Documentário "O Riso dos Outros" discute a realidade atual do humor brasileiro

janeiro 12, 2013




Navegando pelas redes sociais, encontrei uma postagem no Facebook do amigo @Valmique sobre o documentário O Riso dos Outros. Neste post, o contexto era sobre a última piada sem graça repercutida pelo Danilo Gentili no Twitter, a respeito do número de gays que são assassinados diariamente no Brasil. Mais uma vez, Gentili se perde numa piada sem graça reforçando preconceitos que já estão tão impregnados na nossa sociedade que acredito que nem ele mesmo tenha ciência disso.

Tudo bem, o humor é para provocar. Em alguns casos, não é nem para ser levado a sério. É uma piada. Uma piada que pode ter um contexto numa conversa de bar, numa roda de amigos, num show, no programa de TV, onde há a possibilidade de ir além ou entender o contexto daquilo que foi apresentado. Nas redes sociais, o buraco é mais embaixo. Um post é atemporal e pode ser interpretado de várias formas. No caso do Danilo, ele quis brincar com algo que ele mesmo julga engraçado. E, por mais triste que seja, há muitos que pensam assim como ele: acham graça no reforço do preconceito das mais variadas formas.

Dentro deste contexto da piada sem graça e a briga virtual que o deputado Jean Willys travou com Gentili por conta dele ter tentado fazer graça com algo que é muito sério, fui apresentado ao documentário O Riso dos Outros. São vários depoimentos de humoristas e personalidades que debatem essa “nova velha” fórmula do humor brasileiro de fazer graça com o preconceito e com as diferenças. Particularmente, tenho muitas restrições a este tipo de humor do deboche escrachado que pega um alvo para humilha-lo, sem ao menos pensar nas consequências que isso possa causar. O humor merece ser altivo, reflexivo, insersivo e, acima de tudo, universal. Todos temos direito de rir. Aliás, rir de si mesmo é uma nobre virtude. Por isso é tão importante aquela frase: quero rir com você, e não de você.

Durante séculos, o povo brasileiro viveu sob o estigma do preconceito, da submissão e do subjulgamento. Os negros, índios, mulheres, homossexuais, cientistas, escritores, pensadores, ateus e pessoas que seguissem outra vertente religiosa que não fosse o Cristianismo eram condenados a ficar à margem da sociedade, as chamadas minorias que não tem nada de pequeno. São gente como a gente. Ser diferente não pode, nem deve ser motivo de exclusão, de avacalhação, de forçação de barra para o riso.

Se pararmos para pensar, em algumas cidades ou Estados brasileiros, a população negra é maior que a branca, por exemplo. No Brasil, segundo o IBGE, há mais mulheres do que homens. Os gays estão se tornando um grupo com uma identidade cultural tão forte na sociedade que já são responsáveis por movimentar a indústria do entretenimento e do turismo. O Brasil é um país laico e tem a liberdade de expressão garantida na nossa Constituição. Cada um é livre para pensar e fazer o que quiser, desde que não faça mal a ninguém e honre os seus direitos e deveres. Mas, porque o preconceito ainda existe?

É difícil quebrar a corrente de séculos de estímulo à humilhação do diferente. Só agora que este debate está ganhado forma e representatividade. Vai demorar muito para que a sociedade começa a entender que ainda há resquícios da escravidão e do subjulgamento à mulher. É uma questão de hábito. Pode ser que no futuro, um casal hétero aprenda a dividir os trabalhos domésticos e a responsabilidade dos filhos. Que uma criança negra, asiática, indígena, ruiva ou homossexual não ganhe “apelidos” na escola só porque é diferente das outras. E quando esse dia chegar, pode apostar que a piada vai ser outra, mas o riso não se perderá.

Mas, porque o humor reforça tanto as diferenças? Por que esse tipo de debate incomoda. Por que as diferenças e a forma como cada um deve se portar na sociedade, obedecendo padrões pré-determinados, ainda predominam. E o humor é apenas mais um de tantos outros canais que usam o racismo, a intolerância religiosa, a orientação sexual, o machismo, e outros tantos problemas, para reforçar um comportamento que ainda existe e que aos poucos está lutando para ser extinto.

Por que o politicamente correto incomoda tanto? Por que há a imposição do respeito, coisa que até vinte anos atrás era impossível de ganhar voz e ouvido. As pessoas querem respeito. Querem se sentir inseridas na sociedade, não apenas divididas em grupos, etnias e sexo. Somos iguais nas nossas diferenças. Precisamos acabar com mais de um século esculhambação, de humilhação, de ser condenado pelo que você é ou acredita. Estamos chegando numa era em que a palavra liberdade e respeito vão começar a caminhar juntas de vez e se tornar ação.

O preconceito machuca, fere, humilha e acaba com autoestima da pessoa que é o alvo da piada, do ataque, da grosseria. Falta sensibilidade e educação para entender que o mundo mudou. Que hoje os negros e os índios são tão brasileiros como os europeus que aqui chegaram. Que as mulheres tem direito e deveres, assim como os homens. Que orientação sexual não define o caráter, nem as qualidades e defeitos de ninguém.

Chega dessa máxima de que é preciso viver o preconceito diariamente na pele, no sexo, na fé, para entende-lo e entender a importância de extingui-lo. Por um mundo mais livre e com respeito. E que as minhas, as suas e as nossas diferenças não reforcem mais nada disso, muito menos o riso do outro. Assista o documentário, abaixo:




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7 comentários

  1. Parabéns pela postagem, Wander. Muito bom o artigo sobre como o humor pode ser um meio para reforçar o preconceito. Não conhecia o documentário....muito bom mesmo.

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  2. Concordo em partes com você. Só o grupo ou a pessoa alvo da piada sabe como isso pode lhe atacar ou lhe ferir. Mas a gente não pode levar toda a piada a sério....se não o humor não seria mais engraçado. O documentário é muito bom, curti.

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  3. Não gosto do Danilo Gentili. Acho que ele só faz isso para ganhar mídia e depois com a cara dura volta atrás no que disse. Vcs deveriam nem dar Ibope para ele...é só igonorar que essas piadas sem graça dele vão acabar.

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  4. Muito bom este texto....adorei a reflexão que você trouxe. Não podemos nos acostumar com a perpetuação de ideias e atitudes preconceituosas. Viva o respeito!!!

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  5. Ótimo post! Não conhecia este documentário. Uma aula de reflexão sobre o humor. Vou compartilhar com os meus amigos. Beijos

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  6. Realmente a muito tempo, pessoas tem ganho dinheiro
    rindo da cara dos outros. Eu penso que piada boa é aquela que faz todos rirem, que aumenta a auto estima, que faz bem a todos. Fazer piada com os problemas alheios, com esta ou aquela identidade sexual, ou classe social é muito triste. Não é uma piada. Infelizmente temos visto muitos humoristas ficarem famosos fazendo piada da vida dos outros. Acredito que há outras formas de ficar famoso. O que tem que acontecer é um boicote das pessoas em relação a esse tipo de humor. Ele só sobrevive porque uma grande parcela da população curte. Vamos ignorar esse tipo de preconceito!!!

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  7. Não é preconceito é piada, só piada. é direito da pessoa q é alvo da piada interpretar como preconceito ou aceitar e entrar na brincadeira. Ninguém é perfeito basta a pessoa saber brincar e se divertir com seus defeitos e erros.

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