A amizade e as relações humanas nunca tiveram tão em evidência na programação da TV aberta neste início de ano. 2008 mal começou e os telespectadores foram convidados a apreciar duas produções distintas, não só de conteúdo e de formato editorial, mas que valorizam essas questões. A oitava edição do Big Brother Brasil (BBB 8) e a minissérie Queridos Amigos conquistaram o Brasil: a primeira, pela ausência de carisma da maior parte dos participantes - que resolveram entrar na competição armados e preocupados mais com o parecer, do que o ser; e a segunda, pela qualidade do texto e dos atores envolvidos numa produção simples, mas muito, muito bem feita, como há muito tempo não se via na televisão.
O BBB 8 começou morno. Se não fosse o excesso de sinceridade combinado com um tanto de ergocentrismo do Dr. Marcelo, o reality show teria morrido na praia. Os participantes ficaram tão travados e preocupados com a a opinião pública que houve uma antipátia generalizada por boa parte dos brothers. Um salve de honra ao mérito deve ser dado à gaúcha Nathália - que foi a que menos teve medo de se mostrar e se permitiu aos erros humanos, como o Marcelo. Para mim, seriam esses dois os finalistas pelo fator autenticidade, carisma e persoanlidade.
O músico de Campinas Rafinha - que levou a bolada dos R$ 1 milhão, e que estava entre os três finalistas, também foi um dos poucos que se permitiram errar e a aceitar que o Big Brother é um jogo da convivência. Rafinha, se pararmos para analisar, até que merece a bolada: ele viveu um intenso teste de fidelidade - pior do que o João Kléber fazia antigamente na Rede TV!. As meninas da Casa agarravam o menino e relavam nele o tempo todo. Mas o rapaz foi forte. Apesar de ter encarnado o personagem do adolescente que "sofre" com o calor dos seus hormônios, Rafinha teve a sua história dentro do programa. Se permitiu ser protagonista da sua vida.
Já a modelo cajuína Gyselle, que venceu no segundo lugar, entrou muda e saiu calada. O Brasil se encantou pela representante nordestina, prova disso foi o número expressivo de votos que a deixou todo esse tempo na competição. Mas, infelizmente Gyselle deve o seu sucesso à Marcelo, seu grande antagonista. Além de ser muitas vezes sem-educação e grossa com outros participantes, Gyselle se isolou. Quis fazer papel de vítima. Para mim, não colou. Foi uma estratégia de jogo, de sobrevivência. Aliás, porque jogar no Big Brother é feio? Os participantes não estão num jogo? Não que eu seja maniqueísta e deseja ver mocinhos e bandidos. Não é isso. Jogar faz parte da vida. No caso, é a essênia da atração. Jogar com as emoções e ter como aliada as relações humanas.
E por falar em relações humanas e emoções, Queridos Amigos foi uma das melhores minisséries que a TV Globo já colocou no ar. Simples e direta, ela bateu num ponto forte: as relações humanas. Muitos roteiristas tem dificuldade de passar as emoções para o papel e se miram em colocar as fórmulas de sucesso que estamos cansados de ver: o núcleo da periferia que alavanca a trama, seja no humor ou no drama; o sexo; a violência e as tão corriqueiras cenas de ação cheias de efeito especial.
Claro que escrever ação é complicado. Mas, escrever emoção é muito mais. E escrever sobre a amizade e a lealdade, que são sentimentos tão intensos, é algo que merece ser aplaudido. Lembro de uma fala que os mais velhos usam que ilustra muito bem essa história: "é precisa saber fazer o arroz com feijão de cada dia, que é o básico, para querer inovar". Como inovar se você não domina a essência? Não que o arroz e feijão sejam essência. Não é isso. É que fazer o simples é, antes de tudo, algo grandioso. Quem não se identica com os amigos? Quem não tem amigos? Quem não sofre ou sorriu com e por eles?
Me senti parte da Família do Léo e companhia. Vivi os conflitos. Entrei no texto. Me apaixonei com cada fala, cada representação. Os amigos brigam, choram e riem. Quem nunca teve melhores amigos? Não entendi a vinheta de abertura, confesso. Achei estranha. Faltou um algo mais, um atrativo que remetesse a idéia de amizade. Fique com remorso por não ligar para amigos distantes. De prestigiá-los mais vezes. De combinar uma reunião para jogar conversa fora. Ainda bem que existe Orkut e outras tantas ferramentas eletrônicas que nos deixam, de uma forma ou outra, próximos. Mesmo que seja uma distância física, mas não espiritual. Vi que a vida é muito efêmera - se não a vivermos, ela evapora. A minissérie falou disso tudo, do resgate da boa e velha amizade.
Como canta Milton Nascimento,
"sei que nada será como antes (...)".
Essa semana eu volto com mais Café com Notícias.
Jornalista