Qual será o futuro dos blogs?

março 03, 2008



O Café com Notícias completou seis meses. Nesse primeiro semestre de vida, o blog caiu no gosto popular de muitos internautas. Cada dia que recebo um comentário de elogio ou crítica, vejo o quanto tenho que ter responsabilidade com a informação e, principalmente, com o público.

Recebo diariamente inúmeras sugestões de pautas e pessoas que me escrevem à respeito de como eu criei ou blog ou simplesmente comentam os assuntos que foram postados. Isso só aumenta o meu compromisso, não só como jornalista, mas como ser humano. 

Li um artigo muito interessante a respeito dos blogs e resolvi postá-lo aqui. Para quem não entendi nada de blog, o texto é uma possibilidade de entender melhor esta ferramenta. Já quem conhece vai poder entender o quanto a comunicação é mutante, principalmente na internet. Boa leitura!


Os blogs e o futuro da humanidade


Um dia, todos terão seu blog. Mesmo crianças, na escola primária. Haverá um computador em cada carteira, ou os pequenos trarão o laptop de casa e serão estimulados a mostrar sua visão do mundo e da vida através do blog.

Tudo bem se não souberem manejar a língua com destreza. Bastará alguma noção do velho Português para terem um blog, pois ele é complacente com os erros, permite gírias ou palavras inventadas, é tolerante com os plágios (quem não sabe dar um control C e um control V?) e funciona melhor com textos curtos, quase telegráficos – que, em última hipótese, podem ser substituídos por imagens ou áudios. 

Maravilhosamente democráticos, os blogs quebrarão tabus, derrubarão ditadores e acabarão com o radicalismo islâmico. Nenhuma instituição retrógrada resistirá à avassaladora liberdade de expressão que grassará por todos os povos, da Suíça ao Burundi. 

A febre dos blogs revelará aspectos intrigantes da natureza humana. Enquanto algumas celebridades das comunicações – como apresentadores de tevê e colunistas de jornal – mal conseguirão atrair comentários de amigos e parentes, pessoas comuns mostrarão talento e vivacidade ao tocar em temas que atrairão milhares de opiniões.

Surgirão, naturalmente, grandes formadores de opinião, e poucos serão jornalistas. Pois os profissionais da palavra e da escrita continuarão com pouco tempo e esmero para manter seus blogs, enquanto muitos anônimos se dedicarão com tamanha paixão aos seus, que cativarão pela autenticidade e naturalidade que já não se vê no jornalismo.

Um menino de cinco anos se tornará sucesso mundial por falar do universo infantil com uma propriedade que nenhum professor-doutor em pediatria jamais conseguiu. Velhinhos e velhinhas conversarão sobre dores e remédios em discussões imperdíveis. Enfim, haverá blogs para todos os gostos e idades.

O hábito de blogar, de tão enraizado no dia-a-dia dos cidadãos do terceiro milênio, influenciará usos e costumes. “Bom blog!” cumprimentar-se-ão as pessoas pela manhã. E quando, diante de uma mulher deslumbrante, um homem quiser puxar assunto de forma natural e educada, poderá perguntar: “Sobre o que você blogou hoje?”. 

Como tomado por excitante epidemia, a humanidade falará cada vez mais sobre blogs. E tão mais que chegará um momento em que o Inglês não será suficiente para essa comunicação. E assim, finalmente, premido pela extrema necessidade gerada pelos blogs, o homem criará um idioma único e a Terra poderá realizar o sonho de John Lennon, reunindo todas as nações numa só.


Posts, Comentários, Solidão


Porém, como o poder aquisitivo, a fama e o status social serão determinados pelo sucesso dos blogs, seus proprietários se dedicarão a eles numa escala de tempo assustadoramente crescente. Seis horas por dia, oito, dez, doze, quatorze...

Os mais bem-sucedidos tomarão remédio para não dormir, para assim poder postar mais e melhor e responder a mais comentários. Muitos usarão de todos os recursos para divulgar seu blog, para torná-lo mais visto, mais famoso, mais passível de receber a dádiva do patrocínio, sempre escasso e seletivo.

Famílias se desintegrarão pela obsessão do blog. Marido e mulher, pais e filhos, irmão e irmã, não terão mais tempo um para o outro. Avós e netinhos nem ao menos se verão. Haverá ciúme e espionagem entre amigos. Serão comuns casos de morte por inanição, pois muitos se negarão a abandonar o teclado e terão de ser alimentados por sondas.

Em suas casas, as pessoas analisarão as obras de arte, o futebol, os programas de tevê, mas ninguém irá mais a museus, a estádios, ou ao menos ligará a televisão. Com o tempo, sem público para aplaudi-los, artistas e atletas também desistirão de criar ou competir e se restringirão aos seus blogs. 

As ruas ficarão vazias. Em uma tarde de inverno, em São Paulo, sem vento e nenhum carro na rua, será possível ouvir o soturno matraquear dos teclados. À noite, cães solitários, há tanto tempo saudosos do calor e da atenção dos humanos, talvez uivem como lobos. 

No começo, os formadores de opinião, oriundos do jornalismo e do show business, reinarão também entre os blogueiros. Mas essa fase será curta. Logo, muita gente perceberá que é plenamente possível escrever melhor e gerar discussões mais interessantes do que os especialistas, e essa irreverente constatação, além de acabar com alguns mitos, criará um ambiente de extrema competitividade. 

Como qualidade é algo subjetivo, o critério para se avaliar o sucesso de cada blog será o seu nível de visibilidade. “Chegar ao primeiro milhão” não terá nada a ver com dinheiro, mas sim com o número de comentários postados. Todos comemorarão essas marcas, ao mesmo tempo em que torcerão para que outros não as alcancem. 

A inveja será o mal do homem-blogueiro. Mesmo unido pela mesma língua e pelos mesmos costumes, o homem do terceiro milênio não será muito mais honesto ou ético do que o de hoje. E assim, ao perceber que só pode contar com visitas esporádicas de amigos piedosos, enquanto outros blogs estão bombando, ele terá uma atitude profundamente indigna. 

Este homem invejoso e medíocre, esse fracasso como blogueiro, como seria em qualquer outra profissão, este ser vil e desprezível, para não passar a vergonha de ter um blog invisível e impotente, gastará horas intermináveis entrando e saindo de seu próprio blog e, infâmia das infâmias, criará infinitos e-mails e com eles postará uma profusão de comentários, predominantemente elogiosos. 

Dizem que notícia ruim corre mais rápido. Pois hábitos ruins também. Em pouco tempo a fabricação de visitas e comentários a seu próprio favor se tornaria um hábito comum entre blogueiros mal-sucedidos, a maioria. 

Tamanha dedicação ao seu próprio e ridículo blog demandaria muito tempo e afastaria definitivamente a maior parte dos blogueiros dos blogs bem feitos, que de uma hora para outra se veriam esvaziados. Confusos, alguns donos desses bons blogs não entenderiam porque estariam sendo abandonados e, tentados pela vaidade, também criariam e-mails falsos para manter as aparências. 

Finalmente, a evolução da equação binária homem-blog chegaria à sua fórmula final: nas ruas desertas e perigosas, tomadas pela hera, habitadas apenas por errantes e maltrapilhos sem-net, só se verá desolação e decadência. Há muito os homens terão perdido a habilidade de fabricar carros ou manter a luz elétrica.


Olho o futuro distante e vejo, fechados em quartos sujos e malcheirosos, com a pele escurecida pela poeira, seres humanos que tamborilam freneticamente em teclados ensebados. Postam, copiam, colam, postam, copiam, colam, abrem seus outros e-mails, comentam, respondem, comentam, respondem, atualizam, começam tudo de novo. 

Sorriem sozinhos, com seus dentes esverdeados, e soltam sons guturais de prazer quando alcançam marcas múltiplas de um milhão. Fingem brigar com seus heterônimos, imaginam o que os outros vão pensar quando lerem o seu blog – mas na verdade há anos não são lidos por mais ninguém, a não ser por si mesmos.


Esqueceram a língua falada. Estão condenados a se comunicar pelo idioma sintético que um dia foi chamado de “O Esperanto que veio dos blogs”, mas não passa de um código rústico e inculto, que amputou as belezas da língua. Não podem mais definir a multiplicidade das sensações. Faltam imagens, adjetivos. Tudo que é ruim, de saudade a assassinato, é “maus”, tudo que é bom, de amor a sexo, é “belê”. Calculam quanto tempo falta para a morte e dividem pelo tempo que leva para produzir cada post.



(*) Trabalhou 31 anos como jornalista. Hoje é escritor, com 11 livros publicados.






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