Ponto de Vista – Fina Estampa é novela das nove com pegada das sete

agosto 29, 2011



A nova novela das nove, Fina Estampa, estreou nessa segunda-feira (22/08) corroborando uma teoria particular sobre a atual safra de novelas da Rede Globo: uma boa história pode ser contada independente do horário. A trama de Aguinaldo Silva estreou com 41 pontos de audiência e pico de 44, segundo dados consolidados do Ibope na Grande São Paulo. A pontuação é superior ao alcançado pelas novelas anteriores do mesmo horário. Para se ter uma idéia, enquanto Passione registrou 37, Insensato Coração marcou 36 pontos no primeiro capítulo. Já A Favorita e Caminho das Índias também tiveram desempenho inferior, com 35 e 39 pontos, respectivamente.


Para conseguir esses números, Fina Estampa não matou ninguém no primeiro capítulo, nem abusou de cenas de ação com tiroteio policial. Nada disso. Foi a apresentação de um folhetim leve que tem todos os elementos de uma clássica trama das sete: uma história solar, cheia de decasmisados na praia e com uma forte tendência a explorar elementos de humor, principalmente dos vilões. Isso pode ser um problema? Depende do ponto de vista.

Tramas das sete que souberam mesclar humor com situações dramáticas foram sucesso de audiência e crítica – principalmente entre a nova Classe C, que é a nova “menina dos olhos” da TV aberta. Talvez esteja aí o motivo de Fina Estampa flertar tão bem com o popular, sem ser popularesca. As histórias de muitas personagens poderiam acontecer no meu, no seu ou em qualquer bairro. Acredito que está seja a grande sacada: falar de igual para igual para o telespectador. O único equívoco da novela é a abertura que não tem nada a ver com a história, apesar da trilha instrumental ser um recurso interessante.

Após um folhetim denso e com vilões bem carregados como foi Insensato Coração, Fina Estampa chega leve, despretensiosa, sem viagens ao exterior e mostrando um subúrbio carioca diferente e mais litorâneo. A nova novela das nove mostra mulheres fortes, capazes de fazer de um tudo em nome da família. Também mostra filhos aéreos que estão levando a fase adulta na flauta, insistindo na eterna adolescência e na dependência dos pais. Já os homens (galãs) são meros coadjuvantes, apaixonados e sonhadores.

A grande vilã de Fina Estampa, Tereza Cristina Velmont, vivida por Cristiane Torloni, lembra muito a Melissa de Caminhos das Índias, com as suas afetações e futilidades. Ao lado do mordomo Crô Valério (Marcelo Serrado), Tereza promete arrancar boas gargalhadas do público, principalmente pela relação de amor e ódio que há entre os dois. Cabe destacar, de forma merecida, a atuação de Marcelo Serrado que está fazendo algo totalmente diferente de tudo o que ele já fez na televisão. Os elogios dele, em forma de bordões, com referência a história do Egito e da Grécia são uma ótima sacada, pois diverte e educa.

Como toda novela das nove, Fina Estampa também tem a sua parte chata. E, por ora, o título fica para o casal fake de Dan Stulbach e Júlia Lemmertz. Dan exagerou no tom de seu personagem que é um apaixonado pela mulher, mas que não pode ter filhos. Já Júlia, com o mesmo visual de Araguaia e do seriado Tudo Novo de Novo, ainda não nos mostrou uma interpretação diferente daquilo que já vimos recentemente na telinha. Sim, o merchandising social que os personagens dele vão levantar a respeito da fertilização in vitro é muito válido, mas eles precisam se mostrar mais humanos. Ainda não passaram verdade.

E por falar em merchandising social, na parte popular da novela, a personagem de Dira Paes é outra que aborda, de forma bastante verossímil, o drama da violência doméstica. Celeste apanha calada do marido por amor a uma relação que ela não quer aceitar que já chegou ao fim há muito tempo. É uma situação mais comum do que muita gente pensa e uma questão importante de ser debatida. Creio que a repercussão dessa história poderá ajudar muitas mulheres que sofrem de falta de amor próprio a se valorizarem mais e lutarem por dignidade.

Já Lilian Cabral conseguiu dar um tom simples e, ao mesmo tempo, destemido para Griselda, vulgo Pereirão, do Jardim Oceânico. Quem não gostaria de um Marido de Aluguel no seu bairro? Aquele profissional que sabe fazer de um tudo dentro de casa? O fato de Griselda saber fazer todas essas atividades é uma crítica – por que não dizer uma indireta, à época em que os homens realmente sabiam consertar um encanamento, trocar o pneu de um carro, fazer alguma alteração na parte elétrica da casa ou até mesmo arrumar um eletrodoméstico. Hoje em dia isso é quase uma raridade...rs

Muitos críticos de TV, blogueiros e jornalistas tem comparado Griselda com a personagem Dulce, de Morde e Assopra, ambas da Rede Globo. E com razão: afinal as duas personagens tinha um filho estudante de medicina que tem vergonha da simplicidade da mãe. A coincidência assusta, pois mostra que existe plágio até mesmo dentro da própria Vênus Platinada. Mas o fato é que Fina Estampa – anteriormente chamada de Marido de Aluguel, foi escrita em 2009, na Master Class, de Aguinaldo Silva. Sendo a sinopse de Dinossauros e Robôs – que depois virou Morde e Assopra, foi feita tempos depois a toque de caixa por Walcyr Carrasco. Assim, fica mais do que subentendido para o público quem copiou quem, não?

Mesmo com um tom caricato, Griselda é uma mulher batalhadora que ainda enfrenta o preconceito do filho que não a aceita do jeito que é. E foram justamente nestas cenas que Lilian Cabral já mostrou a que veio e Caio Castro, que vive o filho dela, o estudante de medicina Antenor, mostrou certo amadurecimento na sua interpretação. No mais, Fina Estampa reúne muito clichês de novelas, mas até o momento, tem se mostrado segura ao resgatar um tom mais popular ao horário das nove da noite. Mesmo com algumas derrapadas, tem tudo para ser um sucesso!




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*Observação: Este artigo faz parte da minha participação na seção Ponto de Vista, do site do Cena Aberta, onde três jornalistas publicam um artigo mostrando pontos diferenciados sobre o mesmo assunto. Todo sábado você vai encontrar artigo escritos por Endrigo Annyston, Emanuelle Najjar e Wander Veroni.






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Wander Veroni

Jornalista

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2 comentários

  1. João Francisco Azevedo29 de ago. de 2011, 18:19:00

    Tô gostando de Fina Estampa....para mim a novela é melhor que a anterior. Pelo menos, a gente se diverte assistindo. Não assisto a atual novela das 7 e nem sei se é plágio ou não, mas confio no texto do Aguinaldo Silva...o cara tem várias novelas boas nas costas.

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  2. Wander querido, parabéns pelo texto. Gosto muito das suas análises sobre TV. Tô gostando de Fina Estampa....acho que a novela é bem popular e valoriza a família. No meu trabalho, todo mundo está comentando...do porteiro a minha chefe....rs. Lilian Cabral está maravilhosa para variar, né. Beijos

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