Ao optarmos pelo curso de Jornalismo, na época do vestibular, a maioria dos calouros acredita que, ao sair da faculdade, estará apto a desempenhar a função de repórter com bastante desenvoltura e habilidade, independente se for mídia impressa ou eletrônica. Alguns conseguem essa façanha, outros não. Culpa da faculdade? Do aluno? Não. Infelizmente ou felizmente, ser repórter é uma prática. Se você, como jornalista, não exercita essa habilidade, provavelmente, terá dificuldade, caso ocupe esse cargo algum dia.
No meu caso, por exemplo, na época da graduação, nunca me interessei pela reportagem. Sempre gostei de produção, edição e assessoria de imprensa. Mas agora, que já tenho uma visão mais geral, percebo que é muito melhor para um produtor/editor ter experiência de repórter. É uma etapa importante que, se você tiver oportunidade de exercer, não deve menosprezar. Achava um saco e uma forma de exibicionismo. Ledo engano - babaquice da minha parte. Após ficar um breve período desempregado, descobri a reportagem quando resolvi fazer pós-graduação e ao aparecer trabalhos como jornalista free lancer nessa área, principalmente de web e impresso. Tive que perder o medo. Arrisquei. Entretanto, é preciso ter humildade para ouvir os conselhos dos mais experientes e observar muito o trabalho dos colegas e tirar o melhor de cada estilo ou possibilidade (criativa) de montar uma matéria.
Outro dia, uma amiga minha jornalista me mandou o link do video, postado no Youtube, do Repórter Inexperiente, do programa CQC, da TV Band, exibido todas as segundas-feiras, a partir das 22h. Confesso que até hoje não assiti a atração na TV, somente vi os videos postados na web. No sábado (03/05), tem reprise. Então, quero convidar os que não assistiram na segunda-feira, como eu, a dar uma passada lá na Band.
Mesmo pelo tom humorístico que o quadro possui, o Repórter Inexperiente é uma aula de reportagem em telejornalismo (para os jornalistas) de como não se portar diante de uma fonte ou entrevistado. A postura cênica de Danilo Gentili, ator que interpreta esse personagem, com toda a sua timidez e voz baixa, resgata, pelo menos para mim, toda a essência do jornalista iniciante que é jogado aos tubarões do mercado de trabalho.
Atire a primeira pedra o jornalista que nunca passou pelos embaraços do Repórter Inexperiente ao entrevsitar uma personalidade, político influente ou até memso uma fonte oficial (ou oficiosa) por puro nervosismo e falta de experiência com a profissão? Todo jornalista que se preze já passou por isso - é normal e faz parte do aprendizado. Só que ver o erros dos outros ou a falta de profissionalismo, reunidos dentro de um personagem incrivelmente tímido, fica engraçado - ainda mais quando essas características são ressaltadas pelo humor "stand up" do CQC. Lembrei da minha primeira matéria de TV e de Rádio que foram um fracasso, com a locução introvertida, com o off gigantesco, todo desengonçado na passagem e umas sonoras (fala do entrevistado) que se contra-diziam com os offs. Superei os defeitos somente quando aceitei os pontos que deveria melhorar. Observar é tudo! Se você não colocar a cara à tapa nunca vai aprender - faz parte da profissão.
Em contra-partida, há outro personagem que também é um show de humor e que também merece ser encarado como um aprendizado, só que para os repórteres mais experientes. Trata-se do Repórter Egocêntrico. Ele entrevista celebridades, políticos, artistas, enfim...e sempre quer sobressair alguma qualidade dele para o entrevistado. É cómico. Mas quando um jornalista vai para rua e vira repórter vê um tanto de colega fazer isso, ou pior: você se reconhecer no personagem e vestir a carapulsa - é terrível. Sem querer, quem nunca se pegou egocêntrico? Tem gente que faz por maldade porque gosta de "crescer" para cima dos outros, já uns fazem isso inconscientemente. O "semancol" tem que ficar ligado 24 horas...rs
Com esses dois paradoxos de profissional, tanto o inexperiente, quanto o egocêntrico, comecei a refletir sobre a minha postura profissional. Principalmente, quando nos deparamos com profissionais que tem anos de mercado ou ainda estão "verdes" no jornalismo. Às vezes, se você dá um toque num colega de profissão sobre um detalhe, sem que ele lhe pedir, pode soar egocêntrico. Todo cuidado é pouco nessa hora. Ou ainda, quando você vê um jornalista que admira, na rua ou numa coletiva, e de repente, congelar e dar uma travada, pura e simplesmente por se dar conta de que, naquele momento, ambos são jornalista e que conseguiu realizar o seu sonho. Daí, perto de quem já tem mais tempo no mercado, você ainda é inexperiente - querendo ou não. É preciso dosar ética, respeito e profissionalismo. Ser repórter é uma delícia, mas precisa de prática, vontade e humildade para aprender e se superar.
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Essa semana eu volto com mais Café com Notícias.
Jornalista