#Crônica: O último jornalista

dezembro 05, 2012



No final do dia, uma mistura de alegria e cansaço. No início do dia, um esforço prazeroso para ficar antenado e, ao mesmo tempo, não perder a hora de bater o ponto na empresa. 

Procura saber das últimas manchetes dos jornais, os destaques do rádio, a escalada do telejornal e as notícias de mais compartilhadas nas redes sociais. Fica preocupado pela quantidade de horas fora de casa e pelas inúmeras festas de família que perdeu por causa do trabalho.

Vê o engarrafamento, a chuva, a violência e os problemas da cidade não só como problemas, mas como pauta. É antenado. Sabe que o Twitter é tão ou mais importante que um bloco de notas, um gravador e uma caneta numa coletiva de imprensa. 

Não vive sem celular, muito menos sem Facebook porque é lá que pode surgir o próximo personagem para aquela matéria. A grande matéria. Faz cursos de capacitação e tenta se atualizar por meio de palestras, encontros e congressos. É leitor compulsivo de vários gêneros literários.

Não pensa em prêmio, nem aplausos. Só quer ser respeitado e, quem sabe um dia, publicar um livro. 

Gosta da notícia e ama o que faz. Procura conversar com as pessoas de todos os níveis, dentro e fora da empresa, porque sabe que do porteiro ao diretor é possível retirar um olhar diferente sobre um determinado assunto e render aquela suíte que ninguém tinha pensado ainda. 

O tal do enfoque diferenciado que é permitido, mas pouco praticado. Mas ele não desiste. Sabe que é possível oferecer o cardápio do dia com um jeito diferente.

Procura entender a resposta do público e tem medo do quanto os números de audiência podem ser cruéis ou coroar um trabalho aguerrido de forma efêmera. Fica revoltado quando uma pauta de interesse público cai, porque há outros interesses. 

Opina, critica, lê, ouve e fala. É capaz de em uma boa conversa ouvir mais do que falar só para poder aprender [ou apreender] e ter sempre uma sugestão de pauta na manga para o editor. Nunca desliga.

Aliás, desligar não faz parte do seu dicionário. É antenado. E, depois de um período de ressaca moral e sincericídio, aprendeu que nem tudo deve ser falado ou discutido. Aprendeu a ponderar e a ser independente. 

Se encantou pela internet, com as possibilidades das redes sociais, dos blogs, mas tem sempre por perto um bloquinho de notas e uma boa agenda de contatos. Como tendência, adotou o smartphone e o tablet como os seus mais novos “brinquedinhos”. É histórico, filosófico, moderno e contemporâneo.

É o primeiro a chegar e o último a apagar a luz da redação. Só vai embora quando a produção jornalística ou a demanda do dia estão prontas. É interessado e veste a camisa. 

Vai para casa pensando na reunião de pauta do dia seguinte, no entrevistado que furou, na pauta que caiu, na matéria custosa que saiu e teve um bom retorno do público e dos colegas. É feliz por trabalhar no que gosta, mesmo com todos os limites. Tem fé em dias melhores. Este é o último jornalista.



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Wander Veroni
Jornalista

MAIS CAFÉ, POR FAVOR!

10 comentários

  1. Que lindo essa crônica, Wander. Só quem é jornalista entende os amores e as desilusões dessa profissão. Adorei! Bjs

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  2. Ei amigo Wander, como sempre vc conseguiu "fotografar" a nossa alma de jornalista. Parabéns pelo blog, parabéns pelo profissionalismo, parabéns pelo lado humano do cotidiano. Um beijão.

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  3. Francisco Bertoletta5 de dez. de 2012, 20:32:00

    Que maravilha de crônica, meu caro. Acredito que ser jornalista é preciso ter muito amor mesmo pela profissão porque exige uma atenção e criatividade acima do normal. Parabéns pelo texto!

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  4. Além de um texto maravilhoso, você nos brinda com estas belas imagens. Curti ao cubo! Beijos

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  5. Me identifiquei com esse texto, principalmente porque estou começando agora no jornalismo e estou vivendo essa rotina de perto.Parabéns pelo texto e pelo blog.

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  6. Vou colocar a minha mãe para ler esta crônica. Ela não entende o meu trabalho e me cobra porque eu nunca tenho horário para sair do trabalho, só para chegar...vida de jornalismo não é fácil...rs...mas fazer o que, a gente ama isso, né. Beijos

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  7. Nossa, a crônica está sensacional, mas as fotos estão lindas. Um capricho a parte. Fiquei babando aqui...parabéns!

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  8. Boa crônica! Vou mandar por email para o pessoal do veículo que trabalho.

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  9. Gostei da crônica e, principalmente, do título provocador. O bom jornalista está em extinção.

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  10. Me identifiquei com essa crônica. O trabalho de jornalista não é fácil e exige um amor muito grande...praticamente uma entrega, principalmente pq nem sempre p salário é aquelas coisas...rs

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