Café Convidado - A herança econômica e política do Brasil

junho 24, 2011


Na seção Café Convidado de hoje, o estudante de jornalismo, Lucas Catta Prêta, analisa de uma forma crítica e embasada o cenário político brasileiro oriundo dos últimos três presidentes: Fernando Henrique Cardoso (FHC), Luis Inácio Lula da Silva e Dilma Roussef. No texto, é possível observar que o brasileiro passou por um período economicamente muito difícil no início da década de 1990 na área econômica. Com a chegada do Plano Real no bolso do brasileiro muita coisa mudou, tanto na área econômica, como na social. No artigo, Lucas analisa essa mudança de cenário a partir do "maior posto da República Federativa do Brasil, a Presidência". Acompanhe:


O “querido presidente” da “herança maldita”


Por Lucas Catta Prêta*


Algumas considerações sobre as últimas três pessoas que tiveram a chance de ocupar o maior posto da República Federativa do Brasil, a Presidência. Começo seguindo ordem cronológica, portanto, com Fernando Henrique Cardoso.

Primeiro presidente eleito democraticamente desde Juscelino Kubitschek, aquele que ficou conhecido pelo acrônimo FHC assumiu um país cuja população começava a reencontrar o caminho da confiança. Afinal de contas, aquele 1º de janeiro de 1995, quando Fernando Henrique recebeu de Itamar Franco a faixa presidencial, o Brasil vivia meros seis meses de calmaria econômica, graças ao Plano Real.

Aqueles que verdadeiramente puderam sentir o dia a dia daquele momento, – eu tinha 4 anos – contam que era “como magia” não ter que conviver com o problema crônico da inflação. Quantas e quantas moedas, quantos ministros, quantos “fiscais do Sarney” já haviam acendido e rapidamente apagado a confiança do povo na economia? Para aqueles do “não era bem assim”: 15 anos antes da implantação do Real, tivemos uma inflação de mais de 13 trilhões por cento. Em números exatos: 13.342.346.717.617,70%.

Provavelmente, nem mesmo eu, com aqueles tenros 4 anos que tinha em janeiro de 1995, deveria ter ficado de fora dessa onda “mágica”, mesmo que minha noção de vida àquela época se resumisse a Nescau, Chambinho, brinquedos e desenhos animados.

Ao longo de seu primeiro mandato, principalmente, Fernando Henrique Cardoso teve a sabedoria de manter a conquista daquilo que por mais de década e meia se buscavaneste país: bases econômicas, financeiras e cambiais sólidas. Por isso, mais uma vez para a turma do “não era bem assim”: sim, foi com Itamar que o Plano Real foi arquitetado, mas foi FHC, então ministro daquele que foi seu antecessor na presidência, quem aprofundou as mudanças que o Brasil necessitava à época.

O caminho sólido na economia construído entre 1995 e 1998, ocasião do primeiro termo de FHC, permitiu que outras questões também intrínsecas à realidade brasileira fossem discutidas. Já em 2001, quando estava no penúltimo ano de seu segundo mandato (sim, após a controversa emenda da reeleição), o governo, entre outros temas, se dedicou aos programas sociais.

O primeiro passo foi o Bolsa Escola, vinculado ao Ministério da Educação. Na sequência, vieram outros auxílios, como o Vale-Gás e o Bolsa Alimentação. Nisso, o ano já era 2002, e o Brasil começava a voltar os olhos para a escolha de um novo presidente.

Fernando Henrique Cardoso se preparava para deixar o poder, já desgastado, é verdade, por uma situação conjuntural: o “apagão”, a desvalorização do real (boa parte dela graças aos temores do mercado internacional por conta da provável eleição de Lula), e várias crises econômicas que perpassaram os oito anos de mandato. No entanto, no cômputo final, pode-se creditar a Fernando Henrique Cardoso, os méritos da estabilidade financeiro-monetária, e a germinar aquele que hoje é conhecido como Bolsa Família.

Sucedendo FHC, Lula, após três derrotas para a Presidência, chega ao poder em 2003. Antes, porém, divulgou aos mercados, nacionais e estrangeiros, e à população, a Carta ao Povo Brasileiro. Nela, o então candidato Lula reforçou que manteria as bases econômicas anteriores, como a busca pelo superávit e o controle da inflação. Ao contrário do que muitos dizem, acredito, começou nessa mesma carta a despontar o Lula ignorante e pretensioso que acompanhamos durante seus oito anos. Uma leitura da carta, na íntegra, mostra isso.

Com Lula já no poder, uma de suas primeiras – e acertadas – iniciativas foi a unificação de todos os programas sociais em um só, o Bolsa Família. Graças à máquina da propaganda – algo que faltou aos tucanos – o “novo” benefício do governo petista correu o Brasil e o mundo como o “salvador da pátria”.

De fato, é mérito de Lula a ampliação e a melhoria do programa, o que não é demérito para os adversários concordarem. O que se espera de um país que busca ser civilizado é justamente isso: ao suceder um outro governo, que se mantenha e aperfeiçoe aquilo de bom que foi feito.

O contrário também deveria ser válido: aqueles no poder não poderiam renegar tudo que de positivo que foi deixado. No entanto, foi exatamente isso que fez o então presidente Lula, num sinal claro de mesquinharia e arrogância.

À medida que os anos iam passando, e surfando numa onda nunca antes vista de bonança na economia mundial, Lula conseguiu, com méritos, aumentar o número de empregos, da renda e do crescimento da economia. Ao mesmo tempo, batia em seu antecessor, aquele mesmo que deixou boa parte dos fundamentos já prontos, em todas as oportunidades que tinha. O mantra era: “Eu recebi uma herança maldita”. Os motivos para tanto rancor? Talvez só mesmo perguntando ao ex-presidente, que deixou o Planalto, em 2010, com índices recordes de popularidade, e com a sucessora feita: Dilma Rousseff. Em sua conta, Lula pode se orgulhar de um país mais rico, com menos disparidades, e de imagem renovada perante o mundo.

Dilma Rousseff assume em 2011 e, com certeza, tem um Brasil completamente diferente daquele de 1995, quando FHC chegou ao mesmo Palácio do Planalto. Um país melhor graças ao conjunto de ações feitas por Fernando Henrique e Lula, ao contrário do que foi dito durante a campanha presidencial do ano passado. Na ocasião, o antecessor de Dilma buscou vender a ideia de que o Brasil foi descoberto em 1º de janeiro de 2003, justamente no início do mandato lulista.

Felizmente, numa comprovação daquilo que comentei sobre “evolução”, percebi que a Dilma candidata, aquela que ficava ao lado de Lula rindo, aplaudindo e demonizando o governo pré-PT, ficou em 2010.

Prova disso foi a feliz carta que pude ler, escrita pela presidente Dilma Rousseff em razão dos 80 anos de Fernando Henrique Cardoso, comemorados no sábado. Segue alguns trechos:

“Em seus 80 anos há muitas características do Senhor Presidente Fernando Henrique Cardoso a homenagear.

O acadêmico inovador, o político habilidoso, o ministro-arquiteto de um plano duradouro de saída da hiperinflação e o presidente que contribuiu decisivamente para a consolidação da estabilidade econômica.

Não escondo que nos últimos anos tivemos e mantemos opiniões diferentes, mas, justamente por isso, maior é minha admiração por sua abertura ao confronto franco e respeitoso de ideias.

Querido Presidente, meus parabéns e um afetuoso abraço!”

Poderia escrever mais mil caracteres sobre a relação FHC-Lula-Dilma. Para meu alívio, a presidente, que tem mais autoridade do que eu, já disse muito.

No mais, parabéns Presidente Fernando Henrique Cardoso.

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*Perfil: Lucas Catta Prêta, 21 anos, é estudante de jornalismo, mas jura que não liga pra essa de “jornalista diplomado”. Com passagens pela TV UniBH e Rádio Itatiaia, está hoje na Globo Minas / Globoesporte.com. Apesar de ter defendido FHC neste artigo, declara abertamente o voto na última eleição presidencial: Dilma Rousseff.





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3 comentários

  1. Gosto muito desta seção do blog, por trazer uma visão diferente de alguns assuntos e, ainda por cima, dar oportunidade para que outras pessoas, possam participar do Café. Eu não gosto muito do FHC, mas reconheço que ele preparou o caminho para que Lula fizesse o Brasil crescer. E com Dilma, acredito que o Brasil crescerá ainda mais. Sou apartidário, mas a presidenta tem feito um bom trabalho.....para melhorar ela já tirou o Palocci, só falta a Ana de Holanda....rs. Parabéns Lucas pelo texto e a você Wander pelo blog. Abraço :)

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  2. Admiro FHC, sabe...é um homem intelectualizado e de opiniões firmes. É admirável ver a Dilma cumprimentá-lo....o bom político é aquele que consegue ver o governo acima das questões partidárias.

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  3. Olá, Rodrigo.

    É bom ler um comentário secnsato como o seu, porque esse terreno da política, geralmente, "cega" as pessoas. Poderia apontar 1001 defeitos do Governo FHC, mas há que se reconhecer o mérito daqueles que merecem, né?

    Obrigado pelo elogio.

    Nayara,

    Bom sinal ver a presidente Dilma, do PT, cumprimentar o FHC, tucano de carteirinha, né?

    Abraço!

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