Ponto de Vista – A pouca prática invadiu o jornalismo
julho 13, 2010
Tem hora que cansa, sabe. Mas, não posso (nem podemos) desistir. Ainda há esperança por dias melhores. Uma luz no final do túnel? Quem sabe. Parece que tudo aquilo que o jornalista aprende durante quatro anos na faculdade existe apenas nos livros, nos artigos e na teoria. Não que o mundo acadêmico esteja errado, mas o mercado – de um modo geral, resolveu seguir outro caminho. Uma trajetória que está jogando no lixo a ética, o respeito e, principalmente, os critérios de noticiabilidade.
Entretanto, isso não é necessariamente culpa somente dos jornalistas. Claro, poderíamos ser uma classe mais unida e dar o grito como uma categoria que representa a sociedade, antes de tudo. Mas, infelizmente, a maior parte da culpa dos veículos de comunicação perderem “certas referências” é por colocar pessoas sem a capacidade adequada de gerenciamento, se travestindo de jornalista ou de profissionais de comunicação. Quando falo isso, não estou levantando apenas a eterna polêmica da necessidade ou não do diploma, mas sim da ausência de capacidade e criatividade deste profissional.
Muitos donos de veículos de comunicação ou alguns dos seus principais diretores nem sempre são jornalistas ou profissionais com experiência e renome. E isso atrapalha o “meio de campo”, pois o jornalismo acaba servindo de “moeda de troca” para fins comerciais e políticos. Com isso, a premissa de informar as notícias mais importantes do dia do Brasil e do mundo de forma isenta, plural e coesa, acabando ficando de lado – para não falar que já está entrando em extinção.
Às vezes, tenho medo do que pode acontecer com o jornalismo local, principalmente. Hoje, boa parte dos noticiários investem pesado na cobertura policial, como se na cidade não houvesse outras pautas ou assuntos que mereçam ser informados. E o pior é que isso não é jornalismo policial: é uma extensão dos boletins de ocorrência gritada de forma acalorada, inflamada e repetitiva. Não adianta culpar a audiência e falar que o público quer isso. Não aceito!
Com a democratização da informação que há na internet é inaceitável acreditar que uma matéria jornalística ou programa tenha apenas aquela visibilidade dada pelos números de audiência daquele instante. Um material jornalístico ou de entretenimento vira um registro histórico importante para uma sociedade – que poderá estar acessível a qualquer momento pela internet e replicado nos blogs e redes sociais. Provavelmente, se ainda continuarmos com essa “pouca prática”, o jornalismo e a mídia está perdida: não é à toa que a web tem revelados tantos talentos. Falta semancol na mídia tradicional!
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*Observação: Este artigo faz parte da minha participação na seção Ponto de Vista, do site do Cena Aberta, onde três jornalistas publicam um artigo mostrando pontos diferenciados sobre o mesmo assunto. Todo sábado você vai encontrar artigo escritos por Endrigo Annyston, Emanuelle Najjar e Wander Veroni.
Gostou do Café com Notícias? Então, siga-me no Twitter, assine a newsletter e participe da página no Facebook e da comunidade no Orkut.
Wander Veroni
Jornalista
Entretanto, isso não é necessariamente culpa somente dos jornalistas. Claro, poderíamos ser uma classe mais unida e dar o grito como uma categoria que representa a sociedade, antes de tudo. Mas, infelizmente, a maior parte da culpa dos veículos de comunicação perderem “certas referências” é por colocar pessoas sem a capacidade adequada de gerenciamento, se travestindo de jornalista ou de profissionais de comunicação. Quando falo isso, não estou levantando apenas a eterna polêmica da necessidade ou não do diploma, mas sim da ausência de capacidade e criatividade deste profissional.
Muitos donos de veículos de comunicação ou alguns dos seus principais diretores nem sempre são jornalistas ou profissionais com experiência e renome. E isso atrapalha o “meio de campo”, pois o jornalismo acaba servindo de “moeda de troca” para fins comerciais e políticos. Com isso, a premissa de informar as notícias mais importantes do dia do Brasil e do mundo de forma isenta, plural e coesa, acabando ficando de lado – para não falar que já está entrando em extinção.
Às vezes, tenho medo do que pode acontecer com o jornalismo local, principalmente. Hoje, boa parte dos noticiários investem pesado na cobertura policial, como se na cidade não houvesse outras pautas ou assuntos que mereçam ser informados. E o pior é que isso não é jornalismo policial: é uma extensão dos boletins de ocorrência gritada de forma acalorada, inflamada e repetitiva. Não adianta culpar a audiência e falar que o público quer isso. Não aceito!
Com a democratização da informação que há na internet é inaceitável acreditar que uma matéria jornalística ou programa tenha apenas aquela visibilidade dada pelos números de audiência daquele instante. Um material jornalístico ou de entretenimento vira um registro histórico importante para uma sociedade – que poderá estar acessível a qualquer momento pela internet e replicado nos blogs e redes sociais. Provavelmente, se ainda continuarmos com essa “pouca prática”, o jornalismo e a mídia está perdida: não é à toa que a web tem revelados tantos talentos. Falta semancol na mídia tradicional!
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*Observação: Este artigo faz parte da minha participação na seção Ponto de Vista, do site do Cena Aberta, onde três jornalistas publicam um artigo mostrando pontos diferenciados sobre o mesmo assunto. Todo sábado você vai encontrar artigo escritos por Endrigo Annyston, Emanuelle Najjar e Wander Veroni.
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Wander Veroni
Jornalista
11 comentários
Tô contigo e não abro. Cara, eu não acho que o jornalismo está evoluindo. Acho que está ficando pobre e sem graça. O new jounalism é importante sim, mas muito do que ele é composto é para facilitar as vendas dos jornais. Sobre a falta de prática, vou lhe contar um caso que aconteceu comigo. Um cidadão copiou na cara de pau um texto meu. Reclamei como devia. O cara ainda disse que eu tinha traduzido de um outro site qualquer usando o tradutor do google. Fiquei muito irado. A pessoa te acusa de plágio pra se eximir da culpa.
ResponderExcluirDepois eu falo que jornalista precisa de diploma e as pessoas não entendem. Acho que o jornalismo policial é a sua definição. Aliás, a melhor de todas.
E assim continua o jornalismo. Eu trabalho com jornalismo 24h. Me formei na universidade e sei que dá pra ser ético e bom jornalista, fazendo um trabalho que interesse a todos.
Abs!!!
Poxa, Wander, quando acabei de ler esse post senti o alivio de quem tivesse acabado de desabafar algo. Concordo com vc em gênero, número e grau.
ResponderExcluirNao sei se cheguei a te contar mas saí do curso de Relações Publicas no começo do ano e mudei para Jornalismo (sim, agora seremos futuros colegas de profissão, eu espero... hehehehe). E algo que me preocupa especialmente quando vejo os noticiários é esse destaque exagerado à noticias policiais, ou como costumo dizer "informativo de funeral". Pior é que elas chamam a atenção. O povo, mesmo que deteste assistir, sempre pára alguns de seus minutos para dar atenção àquilo. E muitas vezes são situações que nao são propriamente novidades (tipo uma briga de transito, um assalto a padaria, etc). Se são casos como o do goleiro Bruno então... haja paciencia pra tanta repetição em tantos canais, o dia todo.
Sinceramente, ainda bem que existe o meio digital e o impresso (ainda sim, excluem-se alguns jornais), onde temos a opção de ver noticias que fujam desse sensacionalismo.
Um grande abraço Wander!!
Wander ,
ResponderExcluirconcordo com você, amigo. Acho inclusive que a TV está perdendo audiência por estas e outras coisas. Agora no momento na TV, no rádio e nos jornais - por exemplo, só se fala do "Caso Bruno". É uma enxeção de saco total. Ninguém aguenta mais. Mas eles continuam massacrando os leitores, ouvintes e telespectadores com esse assunto. Chega!
Dias melhores virão!
Abraço,
Francisco
É a velha busca pelo numerozinho do IBOPE ... o canal que tem mais pode negociar as inserções comerciais por um preço maior.
ResponderExcluirInfelizmente o que o povo gosta de ver é barraco, baixaria e discussão, basta ver o sucesso do BBB e de alguns programas que exploram o lado frio e sombrio das cidades.
Wander,
ResponderExcluirRealmente a mídia televisiva, em especial, tem mostrado muita coisa supérflua e muita baixaria para aumentar o IBOPE, ou por achar que o povo brasileiro merece ver esses tipos de matérias. Sou jovem, mas tenho discernimento o bastante para saber que há muita informação mal transmitida pelo atual jornalismo brasileiro. Pretendo cursar jornalismo ao terminar minha faculdade atual, e poder ser um diferencial para juventude.
Abraço
Também acho que a busca pelos princípios éticos deixou de ser relevante ao jornalista, que se preocupa mais com a técnica do que com o quão agressivo ou incorreto aquele material pode ser. A culpa é de todos: jornalistas, estudantes, empresários, professores e até da legislação, que deixa em dúvida até o mais bem intencionado dos profissionais. E se a internet é um campo de diferenciação do trabalho do jornalista, é também um espaço sem lei. Todo mundo faz o que bem entende e cada um respeita às próprias concepções do que é correto ou não. Para um jornalista isso pode ser bastante prejudicial.
ResponderExcluirOs critérios de noticiabilidade são jogados no lixo, mas, analisemos friamente: o jornalista é um profissional como qualquer outro, que tem seus problemas e, mesmo tendo dito em seu juramento que seu dever é para com a sociedade, na apuração de reportagens de interesse público, é uma pessoa como todas as outras que não quer ter problemas com o chefe. Dessa forma, ele cobre as pautas que lhe cabem e vai pra casa descansar de um dia fatigante de trabalho.
Essa enrolação é só para dizer que, como patrões, editores e a população estão interessados no Rodrigo Faro imitando a Lady Gaga ou em quantas dentadas os cães (supostamente) devoraram a ex-amante do goleiro Bruno, é mesmo responsabilidade exclusiva do jornalista remar contra a maré por um salário que não condiz com a sua rotina?
Jornalista é um completo apaixonado, contudo, é um cidadão trabalhador como qualquer outro, acabou o expediente ele só quer voltar pra casa. Não acredito que surgirá um Clark Kent para salvar o mundo.
Adorei o Artigo. Infelizmente está profissão está mesmo cheia de mau - profssionais.
ResponderExcluirWander, senti falta no blog de alguma materia falando a respeito da menina estuprada pelo filho da filiada globo de Florianopolis, não vai fazer nada a respeito? Abraços.
Excelente blog. Parabéns mesmo.
ResponderExcluirAndrea
Oi Wander, belo desabafo....
ResponderExcluirconcordo com você, é exatamente tudo isso...
abs
oi,não somente concordo com você, como também tenho um post no meu blog que fala parcialmente sobre o assunto.
ResponderExcluirValeu pelo comentário e dê uma olhada na matéria :
[link]http://juizesdomundo.blogspot.com/2010/07/o-que-ocorre-com-os-jornais-brasileiros.html[/link]
Belo artigo Wander. Infelizmente muita gente que controla os veículos tem apenas dinheiro e nada mais. Acham que por ter grana no bolso podem fazer experiências malucas nas empresas que comprar. Vide o JB, que de maior jornal do país no passado, hoje se despede das bancas de jornal. Infelizmente nossa classe não é unida. Cada um pensa apenas em si, na sua carreira, no seu salário. Talvez por isso que o diploma de jornalista caiu e pouca gente reclamou. Abraço.
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