Impressões da paulicéia desvairada...
junho 26, 2011Como bom mineiro, um dos meus esportes favoritos é "janelar". Janelar é olhar a cidade pela janela, sem a pretensão de procurar algo, cronometrar o tempo ou marcar um horário para fazê-lo. Simplesmente, quando dever vontade, abro a janela e olho. Olho a cidade que "nunca dorme"....agitada e multifacetada. É assim que vejo São Paulo.
Ao olhar pela janela, percebo que São Paulo não tem montanhas salientes como BH, onde cada pedaço de morro "é um flash". A capital paulista, pode não ter montanha, mas tem prédios e antenas a perder de vista, literalmente. E isso é um charme, ainda mais quando a neblina deixa a cidade mais intimista: uma verdadeira pintura a céu aberto.
Como turista, percebo que São Paulo sem prédios não seria São Paulo. Seria outra coisa. É uma cidade tão urbana, tão cosmopolita, que os enormes arranha-céus, ajudam fazer o traço perfeito para compor o desenho da "paulicéia desvairada", como no livro de Mário de Andrade.
Ontem no final da tarde, ao caminhar pelas ruas da área central de São Paulo, percebi como a cidade é tão latente nesta questão de diversidade cultural e étnica: é possível ver asiáticos, muçulmanos, judeus, europeus, nordestinos e poucos negros - muito diferente de BH onde se é possível observar muito mais pardos e negros. Só para citar um dado, no último Censo 2010 do IBGE, em Minas Gerais, o número total de negros ultrapassou o de brancos, com um crescimento de 28,8% na última década.
Ainda, segundo a pesquisa, 10,4 milhões dos mineiros se declararam negros, ante 8,8 milhões de brancos, o que resulta uma diferença de 17,8%. Os dados revelam que 53,4% da população do Estado se considera negra - ou seja, mais da metade. Em 2000, o número de negros em Minas foi de 8,1 milhões, e o de brancos, 9,5 milhões.
Coloquei essa pesquisa do IBGE apenas para ilustrar essa diferença que me chamou atenção, enquanto caminhava nas ruas. Onde estão os negros de São Paulo? Apenas na zona norte? Fiquei pensando nisso. Não que isso seja bom ou ruim. Nada disso! Não sinto xenofobia, racismo ou qualquer tipo de segmentação étnica (agressiva) em SP, muito pelo contrário.
É uma mistura deliciosa ver tanta gente diferente e com sotaques tão distintos pelas ruas. Eu amo a diversidade! Trata-se apenas de uma observação de um turista na paulicéia "vida loka, meu. Tá ligado?". A impressão que tive é que existem muito mais asiáticos do que negros, por exemplo. Particularidades de Sampa....
É uma mistura deliciosa ver tanta gente diferente e com sotaques tão distintos pelas ruas. Eu amo a diversidade! Trata-se apenas de uma observação de um turista na paulicéia "vida loka, meu. Tá ligado?". A impressão que tive é que existem muito mais asiáticos do que negros, por exemplo. Particularidades de Sampa....
Mas, mudando totalmente de assunto, ontem fui ao cinema aqui em São Paulo, na rede @cinemarkbr_. Assim como em BH, o Cinemark possui um outro padrão de salas, muito mais confortável e uma sonorização perfeita. Assisti "Meia Noite em Paris", do diretor Woody Allen. Leia a crítica, aqui. É um filme lindo, cheio de referências artísticas e históricas, colocando a capital francesa como um importante personagem no desenrolar da trama.
Aliás, essa é uma característica de Allen que tanto admiro: as cidades dos filmes dele são mais que um cenário, uma obra de arte viva, latente e transformadora. Assim como o diretor, tenho a mesma impressão sobre as cidades: gosto de observar a arquitetura, as pessoas, a cultura, o idioma e a história que existe em cada canto. O filme traz um mensagem linda, mostrando para o espectador que a "época de ouro" é o presente. Abaixo, assista o trailer:
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P.S.: Sei que pelo novo acordo ortográfico, "paulicéia" não teria acento agudo no final. Mas, como o livro de Mário de Andrade é de 1922, e nessa época nem se falava no bendito acordo, resolvi manter a grafia original em homenagem ao escritor.
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Jornalista
6 comentários
Wander, tô adorando acompanhar os seus relatos sobre SP. E isso que vc falou sobre a população negra da capital paulista me chamou atenção, ao mesmo tempo, não sabia que BH tinha uma população negra tão grande. Ah, antes que eu me esqueça: assisti esse novo filme do Woody Allen. Vc tem toda razão é lindo....as imagens de abertura do filme, mostrando Paris são apaixonantes. Beijos
ResponderExcluirCara, você fez uma boa crônica reportagem neste post....ligou assuntos tão diferentes mas que possuem a mesma unidade. Parabéns pelo blog! Sempre quando eu posso gosto de visitar.
ResponderExcluirParabéns pela crônica, Wander.
ResponderExcluirExistem várias São Paulos dentro de São Paulo . Te recomendo um pulo na Praça Pôr do Sol, onde se tem uma das vistas mais lindas da cidade e o bairro ainda tem ares de interior, um dos mais arborizados. Já se quiser uma vista "tradicional paulistana" o Terraço Itália ou o Edifício do Banespa é ponto obrigatório para ótimas fotos.
Grande abraço
Wander,
ResponderExcluirQuem vem pela primeira vez, assusta.
Quem mora a tempos, já esta se acostumando a cidade nua e crua.
Quem nasceu, cresceu e vive nesta São Paulo desvairada, jamais vai se mudar para outra cidade.
É uma cidade cinzenta, as vezes sem sol nas áreas centrais, os arranha-céus não deixa os raios solares penetrarem em suas entranhas e dai sem sol, não haverá muito um povo queimadinho.
João Bosco
@Nayara: Obrigado, querida. São Paulo tem muitas particularidades. Estou adorando!!! Que bom que vc assistiu o "Meia Noite em Paris". É um filme lindo! Beijos
ResponderExcluir@Bernardo: Obrigado pelo elogio e por prestigiar o Café com Notícias. Fique a vontade para participar mais vezes.
@Rodrigo: Oi Rodrigo! Que bom ler um comentário seu novamente no Café...quanto tempo, hein? Vou anotar as suas dicas. Hoje, por conta da chuva, não vou poder ir....mas faço questão de ver quando o tempo estiver firme novamente. Abraço
@João: Oi João! Achei um barato a sua resposta...parece um poema. Adoro os seus comentários. Abraço
Não tem montanhas salientes porque está em cima de uma! rs De um morro, na verdade, a 900m do nível do mar, de onde os Piratiningas atiravam suas flechas envenenadas para que ninguém alcançasse o topo. São Paulo sempre (com muito orgulho!) foi a parte ingrata da colônia portuguesa, nos recusávamos a pagar impostos, entre outras coisas, e a topografia contribuiu grandemente para formarmos uma região única que, deu origem, inclusive, à primeira língua oficialmente reconhecida depois do descobrimento: a língua paulista (mescla da língua nativa com o português trazido pela trupe de Anchieta).
ResponderExcluirAqui em casa, compadre, estamos no ponto mais alto da cidade. Você realmente não verá nada acima, mas, ao caminhar até a esquina, verá morro abaixo e assim é SP, cheia de reentrâncias geográficas e sociais, com todas as caras e idiossincrasias do planeta.
Mas, é melhor parar por aqui porque, daqui a pouco, vou começar a chorar de emoção de tanto ufanismo. Outra idiossincrasia paulistana.
E que venha a chuva, afinal, parafraseando o lindo filme de Allen (que assistimos no sábado): "SP é muito mais bonito na chuva"! :D
Beijos!