenças. Historicamente, o Brasil tem uma dívida social com os homossexuais, com os negros e com os indígenas que dificilmente
será resgatada neste século. Mas, não podemos cruzar os braços. É preciso
respeitar as diferenças e agregar. Respeitar a liberdade de fé ou a
ausência de fé das pessoas. Precisamos exorcizar a culpa e o preconceito da nossa mente e coração. Falando nisso, é preciso aceitar que a família
brasileira mudou e ainda vai mudar muito mais. Hoje em dia, laços afetivos dizem mais sobre
uma família do que, propriamente, os laços de sangue.
Os cultos evangélicos, os templos, as
religiões de matriz africana, os orixás, as divindades, o folclore, os costumes
pagãos, precisam ser respeitados. Tudo isso é liberdade individual. Tudo isso é Brasil. Chega de “Guerra
Santa”. Estamos no século XXI e já passou da hora de virar a página. Um casal
homossexual que quer ter uma união estável precisa ter os mesmos direitos de um
casal hétero que quer casar, passar pelo rito de uma cerimônia nupcial e constituir família. Em que o direito civil e a felicidade
do outro incomoda tanto?
Sinceramente, não sei. Mas aqui, a verdade é que nós somos uma sociedade hipócrita. Reclamamos que os políticos "não prestam", mas somos incapazes de nos organizar para tirar os corruptos do poder, de modo prático e objetivo. Lanço aqui um desafio: você se
lembra dos vereadores, senadores e deputados (federais e estaduais) em que
votou nas últimas eleições? Eles ganharam? Se ganharam, você os fiscaliza? Sabe
quais são as pautas que eles defendem? Você se sente representado? Por ora, o
nosso voto é a única maneira de dar um basta ou apoiar uma causa. Eu não voto
no menos pior, nem jogo meu voto lixo. Vote em quem você acredita. Fiscalize. Precisamos virar a página para um Brasil mais justo e tolerante.
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Jornalista
4 comentários
Também não perdi a minha fé no legislativo, mas está cada vez mais complicado. Tem poucos que salvam. E o Jean Willys é um deles. Preocupado com a causa e bem articulado. Está fazendo história.
ResponderExcluirOi Mirela! Obrigado pelo comentário. Realmente, o Jean Willys como deputado foi uma grata surpresa. É bom ver que ainda existem políticos como ele preocupado com a causa social e não com o poder. Abraços
ExcluirOlha Wander, depois que eu fiz estágio em uma Casa Legislativa por quase dois anos, aprendi que o problema principal é que não existe um hábito da sociedade em acompanhar e fiscalizar os trabalhos dos políticos. Pelo menos aqui existem ferramentas e instituições que ajudam nisso, mas que poucos conhecem e utilizam. E se em determinado lugar não tem essa tentativa de transparência, só pelo interesse de acompanhar, a população deve se mexer.
ResponderExcluirSó se exaltam partidos ou sentimentos de revolta com as notícias de escândalos, ou tapam os olhos para o assunto política, já que "ninguém presta mesmo". Me surpreendi com boas iniciativas vindas de gente que eu nem imaginava, mas infelizmente com pouca repercussão. Eu sabia disso quando ia fazer reportagens para o jornal de lá, e via como as pessoas sequer tinham a noção do que estava acontecendo.
Enquanto a maior parte da sociedade não aprender a acompanhar o que anda sendo feito (de bom e de ruim), não vai adiantar reclamar porque a corja que não presta está no poder. Dia de consciência política não é apenas no dia das Eleições, mas deve ser sempre. A gente só consegue mudar o futuro quando entende o que está acontecendo no presente.
Em relação ao preconceito, como comentei em outro blog, eu acredito que nunca chegaremos a uma sociedade sem preconceitos, mas podemos lutar para ter pelo menos uma sociedade com a mente mais aberta e com a noção de respeito às diferenças.
Abçs
Danilo Moreira
http://blogpontotres.blogspot.com.br/
Oi Danilo! Obrigado pelo comentário. Gosto muito de ler as suas participações aqui no Café. Já tive também a oportunidade de trabalhar tanto no legislativo municipal, quanto no estadual, e realmente as pessoas pouco se interessam pelas pautas ou por debates que realmente podem acrescentar algo de útil. Ano passado fiquei desanimado porque vi coisas do arco da velha. Mas, recentemente, vi atitudes que me fizeram ter esperança novamente. Trabalho de formiguinha que pode fazer a diferença e espero que faça. Grande abraço
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