Julgamento do Mensalão e a retomada de credibilidade do Poder Judiciário
outubro 25, 2012
“O dinheiro é para o crime o que o sangue é para veia. Ou
seja, se não circular com volume e sem obstáculo, não temos esquemas criminosos
como esses. (...) Corrupção significa não que alguém foi furtado de alguma
coisa, mas que uma sociedade inteira foi furtada pela escola que não chega,
pelo posto de saúde que não se tem. Eu acho que esse julgamento dá exatamente o
testemunho de que o estado de direito, a política é, sim, necessária para
qualquer lugar deste planeta”, disse a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) e
presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Cármen Lúcia, durante os quase
três meses de julgamento do Mensalão.
O pensamento dela e a de muitos
outros ministros e Juízes do STF dão um copilado de impressões fortes, porém
necessária, da mudança de comportamento social e político que o Brasil enfrenta
hoje e, principalmente, da retomada de
credibilidade do Poder Judiciário que está mais independente, finalmente.
Algo muito natural de qualquer nação que quer se estabelecer no regime
democrático e que deu um passo importante para que a sociedade possa acreditar
novamente nas instituições, assim espero. Os envolvidos no Mensalão [ou parte
deles] respondem por crimes de corrupção ativa, gestão fraudulenta, formação de
quadrilha, lavagem de dinheiro e peculato.
O julgamento do Mensalão durante o período eleitoral, não foi só
político. Foi um alerta. Um recado importante para que a sociedade comece a
perceber uma prática muito mais comum do que se imagina: o vale tudo pelo Poder dos grupos políticos. Assim como em um
tabuleiro de xadrez onde peões, torres, cavaleiros, bispos, reis e rainhas se
preparam para o Xeque Mate, o golpe certeiro veio de onde se menos se esperava:
da Justiça.
A Estátua que tem olhos fechados,
dessa vez resolveu abrir. Não abriu tudo, mas pelo menos dessa vez não se
furtou a aflorar o assunto e a coloca-lo nas rodas de discussões. Hoje, é muito
difícil um político ser sozinho, tanto na esfera ideológica, quanto no poder.
Todos os nossos grandes nomes da política pertencem há algum grupo ou estão
confabulando agregar grupos que possuem interesses específicos para que possam,
dessa maneira, perpetuar no Poder.
O Mensalão foi isso. Uma forma de
fortalecer e agregar outros grupos. Distribuir poder e/ou dinheiro à aqueles
que faziam [ou fazem parte de um dado grupo político]. Não seja ingênuo de
achar que o Mensalão acabou com os 40 anos [ou mais] de prisão de Marcos
Valério e os demais comparsas dessa quadrilha contemporânea. Não. Existem
vários Mensalões por aí. Muitos movimentam não só dinheiro, mas tráfico de
influência, manobras políticas, cargos públicos, obras públicas, verbas,
projetos, programas e, principalmente, o Poder instituído pelo voto do cidadão
nas urnas de quatro em quatro anos.
“Nunca vi algo tão claro, a não ser essas outras
associações criminosas, que na verdade tantos males causam aos cidadãos
brasileiros, como organizações criminosas existentes no Rio e aquela perigosíssima
hoje em atuação em São Paulo”, disse o ministro do STF, Celso de
Mello. Já o outro ministro do STF, Joaquim Barbosa, foi taxativo. “Considero que o conjunto probatório
contextualizado coloca o então ministro-chefe da Casa Civil [José Dirceu] em
posição central, posição de organização e liderança da prática criminosa, como
mandante das promessas de pagamentos de vantagens indevidas aos parlamentares
que viessem a apoiar as votações do seu interesse”.
O Julgamento do Mensalão foi isso. Uma amostra de algo muito maior e
com tentáculos gigantescos. Dá um filme, um livro, cheio de personagens
vingativos, invejosos e que se decepcionaram um com os outros. O que estamos
vendo na TV é apenas a ponta do Iceberg, é tão monstruoso que existe em TODOS
OS PARTIDOS. TODOS. Não se engane. No vale tudo pelo Poder, vale a pena até
expor um “braço direito” que estava ganhando mais poder de quem estava no
Poder, para poder permanecer no Poder. Ainda, o Julgamento do Mensalão deixa
mais claro outra ferida política: a fragilidade dos Partidos e a sua utilidade
no Jogo atual.
O que difere um partido do outro
hoje? Sejamos francos: NADA. O que nos faz decidir por X ou Y são os nomes, e
não só o partido, ou o grupo político que o partido faz parte. Estamos em um
período de transição, de mudança de comportamento. Em quase 30 anos de
democracia, o Brasil vive uma nova Era Política, cheias de cicatrizes da
Política Velha. Só a Revolução mudará! Viva la revolución. A mudança é um mal
necessário, um bem essencial, diga-se de passagem.
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Jornalista
3 comentários
Excelente texto, Wander. O que dizer? Concordo com cada palavra escrita neste artigo. Espero que o Judiciário honre essa retomada de credibilidade, não só nesse caso, mas em outros tantos por aí. Abraços
ResponderExcluirO judiciário ganhou muitos pontos com esse julgamento. A sociedade está mais atenta e aguarda ansiosa pelas penas de cada um dos envolvidos e, principalmente, que eles devolvam o dinheiro.
ResponderExcluirNa boa, só espero que esses bandidos fiquem na cadeia e devolvam o dinheiro. Se isso acontecer mesmo, volto a acreditar no Poder Judiciário.
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