#CaféLiterário: Livro Guardei no Armário debate aceitação LGBT, autoestima do negro e religião

dezembro 10, 2017


A pauta LGBT na internet é muito diversa. Existem canais no Youtube, blogs, sites, páginas e perfis nas redes sociais sobre todos as letras que envolvem o universo LGBT, o que é muito bacana. Mas, mesmo assim, ainda há poucos LGBT’s negros com visibilidade suficiente na rede para debater essa temática. E foi nessa procura por representatividade que me deparei com o trabalho do Samuel Gomes, mais especificamente do livro “Guardei no Armário” que, por sinal, é o mesmo nome do canal dele no Youtube. Para comprar o livro, clique aqui.

O mais interessante do livro do Samuel não é apenas o tom autobiográfico, mas sim a narrativa dele de querer mostrar que o jovem negro LGBT, de periferia e, muitas vezes, vindo de uma religião cristã ultraconservadora – que mais segrega do que acolhe; é capaz de fazer na cabeça de uma pessoa que está em pleno processo de construção da sua identidade, da sua autoestima e, principalmente, da sua sexualidade.

Samuel cresceu em uma comunidade evangélica muito rígida, porém com pais amorosos o suficiente para entender que o amor verdadeiro está quando amamos o outro como ele é, e não como alguém diz que deve ser o amor apenas para alguns escolhidos de uma determinada corrente religiosa por meio de uma interpretação, muitas vezes equivocada, dos ensinamentos bíblicos.

A grosso modo, Freud fala que todo o desarranjo da humanidade está na repressão da sexualidade. Se reprimir porque a Igreja quer, porque não quero desapontar o outro, é o pior pecado que podemos fazer a nós mesmos. É claro que precisamos entender que não ser uma pessoa reprimida significa ser libertino ou ainda desrespeitoso com o outro. Não é isso.

A partir do momento que nos permitimos ser nós mesmos e entendermos a natureza da nossa sexualidade, conseguimos ser pessoas mais felizes e verdadeiras. E falo isso sobretudo na questão da orientação sexual. Todo LGBT passa por isso na vida. Por termos uma educação cultural heteronormativa (e muitas vezes, machista e também preconceituosa), acabamos colocando no armário os nossos desejos e não vivemos uma vida plena, de descobertas sexuais e afetivas que todo jovem deve e precisa ter.

Samuel narra isto de uma maneira muito intimista e nos faz pensar muito sobre essa questão de aceitação, de autoestima e de amor à família e aos amigos. Mais que um livro, Samuel transformou o “Guardei no Armário” em um projeto transmídia, pois além de fazer palestras, ele mantém vídeos de forma regular em seu canal no YouTube que conta outras histórias de superação de LGBTs que passaram pela fase da aceitação e da “saída do armário”, o que nem sempre é fácil para todo mundo.

Além de contar com o apoio dos amigos mais próximos, Samuel narra que foi na internet que encontrou respostas para as suas primeiras dúvidas a respeito da sexualidade. Foi na web que ele viu, pela primeira vez, que haviam outros rapazes que também passavam pelo mesmo processo de descoberta tendo como conflito principal a questão da religiosidade como desafio social e pessoal para sair do armário.

Mas, foi graças ao projeto Purpurina, uma ONG em São Paulo que trabalha muito a questão da aceitação LGBT com jovens e os seus familiares, que Samuel conseguiu reunir forças para se auto aceitar e, desse modo, sair desse primeiro armário social e familiar, apesar dele mesmo ter se deparado com muitos outros armários que precisavam ser deflorados, como a questão racial em que ele mesmo cita que algumas igrejas evangélicas fazem questão de demonizar, colocando a cultura afro como algo menor ou impróprio, o que é um desserviço social. 

No mais, o livro “Guardei no Armário” é um importante instrumento de autoajuda para jovens negros LGBTs periféricos que ainda estão no processo de descobertas. O livro mostra ainda a importância de se construir uma rede de amigos para se fortalecer emocionalmente e, mais do que isso, orienta pais a serem mais carinhosos e amigos dos seus filhos, observando-os e os aceitando da maneira que eles são. Afinal, somos todos iguais nas nossas diferenças. 




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Jornalista

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